Filho do Jogo - Episódio 09
“Dezena Fatal”
Abertura:
CENA 01: (Mansão dos Veiga. Sala de estar. Interior. Dia.)
• Nos aproximamos da sala, onde a família segue muito abalada e Rico segue fazendo um escândalo em frente à Mauricéa. Toda a equipe do jornal ao fundo, sendo expulsa à força pelos seguranças da casa.
RICO (Chorando/Ódio): ANDA, MAURICÉA, ME EXPLICA ESSA PORRA! EU SOU TEU FILHO?!
• Mauricéa abaixa a cabeça, chorando.
MAURICÉA (Chorando): É, Rico… isso é verdade.
• Em Rico, profundamente abalado, traído, furioso por ter a verdade escondida dele. Ele encara Mauricéa e Cátia ao mesmo tempo, esperando uma explicação.
RICO (Chorando): Mãe… você sabia disso?
CÁTIA (Em prantos): Eu sabia, meu filho…
• Rico entra em surto após saber daquilo, ele vai até a TV e vira ela brutalmente no chão, revoltado.
RICO (Em prantos): POR QUE VOCÊS FIZERAM ISSO COMIGO? POR QUE VOCÊS ME ESCONDERAM ISSO A VIDA TODA?!
CÁTIA (Em prantos): EU ESCONDI ISSO DE VOCÊ PRA TE PROTEGER, RICO! A Mauricéa…
MAURICÉA (Abalada): Não, pode deixar que eu mesma conto essa história, Cátia. Rico… eu engravidei muito jovem, eu tinha só 14 anos e eu não podia deixar a minha vida acabar naquele momento, não mesmo… Bom, a Cátia era costureira de confiança da nossa família e sempre tentou ter um filho, nunca conseguiu, e então… eu te dei pra ela criar.
RICO (Chorando): Puta que pariu… EU ODEIO VOCÊS! ODEIO VOCÊS! NENHUMA DE VOCÊS É A MINHA MÃE!
CÁTIA (Em prantos): Meu filho, não fala assim…
RICO: EU NÃO SOU SEU FILHO, VOCÊ É UMA MENTIROSA DO CARALHO!
• Cátia chora desesperadamente pelo perdão de Rico, enquanto é acolhida por Paulão e Kelly.
RICO: E quanto ao meu pai, Mauricéa? Você vai me esconder isso também, sua desgraçada? É o Alaor? É o mesmo pai do Marcinho?!
MAURICÉA: Não, eu não vou… eu pretendia te esconder isso a vida toda, Rico, mas agora, com tudo o que você sabe, não vai demorar muito pra você descobrir quem é ele.
• Instrumental tenso. Super close no rosto de Mauricéa.
MAURICÉA (Abalada): O seu pai é o Batista, Rico.
• Todos na sala ficam em silêncio, paralisados, chocados com a notícia. Focamos em Rico, que volta a lacrimejar de ódio.
RICO (Chorando/Ódio): O quê… AQUELE DESGRAÇADO É O MEU PAI?! Para com isso… você tá mentindo pra mim de novo, DIZ QUE VOCÊ TÁ MENTINDO!
MAURICÉA: Infelizmente não, eu não tô mentindo… você e o Marcinho são irmãos por parte de pai. Ninguém da família soube, mas a minha irmã, Yara, mãe do Marcinho, engravidou do Batista, não do Ailton… e eu segui o mesmo caminho. O Batista tinha alguma tara em se relacionar com as mulheres da nossa família e… eu fui mais uma idiota que não resistiu aos encantos dele. E essa é a verdade, Rico. Você é uma aberração, você é fruto de uma aberração…
• Rico se ajoelha no chão, chorando muito.
RICO: DESGRAÇADA! VOCÊ E ELE SÃO DOIS DESGRAÇADOS! ESSA FAMÍLIA INTEIRA É UMA DESGRAÇA!!!
MAURICÉA: Apesar de tudo, Rico, eu te amo e fiz de tudo pra te proteger. Ou por que você acha que você não morreu até agora? Por que você acha que eu não te matei quando tive oportunidade? Porque, do meu jeito, eu te amei como um filho!
RICO: GUARDA A PORRA DO SEU AMOR PRA VOCÊ, SUA VAGABUNDA!!! E foi por isso que você matou o Alaor, não foi? FOI PRA ESCONDER ESSA PORRA DE PASSADO QUE VOCÊ TEVE.
MAURICÉA: EU NÃO MATEI O ALAOR!
RICO: FOI VOCÊ SIM, NÃO RESTAM DÚVIDAS QUE FOI VOCÊ.
• Helena se aproxima deles, imponente.
HELENA (Gélida): Rico, a Mauricéa é uma mulher baixa e manipuladora, eu não confiaria em uma palavra que ela diz. Mas, bem… a minha missão aqui tá cumprida. As provas estão nas suas mãos, nesse pendrive. Boa sorte pra você…
• Helena se vira e anda em direção à porta. Mauricéa, irada, arremessa um vaso na direção dela.
MAURICÉA: FILHA DA PUTA! DEMÔNIA!
• Helena manda um beijinho, debochada, e se retira.
RICO: Você vai ser presa pelo crime que você cometeu, porra… VOCÊ VAI PAGAR MUITO CARO POR TER ME ENGANADO A VIDA TODA.
• Mauricéa chora em frente a ele, vulnerável. Rico a deixa de lado e vai em frente à Cátia.
RICO: Eu deveria fazer da sua vida um inferno também, mas eu não consigo… mas não pensa que você vai continuar debaixo do meu teto, Cátia, nem você e nem o Paulão…
PAULÃO (Furioso): RESPEITA A SUA MÃE, CARALHO, QUE ELA TE CRIOU A VIDA TODA, E EU TAMBÉM! A GENTE NUNCA TE DEIXOU FALTAR NADA!
RICO: Mas me impediram de conhecer a minha verdade, e se eu não descobrisse sozinho, vocês estariam me escondendo essas coisas até hoje… CHEGA DISSO! CHEGA!
• Cátia chora muito, e Paulão e Kelly encaram Rico, revoltados. Mauricéa chora em silêncio no sofá. Maria Brunessa encara tudo, chocada. Focamos por último em Rico, chorando de ódio com tudo aquilo. Nos afastamos da família, destruída. A cena escurece.
DIAS DEPOIS…
CENA 02: (Presídio. Interior. Dia.)
• A cena clareia e vamos nos aproximando de um grande presídio, adentramos nele. Nos aproximamos de uma fila de detentas em um dos corredores e passeamos entre elas, até acharmos Mauricéa no meio de todas ali. Acompanhamos a trajetória dela na cadeia. Ela bate as fotos com a placa na mão, escrita: “Mauricéa V. de Oliveira - art. 121/211”. Corte para ela deixando todos os seus pertences com uma carcereira e trocando as suas roupas pelo uniforme do presídio. Após isso, ela é guiada imediatamente até a sua cela. A carcereira empurra ela pra dentro, atraindo as outras detentas. Mauricéa visivelmente enojada e com medo do lugar.
DETENTA 01: Olha só, carne nova no pedaço, e essa é da boa, hein…
DETENTA 02: Bem tratada ainda por cima, olha essas mãos de quem nunca lavou um banheiro na vida.
MAURICÉA (Medo): Pelo amor de Deus, não faz nada comigo! Eu faço o que vocês quiserem!
DETENTA 01: Relaxa, patricinha, quem decide o que vai acontecer ou deixar de acontecer é a chefona ali, a Lourão.
• As detentas saem da frente e revelamos a chefe da cela: Lourão (Paloma Duarte), fumando um cigarro e encarando Mauricéa com certa malícia. Mauricéa a encara de volta, receosa.
LOURÃO: Bonjour, princesinha… caralho, cê é um filé, hein?
MAURICÉA (Constrangida): Mais respeito, por favor.
LOURÃO: Do jeito que tu quiser, princesa.
• Ela se aproxima de Mauricéa e estende a mão para ela, sorrindo, galanteadora. Mauricéa aperta e Lourão a puxa para um abraço, fala no ouvido dela.
LOURÃO (Baixo): Você vai gostar muito daqui, eu te prometo… se tu colar comigo, vai ser melhor ainda.
• Elas saem do abraço e Mauricéa a encara novamente, tentando decifrá-la.
CENA 03: (Mansão dos Veiga. Exterior. Dia.)
• Nos aproximamos da saída da mansão, onde Rico e Maria Brunessa acompanham Cátia, Paulão e Kelly saindo com malas de lá.
CÁTIA (Triste): Apesar de tudo, Rico, eu queria te agradecer pela casa que você comprou pra gente lá em Copacabana, eu não esperava… muito obrigada.
• Rico não responde, apenas encara Cátia com indiferença. Ele repara em Kelly.
RICO (Gélido): Kelly, minha irmã, você não precisa ir embora se não quiser… você não me enganou, não mentiu pra mim. Pode ficar aqui.
KELLY: Não, Rico. Eu não vou ficar na mesma casa que um homem ridículo que deixou o dinheiro subir pra cabeça e agora se sente no direito até de humilhar a própria família.
RICO: Eu tive os meus motivos, você viu.
KELLY: Então fica com eles pra você. Fica aí, tu e essa loira falsa dos infernos.
MARIA BRUNESSA: Amiga, eu já falei que nada disso foi culpa minha, eu não escolhi me apaixonar pelo Rico…
KELLY: Deve ter sido culpa da alma da minha bisavó, que reencarnou e decidiu juntar o teu destino com o do Rico. Vai tomar no cu, garota.
• Rico respira fundo, tentando ser paciente.
RICO: Olha… o motorista já tá vindo buscar vocês.
KELLY: A gente não precisa de nada seu, Rico. O Marcelo já tá vindo buscar a gente.
• Uma buzina é escutada do portão, é o carro de Marcelo que estaciona ali. Paulão abraça Cátia e eles vão na frente, tristes. Kelly vai logo atrás, levando algumas malas mais pesadas. Todos entram e o carro de Marcelo parte dali. Focamos em Rico e Maria Brunessa olhando o trajeto do carro.
RICO: Quem diria, meu amor, você foi a única companhia que me restou…
MARIA BRUNESSA: Se tudo aconteceu assim, é porque era pra ser assim, vida.
• Eles se abraçam e se beijam, e adentram a casa.
CENA 04: (Casa dos Silva. Quarto Maria Joana. Interior. Dia.)
• Vemos Maria Joana e Luciane em frente a um espelho da casa. Maria Joana alisa a sua barriga, ainda pequena, e Luciane olha aquilo, emocionada.
MARIA JOANA (Sorrindo): Olha só, mãe… ainda não cresceu tanto assim, né?
LUCIANE (Emocionada): Ainda não, minha filha, mas logo você vai ver esse serzinho mais lindo do mundo crescendo dentro de você!
MARIA JOANA: Eu já me sinto… como eu posso dizer? Mãe. (Rindo/Emocionada): É isso, eu já me sinto mãe!
• Luciane a abraça, elas sorrindo, felizes. De repente, podemos ver Luciane ficando preocupada.
LUCIANE: E você não vai mesmo revelar pro Rico que ele é o pai dessa criança?
MARIA JOANA (Aflita): Não, mãe, não dá. Eu queria muito que o meu filho crescesse com um pai ao lado dele, mas eu não posso deixar ele crescer no meio daquele antro de bicheiros. Vai ser perigoso pra ele e eu não quero que o meu filho cresça assim, ele não merece isso.
• Luciane assente com a cabeça, concordando com a filha e a abraçando novamente.
MARIA JOANA: Agora vamos correr porque a gente tem que buscar as fantasias lá na fábrica! Tem que estar tudo lindo pros nossos ensaios abertos de Carnaval lá na Unidos. Faltam 3 meses só, a gente tem que se preparar como nunca antes!
LUCIANE: Então vamos, deixa eu só pegar a minha bolsa!
• Luciane se retira e Maria Joana permanece no quarto, esperando ela. Olha sua barriga, emocionada.
CENA 05: (Comunidade. Ruas. Exterior.)
• Nos aproximamos das ruas da comunidade, onde Caveira vem andando ao longe junto com outro traficante. Eles caminham, conversando, até que Caveira passa por um grande cartaz estampado num dos muros dali.
CAVEIRA: Peraê, cara!
TRAFICANTE: Qual foi, man?
CAVEIRA: Olha isso aqui… (Lendo): ensaios abertos da Unidos de Cantagalo, sábado a partir do meio-dia…
TRAFICANTE: Tava sabendo ainda não, man? Vai ser mó sucesso isso aí, acho que vai tá a favela toda lá, e ainda vai ter aquele bicheiro novo lá, o Rico.
CAVEIRA (Sorrindo): E como é que tu não me fala uma coisa dessa antes, pô?! Essa vai ser a ocasião perfeita pra botar o plano do Batista em prática. Peraí.
• Caveira pega o seu celular e liga para Cantagalo.
CAVEIRA: Alô, chefe? Fala com o Batista aí, man. Nóis já tem a data perfeita pra botar aquele plano dele em prática. Esse final de semana vai rolar um eventão aqui na favela e…
• A cena fica muda enquanto Caveira explica tudo para Cantagalo. Vamos nos afastando.
CENA 06: (Carro de Batista. Interior. Dia.)
• Batista no seu carro, recebe uma ligação. Ele pega o celular e vê que é Cantagalo, logo atende.
BATISTA: Fala rápido que eu tô ocupado.
CANTAGALO (V.O. Telefone): Boa tarde pra tu também, caralho. Olha só, nós aqui já tem o dia pra tu travar tua guerra com o Rico, tá?
BATISTA: E vai ser quando?
CANTAGALO: Esse final de semana.
BATISTA: Já?! Por quê?
CANTAGALO: É agora ou nunca, irmão. Vai ter um evento lá na escola de samba da comunidade, vai tá a favela toda lá, inclusive o Rico. É a oportunidade perfeita pra fazer o estrago e dar fim na vida do bicheiro.
BATISTA: Tá bem, então… tá confirmado. Sábado a gente vai fazer essa porra. Agora dá licença, porque eu preciso resolver uma coisa importante.
• Close aéreo no carro de Batista estacionando em frente a um presídio.
CENA 07: (Presídio. Interior. Dia.)
• Mauricéa sentada num canto, longe das demais detentas que conversam entre si. Mesmo afastada, Mauricéa ainda troca uns olhares com Lourão. O clima delas é interrompido por uma carcereira, que adentra a cela, chamando Mauricéa.
CARCEREIRA: Tem visita pra tu, princesinha.
MAURICÉA (Em choque): J- já?!
CARCEREIRA: Tu vai ver quem é ou não vai?
• Mauricéa se cala e acompanha a carcereira. Ela é guiada até a sala de visitas. As detentas olham aquilo, intrigadas.
DETENTA: Será que já vai ser solta?
LOURÃO: Espero que não… (Rindo): seria uma pena deixar essa princesa sair daqui sem dar uns beijos nessa boca gostosa dela.
• Ela ri com as outras detentas.
CENA 08: (Presídio. Sala de visitas. Interior. Dia.)
• Na sala de visitas, Batista espera ansiosamente por Mauricéa. Até que uma carcereira leva ela até a sala. Ao ver Batista ali, Mauricéa recua, surpresa. A carcereira deixa ela ali e ela vai até Batista, se senta em frente a ele.
BATISTA: O que foi? Tá com medo de mim?
MAURICÉA: Você veio aqui só fazer graça?
BATISTA: Não… eu só vim saber como você se meteu nesse buraco. É sério que você matou o Alaor, Mauricéa? Eu sei que você não amava o seu marido, mas puta que pariu…
MAURICÉA: Eu acho engraçado como todo mundo me julga sem saber os motivos que eu tive pra fazer o que eu fiz…
BATISTA: Ah, é? E o que te fez acabar com a tua vida desse jeito?
MAURICÉA: É mais complicado do que você imagina, mas o Alaor acabou descobrindo algumas coisas que ele não deveria descobrir.
BATISTA (Rindo): Que vocês são mãe e pai do Rico? Que você escondeu esse filho dele a vida toda?
• Mauricéa ri.
MAURICÉA: Coisa pior, mas enfim… tu só veio aqui pra isso? Pra me questionar?
BATISTA: Não, eu vim pra te tirar daqui!
• Mauricéa ri novamente, segurando a mão dele.
MAURICÉA: Obrigada, mas eu não quero.
BATISTA (Incrédulo): O quê?! Você tá doida?
MAURICÉA: Talvez, querido, talvez… é que o mundo lá fora tá bem pior do que aqui dentro. Aqui eu tô blindada de tudo, de todos…
BATISTA: Aqui tu tá em perigo, caralho! Tu sabe se tem algum rival da tua família aqui dentro?
MAURICÉA: Foda-se se tiver, Batista! Eu não me importo mais com nada… (Chorando): A essa altura a minha vida já é um livro aberto que todo mundo pode acessar, e isso é uma merda.
• Batista olha para baixo, se sensibilizando por ela.
BATISTA: Olha… eu vou pegar as áreas do Rico lá no Cantagalo, vou matar aquele desgraçado que tá fazendo esse inferno na tua vida e volto pra te buscar!
MAURICÉA (Desesperada): NÃO, BATISTA! Não faz isso!
BATISTA: Por quê?
MAURICÉA (Desespero): Eu só te peço isso… não faz nada com o Rico, NÃO FAZ NADA COM O RICO PORQUE ELE É O NOSS///
• A porta da sala se abre com tudo nesse instante, uma carcereira já gritando o nome de Mauricéa.
CARCEREIRA: MAURICÉA VEIGA! Bora pra cela de novo…
• Mauricéa chora por não conseguir revelar o que queria, a carcereira já entra lhe puxando e levando-a para fora. Batista a olha, confuso.
BATISTA: O Rico é o nosso… pior inimigo. É isso que ele é…
• Ao som de um instrumental tenso, o anoitecer chega no Rio de Janeiro. Passeamos pela cidade à noite, até pararmos na fachada da mansão dos Veiga.
CENA 09: (Mansão dos Veiga. Suíte Casal. Interior. Noite.)
• Rico faz uma massagem nas pernas de Maria Brunessa enquanto ela mexe no celular. Eles conversam.
MARIA BRUNESSA: Amor, você não vai acreditar no bafo que eu tenho pra te contar! Fechei uma publi pra uma marca de maquiagem esse sábado! Eu vou gravar junto com aquelas meninas… as Loucas do Táxi!
RICO (Sorrindo): Que bom, amor… mas eu só esqueci de te avisar uma coisinha. Sábado a gente vai ter um compromisso muito importante lá na comunidade, mas é só a partir do meio-dia.
MARIA BRUNESSA: Ainda bem que a minha publi é de manhã, more! Mas olha… não tô nada afim de ir pra lá pra comunidade. Todo mundo lá me odeia.
RICO: Mas você sabe que você é melhor que todos eles, não sabe? E outra, eu acho que você vai gostar muito desse evento. São os ensaios abertos pro Carnaval da Unidos de Cantagalo.
MARIA BRUNESSA (Sorrindo): Eu só vou pra esse negócio porque você me colocou como rainha de bateria do lado da Maria Joana, pra mostrar pra ela que eu sambo muito melhor!
RICO (Sorrindo): Claro, meu amor, e além disso tem outra coisa…
• Rico para a massagem e pega uma caixinha na gaveta da sua bancada. Ele a abre e vemos um anel brilhante e refinado.
RICO (Sorrindo): Casa comigo no meio da Sapucaí?
MARIA BRUNESSA (Chocada): O QUÊ?! MEU DEUS, EU NÃO ACREDITO! É CLARO QUE EU ACEITO, RICO!
RICO: A gente vai mostrar pra todo mundo ali que nós somos o melhor casal do Brasil, e que nós somos melhores que todos eles.
• Ele coloca o anel de noivado no dedo de Maria Brunessa e ela o beija. Eles se deitam juntos e seguem se beijando, o clima esquentando. Rico já deita por cima de Maria Brunessa e ela mordisca a sua orelha, deixando ele atiçado. Eles se beijam loucamente e começam a se despir. Rico desce distribuindo beijos pelo corpo de Maria Brunessa até chegar entre as pernas dela. A partir dali, ela puxa o cobertor para cima, cobrindo-os. Ouvimos apenas os gemidos de prazer do casal. Vamos nos afastando deles…
CENA 10: (Fiat de Helena. Interior. Noite.)
• Helena e Caveira deitados juntos, conversando. Eles bebem uma taça de vinho.
CAVEIRA (Rindo): Caralho, sereia… que show foi aquele que eu dei lá na família dos bicheiros, hein?
HELENA: Ah, eu precisava daquilo pra me sentir melhor! Eu tô me sentindo outra pessoa, tô de alma limpa! Pena que eu só não dei uma bofetada na cara daquela demônia, porque era pra eu ter feito isso!
CAVEIRA: Mas pelo menos tu derrubou ela, pô. E agora o próximo alvo é derrubar o teu ex-marido… ele tá tramando uma guerra de área com o Rico lá na comunidade e eu tô torcendo pra ele levar a pior… sabe como é né, todo mundo tá sujeito a um tiro acidental.
• Eles riem, e brindam.
HELENA: Mas falando sério agora… esse tipo de coisa é muito perigosa, não é? Por favor, não vai se arriscar demais nisso… você é a única coisa boa que me restou nessa desgraça de vida.
CAVEIRA (Sorrindo): Relaxa, sereia… o teu gatão vai tá sempre aqui pra tu.
• Ela o beija.
CAVEIRA (Pensativo): Só que tem outra coisa me perturbando a cabeça… eu tô com uma ideia muito boa aqui.
HELENA (Aflita): O quê?
CAVEIRA: Se o Cantagalo rodar no meio dessa guerra, sereia… (Sorrindo): eu viro o novo dono do morro.
HELENA: Não me diz que você tá pensando em travar guerra com ele… (Desesperada): Por favor, Caíque, não faz isso! Por mim!
CAVEIRA: Não é isso, eu não vou brigar com ele diretamente… ele só vai levar uma bala perdida. Olha, pode ficar calma, tá, sereia? Esse jogo já tá ganho…
• Ele beija Helena novamente, tranquilizando-a, mas é sem sucesso. Ele se deita novamente, mas Helena não consegue nem pregar os olhos, aflita.
• Ao som de “Patrulha do Samba - Jacaré no Samba”, vamos acompanhando os moradores da comunidade do Cantagalo organizando o salão para o grande evento. Aos poucos, o salão vai ficando com uma decoração à nível de um desfile real de Carnaval. Vemos as fantasias chegando, sendo experimentadas, tudo se consolidando para o evento, às custas de Rico. Enfim, é chegado o grande dia, e já podemos ver o salão em plena empolgação.
CENA 11: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior. Dia.)
• As sambistas aquecendo alguns passos com Maria Joana à frente, enquanto o salão começa a lotar de gente. No meio da festança, Rico adentra o salão junto à Maria Brunessa. Eles são mal encarados por muitas pessoas, mas ignoram. Cortamos para o início dos ensaios, onde todos os sambistas já estão fantasiados e posicionados em seus devidos lugares. Roberval solta o som e se junta a todos para assistir ao ensaio. A apresentação começa, e focamos no samba lotado, em pura empolgação. Vamos nos afastando, até vermos tudo pelo outro lado da rua, onde um homem está observando tudo. Ele pega o seu telefone e faz uma ligação.
HOMEM: Alô, chefe? Tá tudo no ponto aqui… já pode começar a festa.
CENA 12: (Barraco-base. Interior. Dia.)
• Cantagalo ao telefone.
CANTAGALO: Positivo, irmão. Tô liberando a tropa aqui.
• Focamos em um monte de traficantes no barraco, em frente a Cantagalo, todos armados. Entre eles, está Ulisses, completamente tatuado com símbolos da facção.
CANTAGALO (Gritando): PODE IR COM TUDO LÁ PRA BAIXO, TROPA! VAI, VAI, VAI!!!
• Todos os traficantes vão saindo do barraco, com armas e equipamentos explosivos em mãos. Do lado de fora do morro, alguns pegam pedaços de pau, motos, carros, galões de gasolina, todo o necessário para fazer um caos na comunidade. Instrumental tenso. Voltamos o foco para dentro do barraco.
CANTAGALO: Daqui a pouquinho eles voltam aqui com a tua encomenda, chefão.
• A câmera dá um giro e revelamos Batista ali no barraco também, sentado, fumando.
BATISTA: É bom mesmo, porque hoje eu só saio daqui desse inferno com a cabeça do Rico na minha mão…
CENA 13: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior. Dia.)
• O samba segue rolando. No momento da apresentação, Maria Joana é quem tem o destaque, entregando tudo no samba. Em seguida, troca de lugar com Maria Brunessa, que já samba um pouco desengonçada, após isso, elas sambam lado a lado e acabam ficando frente a frente uma pra outra. Se encaram, rivais, e da plateia Rico também as encara. De repente, toda performance é encerrada por barulhos em série de tiros, repetidamente disparados pelos traficantes em frente ao salão. Pânico geral no salão, todos começam a correr desesperadamente. Alguns se abaixam e outros saem correndo do local. Focamos em algumas paredes da escola sendo alvejadas por tiros. Todos os que restaram no salão ficam abaixados no chão, tentando não serem atingidos pelos tiros.
CENA 14: (Comunidade. Ruas. Exterior. Dia.)
• Vemos algumas ruas da comunidade trancadas, feitas com pedaços de pau e alguns automóveis que são explodidos pelos traficantes com explosivos, congestionando todas as saídas possíveis. Alguns moradores que decidem sair correndo são atingidos e caem feridos no chão. Pelo meio da fumaça, outros traficantes correm, colocam fogo em algumas partes da comunidade, tacam um verdadeiro terror na favela, dominando a área. Ulisses, ajudando alguns traficantes, recebe um telefonema e corre para se esconder atrás de um muro, então atende.
ULISSES (Ofegante): Alô?!
BATISTA (V.O. Telefone): Pode trazer o Rico e a Maria Joana pra cá. EU QUERO ELES AQUI AGORA!
• Instrumental tenso. Foco em Ulisses, aflito.
CENA 15: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior. Dia.)
• Clima de desespero no salão. Todos abaixados no chão, suando, chorando, tremendo. Entre eles, Rico e Maria Joana. A fumaça exterior já começa a adentrar o local e os sons de explosões fora do salão apavoram todos ali dentro. De repente, um grupo de traficantes adentra o local e podemos ver pânico geral de todos.
RICO (Desesperado): PELO AMOR DE DEUS, NÃO FAZ NADA COM A GENTE! TÁ TODO MUNDO NA PAZ AQUI!
• Os traficantes que estavam na frente se afastam e um outro, que estava atrás deles, fica à frente, segurando um fuzil. É Ulisses. Todos se chocam com o seu novo visual de traficante, completamente diferente do que ele era. Closes alternados nos rostos dos moradores conhecidos vendo ele assim, decepcionados.
MARIA JOANA (Chocada): Ulisses… eu não acredit/
ULISSES: CALA A BOCA, PORRA!
RICO: ULISSES, CARA, NÃO PRECISA DESSA AGRESSÃO!
ULISSES: Cala a boca tu também, Ricardo! Eu quero vocês dois, o Ricardo e a Maria Joana, me acompanhando, bora que o chefe tá pedindo a cabeça de vocês lá em cima.
• Alternamos o close entre os rostos de Rico e Maria Joana, desesperados. Os outros moradores desesperados.
GLEICI (Chorando): ULISSES, QUE PORRA VOCÊ TÁ FAZENDO?!
LUCIANE (Chorando): Eu te vi crescer, menino! Pelo amor de Deus, deixa a minha filha aqui comigo!
ULISSES: PODE IR CALANDO A BOCA VOCÊS TAMBÉM AÍ, CARALHO! (P/traficantes): Coringa e Dominó, pode levar esses dois.
• Os traficantes rendem Rico e Maria Joana com armas, e levam os dois, desesperados, para fora do salão. Ulisses sai em seguida. Do lado de fora, podemos ver Ulisses adentrando um carro e assumindo o volante. Rico e Maria Joana são colocados dentro deste mesmo carro.
CENA 16: (Carro. Interior.)
• Ulisses dirigindo o carro. Maria Joana e Rico no banco de trás, ao lado, os traficantes, desesperados.
MARIA JOANA (Chorando/Desesperada): PELO AMOR DE DEUS, ULISSES! VOCÊ CONHECE A GENTE, NÓS SOMOS SEUS AMIGOS!
RICO (Desesperado): Cara, pelo amor de Deus… se o Batista tiver querendo a minha cabeça lá em cima, deixa que eu vou sozinho pra essa merda! Nenhuma outra vida precisa ser ceifada por causa disso!
ULISSES (Furioso): EU JÁ MANDEI CALAR A PORRA DA BOCA!
RICO: Pra que tu foi procurar entrar nessa vida, Ulisses? Porra, isso tá te matando aos poucos…
MARIA JOANA (Chorando): Ulisses, tu tava seguindo o caminho da medicina, tu tinha um futuro brilhante pela frente, tinha estudo, tinha oportunidade…
ULISSES: OPORTUNIDADE O CARALHO! Tu sabe quanto é que eu tô ganhando aqui no movimento e quanto é que eu tava ganhando no hospital? Nem se compara!
MARIA JOANA: Mas a troco de quê tu tá fazendo isso, porra?! Ulisses… você era uma inspiração! Um jovem preto que tava conseguindo entrar pra medicina, tu ia ser uma revolução, um orgulho pra todos nós, pra todos os pretos que querem seguir no caminho da honestidade, do estudo! Tu sabe quantos jovens, homens e mulheres pretos morrem de uma bala perdida? Sabe quantos policiais “confundem” a gente com criminoso e tiram a vida de inocentes?! TU TÁ CONTRIBUINDO PRA ESSA PORRA! TÁ CONTRIBUINDO PRA SOCIEDADE TODA PENSAR QUE O ÚNICO CAMINHO PRA PRETO É O CRIME, É A BANDIDAGEM, E NÃO É! A gente pode chegar onde a gente quiser, se cada um fizer a sua parte… mas você destrói uma boa parte do nosso progresso quando você entra pro tráfico, Ulisses…
• Ulisses visivelmente perturbado com a fala de Maria Joana. Ele se cala, um pouco constrangido, deixa uma lágrima escorrer.
ULISSES (Abalado): Cala a boca, por favor, que eu só tô fazendo o que me pediram…
• Maria Joana abaixa a cabeça, decepcionada, chorando, com medo. Pelas janelas do carro, é possível ver a destruição de toda a comunidade. Nos afastamos do carro, subindo o morro. Aviões da polícia e dos jornais já sobrevoam o local, e alguns traficantes atiram contra eles. O sol já se pondo ao fundo…
CENA 17: (Comunidade. Ruas. Exterior. Tarde.)
• Moradores da comunidade correndo pelo meio da rua, desesperados. Alguns deles são rendidos por traficantes no caminho, outros conseguem se esconder em algum lugar seguro, outros saem feridos. Entre os que correm, estão Kelly e Marcelo. Nos afastamos deles e vemos dois traficantes, de cima de uma laje, observando-os.
TRAFICANTE 01: Mano, tá vendo a pretinha ali?
TRAFICANTE 02: Que que tem ela?
TRAFICANTE 01: O filho do Batista, aquele Rafael, pediu pra dar cabo nela, man, parece que eles se desentenderam e ele pediu pra matar a menina.
TRAFICANTE 02: Se o filho do chefe pediu, então vai, né, mano.
• Acompanhamos Kelly e Marcelo pela mira da arma do traficante. Ele mira em Kelly e engatilha a arma. No entanto, Marcelo olha pra cima e consegue ver a arma mirada neles. Rapidamente ele se coloca na frente de Kelly, abraçando-a. Em câmera lenta, podemos ver o tiro saindo da arma e atingindo em cheio as costas do rapaz, que cai no chão, agonizando de dor. Kelly se ajoelha junto a ele, gritando por socorro, desesperada.
KELLY (Horrorizada/Desesperada): ALGUÉM ME AJUDA, PELO AMOR DE DEUS! ELE TÁ MORRENDO!
• Ela chora em cima dele, que sente muita dor e perde muito sangue. Vamos nos afastando deles…
CENA 18: (Comunidade. Igreja. Interior. Tarde.)
• Adentramos uma igreja, onde todos os fiéis presentes estão abaixados no chão, num canto, orando muito, entre choros e clamores enquanto esperam que o caos do lado de fora acabe. Tudo destruído dentro da igreja: as paredes marcadas por tiros e as cadeiras todas caídas no chão. Entre os fiéis, Ruth e Nadir. Quando, de repente, a oração dos fiéis é interrompida pela porta da igreja sendo arrombada, caindo com tudo no chão. Os fiéis ali presentes começam a gritar e orar mais alto ainda. Três traficantes invadem a igreja com explosivos, acendem e arremessam um deles em direção ao altar e o outro num canto da igreja. Uma explosão não tão grande acontece no local, mas já é o suficiente para destruir uma das paredes e deixar alguns fiéis feridos. Entre eles, Nadir.
RUTH (Gritando/Chorando): VÓ!!!
• Revoltada, ela se arrasta até a sua bolsa num canto da igreja e a abre, tirando a sua arma de lá. Todos os fiéis, mesmo em meio ao desespero, ficam chocados com o fato de ela portar uma arma de fogo. Sem que os bandidos percebam, Ruth consegue acertar em cheio os tiros na cabeça dos três, com uma habilidade quase de um ninja. Feito isso, a garota larga a arma no chão e se volta para a avó e os demais fiéis feridos.
RUTH (Desesperada): RÁPIDO, GENTE! A GENTE TEM QUE ESTANCAR AS FERIDAS AGORA! NÃO VAI DAR PRA NENHUMA AMBULÂNCIA VIR AQUI AGORA!
• Os fiéis que não se feriram começam a se mobilizar para ajudarem os feridos. Vamos nos afastando da cena…
CENA 19: (Barraco-base. Interior. Tarde.)
• Instrumental tenso. Vamos nos aproximando do barraco-base, até adentrarmos ele. Vemos Batista e Cantagalo juntos, sentados. Até que chega o momento em que a porta do barraco é aberta e Ulisses adentra com outros traficantes, trazendo Rico e Maria Joana, rendidos. Batista se levanta e se aproxima deles, sorrindo.
BATISTA (Sorrindo/Ardiloso): Chegou minha encomenda… podem amarrar eles.
RICO: Batista, você não precisa fazer essa merda… acaba com isso de uma vez!
BATISTA (Sarcástico): Nada disso, antes de tudo a gente vai se divertir muito!
MARIA JOANA (Chorando/Ódio): DESGRAÇADO! DOENTE!
BATISTA: A princesinha tá irritada? Pode ficar calminha, meu bem, que nada de ruim vai te acontecer… depende do que você considera ruim, né.
• Rico e Maria Joana são amarrados em cadeiras pelos traficantes, com a ajuda de Cantagalo. Batista pega uma arma numa mesa próxima.
BATISTA: Será que vocês não podem me dar uma licencinha, meus amigos? A conversa a partir de agora é particular aqui…
CANTAGALO: Vambora, tropa. Tamo no andar aqui de baixo, qualquer coisa!
• Cantagalo, Ulisses e o resto dos traficantes presentes descem uma escada para o andar de baixo do barraco e fecham a “tampa” da escada com um alçapão de madeira.
BATISTA (Rindo): AGORA SOMOS SÓ NÓS TRÊS! É, Ricardo… eu te falei pra não entrar em disputa nenhuma comigo. Tá vendo só o porquê?!
RICO: VOCÊ É UM DOENTE DO CARALHO! EU NÃO ENTREI EM DISPUTA NENHUMA, FOI VOCÊ QUE VEIO ROUBANDO AS MINHAS ÁREAS PRIMEIRO!
BATISTA: Pois é, Riquinho, mas toda vez que eu entro na disputa, é pro meu inimigo sair… e você foi muito ousado em não ter feito isso. Uma pena que você não vai ficar vivo pra espalhar o boato. Aliás, eu não sei nem por onde começar aqui…
• Ele se aproxima de Maria Joana, alisando o rosto dela com as mãos. A mulher chorando, horrorizada, enojada. Rico encara aquilo, cheio de ódio.
BATISTA (P/ Maria Joana): Será que eu te como na frente dele primeiro? Sabe, pra mostrar que ele perde tudo pra mim?
MARIA JOANA (Desesperada): TIRA SUA MÃO DE MIM, SEU DEMÔNIO!
RICO (Furioso): NÃO FAZ NADA COM ELA, DESGRAÇADO! FAZ COMIGO, ME MATA, CORTA MINHA CABEÇA, FAZ A PORRA QUE VOCÊ QUISER! SÓ DEIXA ELA EM PAZ!!!
BATISTA: Olha só o heroizinho querendo dar pinta… ou será que primeiro eu te mato, Rico? E depois eu como ela como prêmio por ter feito isso? (Rindo): Sinceramente, eu não sei qual das duas opções é mais satisfatória.
• Batista coça a cabeça com a arma. Maria Joana e Rico desesperados.
BATISTA (Rindo/Sarcástico): Já sei! Vamos fazer uni-duni-tê!
• Ele vai alternando a arma entre Rico e Maria Joana com a arma, cantando a música do uni-duni-tê.
BATISTA (Cantando): Esco - lhido - foi - vô - CÊ!!!
• A arma para em Rico.
BATISTA (Comemorando): EBA!!! A segunda opção foi a escolhida! Vai ser um prazer te matar e depois comer essa gostosa em cima do teu sangue, Rico… olha, minha boca já tá salivando!
MARIA JOANA (Horrorizada): PARA!!! PARA COM ESSA MERDA!!!
• Rico fecha os olhos, aflito, chorando, desesperado. Batista engatilha a arma e vemos ele quase apertando o gatilho com os dedos, antes que um grito de Rico o impeça.
RICO (Desesperado/Chorando): TU É O MEU PAI, PORRA!
• Batista larga o gatilho imediatamente. Subimos a câmera para o rosto dele, incrédulo com a informação.
BATISTA (Em choque): … O quê?!
RICO (Chorando): Tu e a Mauricéa… vocês são os meus pais. Tu engravidou ela na adolescência, e ela me largou na porta da Cátia, a minha mãe.
BATISTA (Incrédulo/Rindo): Não… você não quer que eu acredite nisso, né?
RICO: POR QUE VOCÊ ACHA QUE ELA MATOU O ALAOR?! FOI POR ISSO! PORQUE ELE DESCOBRIU!
BATISTA: Para com isso, moleque…
RICO: Yara Veiga. Você conhece esse nome? Você engravidou ela também! O Marcinho não é filho do Ailton Veiga, Batista, ele é o SEU filho… é por você que nós somos irmãos.
• Batista incrédulo diante da revelação. Ele abaixa a arma e começa a revisitar todo o seu passado, tentando negar aquilo pra si mesmo, mas vendo que todas as informações batem certo.
BATISTA: Não… isso é uma mentira… VOCÊ TÁ MENTINDO PRA MIM, SÓ PRA EU NÃO TE MATAR! MAS CHEGA! EU NÃO VOU ACREDITAR EM VOCÊ, MOLEQUE!
• Neste momento, o alçapão da escada se abre com tudo e podemos ver a silhueta de um homem subindo.
BATISTA (Furioso): SAI DAQUI, CANTAGALO, QUE EU AINDA NÃO TERMINEI ESSA PORRA!
• Todos olham para o homem que sobe as escadas, incrédulos. Focamos apenas nas costas dele, caminhando com uma arma em direção a Batista.
BATISTA (Incrédulo): Isso… isso só pode ser uma alucinação minha… PARA COM ISSO! ME DROGARAM AQUI! CHEGA DESSA PORRA! CHEGA!!!
********: Não tem mentira, nem alucinação nenhuma, Batista… tudo que você tá vendo e escutando é a pura verdade. Você é um lixo humano e nunca vai ser perdoado por colocar esses dois filhos no mundo, essas duas aberrações… VOCÊ MANCHOU A LINHAGEM DA FAMÍLIA VEIGA DE OLIVEIRA!
• Rico e Maria Joana encaram o homem, incrédulos com a presença dele. O pôr do sol em seu ápice na janela do barraco deixa os dois homens, frente a frente, parecendo sombras no nosso campo de visão.
BATISTA: Eu tô ficando maluco… eu tô ficando maluco… PARA COM ISSO! PARA!!!
• Batista saca sua arma e aponta para ele, e o homem faz o mesmo. A cena escurece bruscamente e podemos ouvir o som do tiro ecoando. A imagem clareia e a primeira coisa que podemos ver é Batista morto no chão, com um tiro na lateral da cabeça, sangrando muito. Em seguida, alternamos os closes entre os rostos de Rico e Maria Joana horrorizados, vendo o homem morto com os seus rostos respingados com o sangue dele. O último foco é no homem misterioso que adentrou o barraco. A câmera vai subindo pelo seu corpo e vemos enfim a sua face, um pouco desfigurada, usando alguns curativos, com o rosto um pouco desfigurado e um tapa-olho: é Marcinho Veiga, vivo, olhando para Batista morto com uma expressão gélida.
(FIM DO EPISÓDIO)
17/11/2025
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