Filho do Jogo - Episódio 10
“É o Bicho!”
Abertura:
CENA 01: (Barraco-base. Interior. Tarde.)
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Instrumental tenso. Vamos nos afastando do rosto de Marcinho e vemos toda a cena da tragédia em plano aberto.
RICO (Chorando/Incrédulo): Marcinho… meu irmão… você tá vivo?!
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Marcinho apenas olha para Rico, sério, e não responde. Ele se aproxima de Batista e checa o pulso do homem. Vê que ele está morto e não consegue evitar um sorriso.
MARCINHO (Sorrindo/Aliviado): Acabou essa desgraça…
RICO: Marcinho, o que que tá acontecendo, meu irmão? Como você tá vivo?!
MARCINHO: Depois eu te explico isso, Ricardo. Agora eu preciso dar um jeito nisso aqui…
MARIA JOANA (Chorando): Moço, por favor, libera a gente daqui…
MARCINHO: Pode ficar tranquila que vocês não tão mais correndo perigo, tá bom? O demônio já morreu. E outra coisa… pra todos os efeitos, ele se matou.
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Rico e Maria Joana se encaram, tensos, e depois encaram Marcinho.
CENA 02: (Comunidade. Ruas. Exterior.)
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A comunidade num estado quase pós-apocalíptico. Várias casas destruídas, pessoas machucadas pelas ruas, pessoas gritando, desesperadas, tudo um grande caos. Fumaça subindo e fogo em alguns cantos. Helicópteros da polícia sobrevoando. Algumas viaturas e ambulâncias adentram a comunidade apressadamente, em grande quantidade. Os policiais descem de seus carros já atirando nos traficantes que os cercam, fazendo uma troca de tiros intensa acontecer na comunidade. Alguns policiais e traficantes caem no chão. Alguns mortos, alguns feridos…
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De outro ponto, podemos ver as ambulâncias indo até locações específicas da comunidade onde as pessoas gritam por ajuda. As equipes de enfermeiros descem dos veículos com macas e kits de primeiros socorros para ajudarem todos os feridos. Entre eles, Marcelo e Nadir também são socorridos e levados para dentro das ambulâncias, onde Kelly e Ruth adentram junto a eles. Os veículos saem em disparada, tentando à todo custo não receber nenhum tiro. Os tiros vindos são na lataria do veículo.
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Novamente pelo meio da destruição tenebrosa que assola a comunidade, Ulisses e Cantagalo vêm correndo pelo meio da fumaça, tentando fugir daquele caos. Eles conseguem despistar alguns policiais e se escondem atrás de um muro, onde deixaram um carro estacionando.
CANTAGALO (Desesperado): CARALHO, A GENTE TEM QUE SE SAIR DAQUI!
ULISSES: O CARRO, CHEFE, O CARRO!
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Eles vão correndo em direção ao veículo.
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A câmera sobe para a laje de uma casa, onde Caveira acaba de acertar em cheio um policial na cabeça. Ele ri, comemorando a vitória. Ele pega a arma do policial morto e se apossa dela, carregando-a consigo. Ele vai se aproximando da beira da laje até ver o carro de Cantagalo se preparando para sair dali. Ele consegue ver Cantagalo dentro do carro.
CAVEIRA: A minha chance é agora, caralho…
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Caveira se deita no chão e pega a arma. Pelo visto da arma, ele mira na cabeça de Cantagalo, dentro do carro, e sua frio, tentando acertar o seu alvo com um único tiro.
CENA 03: (Carro. Interior.)
CANTAGALO: BORA, CACETE, SOCA O PÉ NESSE ACELERADOR!
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Ulisses tenta ligar o carro diversas vezes, mas todas são falhas. Ele olha para Cantagalo, desesperados.
ULISSES: QUE MERDA, PARECE QUE ALGUÉM SABOTOU ESSA PORRA!
CANTAGALO: Então vamo vazar daqui… RÁPIDO, CARALHO!
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O carro começa a dar os primeiros sinais de que está ligando.
ULISSES: Calma, chefe, eu acho que tá começando a funcionar…
CANTAGALO: ENTÃO VAI RÁPIDO COM ISSO, PORRA! EU NÃO QUERO FICA AQUI PRA MORR///
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Um grande estrondo corta fala de Cantagalo, só vemos o sangue espirrando na cara de Ulisses e Cantagalo caindo morto no banco do carro, com parte da cabeça explodida por um tiro.
ULISSES (Desesperado): CANTAGALO! PELO AMOR DE DEUS, NÃO!
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Ele não consegue acreditar na cena que vê e imediatamente abre a porta do carro, desesperado, com as mãos na cabeça, trêmulo, melado com o sangue de Cantagalo.
ULISSES (Desesperado): ALGUÉM ME AJUDA AQUI PELO AMOR DE DEUS! ATIRARAM NO CHEFE! MATARAM ELE!
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Em câmera lenta, alguns traficantes correm para ajudar Ulisses e se chocam ao verem o estado em que Cantagalo se encontra.
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Subimos novamente a câmera para a laje, de onde Caveira observa toda a movimentação, comemorando o sucesso de seu plano. Focamos nos olhos dele, lacrimejando de emoção. Ele agora é o dono do morro. Foco de cima na cena mostrando o desespero dos traficantes com a morte do chefe e a alegria de Caveira sabendo que será o substituto de Cantagalo.
CENA 04: (Comunidade. Ruas. Exterior.)
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Vamos focando na subida do grande morro do Cantagalo, onde policiais sobem trocando tiros com alguns traficantes que querem impedir que eles subam. Eles atacam uns aos outros com explosivos, bombas de fumaça, tiros… elementos que vão destruindo cada vez mais o local. Tanto traficantes quanto policiais caem no chão, agonizando, morrendo ou gritando de dor. Os policiais conseguem vencer boa parte dos traficantes e os que restam conseguem subir o morro com sucesso, avançando rapidamente para o barraco-base.
CENA 05: (Barraco base. Interior.)
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Rico e Maria Joana sentados, amarrados na cadeira, encarando o corpo de Batista morto no chão. Marcinho já não se encontra mais ali.
MARIA JOANA (Chorando): Até que enfim! Obrigada, senhor!
POLICIAL: O que vocês tão fazendo aqui? Quem amarrou vocês aqui?!
MARIA JOANA (Tensa/Chorando): Foi esse homem, moço! Ele ia matar a gente!
POLICIAL: E vocês que mataram ele?
RICO: Como? A gente tá amarrado, meu senhor!
POLICIAL: Então quem foi que matou o rapaz?
RICO: Não foi bem assim que aconteceu, não mataram ele… O Batista se matou.
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Instrumental tenso. O policial se aproxima deles e começa a desamarrá-los.
POLICIAL: Certo… vocês vão precisar descer comigo e dar os esclarecimentos de vocês na delegacia. Tá muito estranha essa história.
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Rico e Maria Joana se olham, tensos. Voltamos o foco para Batista morto no chão.
CENA 06: (Comunidade. Ruas. Exterior.)
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Focamos do alto na comunidade, agora com as suas ruas vazias, sem mais guerra acontecendo, apenas os restos do caos. Traficantes fogem, outros são rendidos pela polícia e levados nas viaturas. Alguns corpos de policiais e traficantes também se encontram espalhados pela favela, mortos. A polícia ajuda a resgatar algumas pessoas entre destroços e levam elas para a ambulância, rapidamente. Outras ambulâncias prestam socorro para diferentes feridos durante a guerra. No salão da Unidos de Cantagalo, também parcialmente destruído, a polícia resgata todos bem e com vida: Maria Brunessa, Cátia, Paulão, Roberval, Luciane, Gleici e os demais que se esconderam ali. Todos saem acompanhados pela polícia, em estado de choque. Foco do alto novamente na comunidade, pós-apocalíptica. A tela escurece…
CENA 07: (Presídio. Cela. Interior.)
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Vamos nos afastando de uma pequena televisão no inteiror da cela. Nela, um notíciario transmite o rosto de Batista em preto e branco, anunciando a morte dele durante uma guerra na comunidade do Cantagalo. Um grupo de detentas à frente, assistindo. Mauricéa, entre elas, está pálida, incrédula. Ela coloca as mãos sob a boca e deixa uma lágrima escorrer.
REPÓRTER (V.O. TV): Anunciamos em primeira mão que foi confirmada a morte do contraventor Batista Alcântara Avillar durante uma guerra de áreas na comunidade do Cantagalo. Os laudos ainda são incertos se o homem cometeu suicídio ou se foi assassinado.
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A TV fica em mudo. Focamos na expressão de Mauricéa.
MAURICÉA (Incrédula/Chorando): Eu não acredito… O que você foi fazer, seu desgraçado?
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Lourão se aproxima dela, por trás.
LOURÃO: O que aconteceu, princesa? Tu conhecia esse cara?
MAURICÉA (Abalada): C-conhecia… ele era um amigo da família.
LOURÃO: Meus pêsames aí.
MAURICÉA: Não… apesar de isso estar doendo muito, eu acho que foi a melhor coisa que aconteceu no fim das contas…
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Lourão abraça ela, tentando consolá-la, confusa. Mauricéa cessa o seu choro, gélida.
MAURICÉA: Batista… a gente se vê no inferno.
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Instrumental triste. A câmera vai se afastando.
CENA 08: (Casa dos Silva. Interior. Dia.)
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Cátia, Paulão, Luciane, Roberval e Maria Brunessa sentados em frente à televisão da casa. O noticiário agora mostra os rostos de Maria Joana e Rico.
REPÓRTER (V.O. TV): Os reféns levados pelo contraventor Batista Avillar, Ricardo Veiga e Maria Joana da Silva Lima, foram resgatados com vida pela polícia e levados à delegacia para prestarem seus depoimentos sobre a morte do bicheiro.
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Focamos nas expressões da família.
LUCIANE (Sorrindo/Aliviada): Amém, meu Deus! A MINHA FILHA TÁ VIVA!
CÁTIA: Obrigado, meu Deus, por ter protegido o Rico se todo mal…
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Cátia e Luciane se abraçam, bem como o resto da família, em comemoração.
MARIA BRUNESSA: Desculpa atrapalhar o momento, gente… MAS O QUE A GENTE TÁ ESPERANDO PRA IR PRA FRENTE DESSA DELEGACIA AGORA?!
PAULÃO: Ih, é mesmo! Simbora, gente! Prepara a Kombi, Roberval!
ROBERVAL (Rindo): Vamo!
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A família sai de casa, apressada.
CENA 09: (Hospital. Corredores. Interior.)
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Vamos passeando pelos corredores do hospital, até acharmos Kelly e Ruth, sentadas lado a lado, tensas.
KELLY (Tensa/Chorando): Puta merda, que dia foi esse? Eu não tô conseguindo nem acreditar que é real tudo que tá acontecendo.
RUTH (Tensa): Eu nunca poderia imaginar que isso fosse acontecer também… que merda. Eu preciso de notícias da minha vó, eu não posso perder ela! Eu nunca iria me perdoar.
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Kelly abraça ela, confortando-a.
KELLY: Por pior que tenha sido tudo que aconteceu hoje, vai dar tudo certo! Vamos ter fé que eles vão ficar bem, tá?
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Ruth assente e abraça Kelly de volta. Uma enfermeira vem ao longe, caminhando em direção à elas.
ENFERMEIRA: Acompanhantes do senhor Marcelo Avillar e da senhora Nadir Silveira?
KELLY (Surpresa): Sim, somos nós!
RUTH (Tensa): Alguma notícia boa, moça?!
ENFERMEIRA (Sorrindo): Sim, podem ficar tranquilas, o Marcelo e a Nadir já estão fora de perigo, apenas estão tratando os ferimentos, mas não estão em estado grave.
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Kelly e Ruth se olham, sorrindo, emocionadas. Se abraçam com força, comemorando o momento.
ENFERMEIRA: Inclusive, a dona Nadir já acordou e quer falar com você, menina.
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Foco em Ruth, sorridente, emocionada.
CENA 10: (Hospital. Leito. Interior.)
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Nadir deitada na cama, um pouco pálida, cansada, sentindo um pouco de dor. Ruth adentra o quarto, sorrindo.
RUTH (Sorrindo/Emocionada): Vó! Obrigada, meu Deus!!!
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Ela corre até a avó e a abraça, elas emocionadas.
NADIR (Sorrindo): Ah, meu amor! Você salvou a vida da vovó!
RUTH (Tensa): O quê?! Você viu?
NADIR: É claro que eu vi, Ruth… e eu sou muito grata a você, minha neta! Mas que arma era aquela, querida?
RUTH (Tensa): E- eu…
NADIR (Tensa): Tu tá metida com tráfico?!
RUTH (Tensa/Envergonhada): Não, vó… é…
NADIR: É com sequestro?!
RUTH: Não, vó… (envergonhada): é com bicheiro.
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Nadir quase cai da maca do hospital.
NADIR (Desesperada): O QUÊ?! PELO AMOR DE DEUS, RUTH MARIA SILVEIRA DOS SANTOS, ME DIZ QUE ISSO NÃO É VERDADE!
RUTH (Chorando): É verdade, vó… mas… eu te juro que eu vou sair dessa vida! EU JURO!
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Instrumental cômico, Nadir quase infartando. Ruth mobiliza os médicos no corredor para virem tratar a avó. Nadir fazendo o maior drama.
CENA 11: (Delegacia. Sala do delegado. Interior.)
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Ao som de um instrumental tenso, vamos nos aproximando de uma delegacia. Viaturas à frente tentando contar os milhares de jornalistas parados ali. Adentramos a delegacia e vamos até a sala do delegado, onde Rico e Maria Joana se encontram, sentados de frente pro delegado.
DELEGADO: Ricardo e Maria Joana… vamos lá, eu preciso que vocês me contem tudo o que aconteceu durante o sequestro de vocês e como aconteceu essa morte do Batista Avillar. Quem vai começar me contando?
MARIA JOANA: Eu, por favor. Seguinte, seu delegado… o Batista, desde que eu conheci ele e vi o comportamento dele lá no sambinha da minha família, sempre se mostrou um homem diferente, agressivo… sei lá, quando ele não conseguia o que ela queria, ele tentava conseguir à qualquer custo. (Chorando): Ele me assediou algumas vezes lá no samba e eu sempre fugi dele, mas hoje, aqui nessa guerra, ele mandou um traficante levar eu e o Rico lá pro alto do morro e… ele tava planejando matar o Rico. E me estuprar depois…
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Ela chora muito, abalada. Coloca as mãos sob o rosto.
DELEGADO: Eu… sinto muito por isso, Maria Joana. Bom, Ricardo, você consegue me dizer o motivo do Batista ter promovido essa guerra na comunidade?
RICO: Ele fez isso porque ele gosta de ver destruição, de ver desgraça! Esse homem é um psicopata, um sanguinário! Ele já tem um histórico bem longo de assassinatos e isso não é surpresa pra ninguém… Bom, o doutor deve saber que eu sou bicheiro e instalei meus pontos lá no Cantagalo, isso não é surpresa pra ninguém. Só que o desgraçado do Batista Avillar não se contentou com o meu sucesso e promoveu essa catástrofe pra me tirar do poder!
DELEGADO: Então vocês tinham uma rivalidade?
RICO: Eu só reagia, ele que começava com essas porras tudo.
DELEGADO: Certo… e sobre a morte do Batista Avillar, seu Rico? Como você viu ele morrer?
RICO (Tenso): Bom… o Batista se matou.
DELEGADO: E ele se matou por quê?
RICO: Um homem entrou lá no barraco e o Batista parecia que tinha visto um fantasma… ele ficou tão perturbado da cabeça com aquele homem lá que ele se matou.
DELEGADO: E como era esse homem? Como ele era, Rico?
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Neste momento, a porta da sala se abre, e vemos Marcinho adentrando o local, imponente. Rico e Maria Joana tomam um susto com a entrada repentina dele, e o Delegado fica pálido, incrédulo ao vê-lo.
MARCINHO: Eu era esse homem, seu delegado… será que a gente pode falar sobre isso à sós?
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Foco no rosto de Marcinho, sorrindo. Cortamos para a sala vazia, apenas com Marcinho e o delegado ali.
DELEGADO (Em choque): Senhor Marcinho Veiga, como é possível?!
MARCINHO: Pois é, Geraldo… nada é impossível para quem tem contatos. Eu consegui comprar uma funerária inteira, comprei uns jornais, e nunca ninguém desconfiou que eu tava vivo. Depois disso, foi só ficar perto e longe da minha família ao mesmo tempo, e assim eu soube que a minha própria tia, a Mauricéa, foi quem planejou a minha morte. Mas como o meu querido irmãos Ricardo já fez questão de mandar a vadia presa, só me restou tirar o Batista do meu caminho. Durante esse tempo, o mordomo da minha casa, o Patrício, foi o meu informante sobre o que acontecia lá dentro; e nos negócios, quem me atualizava de tudo era o traficante lá, o Cantagalo. Aí foi tudo muito fácil… eu só precisava da hora certa pra voltar, e voltei.
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O delegado o encara, incrédulo ainda.
MARCINHO: Mas bom, isso tudo é passado. A minha conversa com você agora é bem direta, Geraldo…
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Marcinho pega a sua carteira no bolso e retira dela alguns bolos de dinheiro.
MARCINHO: O Batista se suicidou e eu estava protegido por um programa de proteção à testemunha, porque corria risco de vida. Entendido?
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O delegado encara Marcinho, um sorriso brota no seu rosto. Eles sorrindo um para o outro, entrando em acordo.
MARCINHO: Só mais uma coisa… eu teria direito à uma visitinha rápida aqui?
CENA 12: (Delegacia. Sala de visitas. Interior.)
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Marcinho sentado na sala, sereno, tranquilo, lixando as unhas, irônico. Pelo lado de fora, podemos ver Mauricéa sendo guiada até ela por uma carcereira.
MAURICÉA: Quem é dessa vez, hein? O Batista já tá morto e o resto da minha família me odeia!
CARCEREIRA: Eu sei lá quem é, mona. Teus b.o. é tu que assume.
MAURICÉA: Ai, que suspense do caralh…
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A carcereira larga Mauricéa na sala de visitas, frente a frente para Marcinho. Focamos na expressão dela, chocada, pálida, faltando ar.
MAURICÉA (Apavorada): AAAAAAAAAAAAAAA!!! QUE PORRA É ESSA?! EU TÔ VENDO COISA NESSE CARALHO!
MARCINHO (Rindo/Irônico): Fala aí, titia!
MAURICÉA (Em surto): SAI, SAI DAQUI ASSOMBRAÇÃO! SOCORRO!!!
MARCINHO: Sou eu em carne e osso, titia querida. Não se apavore, ou você tem algum motivo pra isso.
MAURICÉA (Chorando): Você não é real, você não é real, você não é rea///
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Marcinho, furioso, segura ela pelos ombros e balança.
MARCINHO: AQUI EU, SUA DEMÔNIA! EU SOU REAL, VOCÊ QUE É UMA INCOMPETENTE QUE NÃO CONSEGUIU ME MATAR!
MAURICÉA: SAI DAQUI!!! SAI DE MIM, DEMÔNIO!
MARCINHO: DEMÔNIO É VOCÊ! É ISSO QUE VOCÊ É! (Sarcástico): Olha… tá aí uma coisa boa que o Rico fez… te tirou de uma vez da nossa família! De agora pra frente vai ser tudo muito melhor… eu recuperando o meu poder e você enlouquecendo e mofando aqui nessa espelunca!
MAURICÉA: NÃO FALA ISSO! DESGRAÇADO! EU TE AJUDEI MUITO A SUBIR NESSA VIDA!
MARCINHO: Nada disso, quem deixou a minha vida ganha foi o meu querido pai, que você assassinou também… sabe de uma, Mauricéa? Eu vou contratar alguém pra te matar aqui.
MAURICÉA (Assustada): Para com isso, para de falar essas coisas… PARA!!! SAI DAQUI, INFERNO!!!
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Mauricéa avança em Marcinho, tentando sufocá-lo, mas um grupo de carcereiras percebe as movimentações estranhas e entram rapidamente na sala, onde separam Mauricéa de Marcinho.
MARCINHO: Até nunca mais, titia. Eu não mandaria te matar, mas você pode ter certeza que eu vou fazer de tudo pra você não sair tão cedo daqui…
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Ele sai, rindo. Mauricéa o encara, perturbada.
MAURICÉA: DEMÔNIO DESGRAÇADO DOS INFERNOS!!! INFERNO!!!
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Mauricéa sendo levada pelos policiais, completamente fora de controle. Ela é retirada em câmera lenta pelos policiais, completamente descontrolada. Marcinho ri dela, sarcástico.
CENA 13: (Delegacia. Exterior. Noite.)
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Os portões da delegacia se abrem e Rico sai de lá junto com Maria Joana. As famílias deles o esperam em frente à uma Kombi estacionada na porta. Rico corre para os braços de Maria Brunessa e Maria Joana corre para os braços dos pais. Cátia e Paulão também se juntam para abraçar Maria Joana. Eles comemoram. Vemos o contraponto entre Maria Joana recebendo muito amor e Rico e Maria Brunessa tendo apenas um ao outro. Os fotógrafos ao redor clicam o momento. Eles tentam conseguir alguma entrevista, mas são ignorados.
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Surpreendendo à todos, um carro esportivo estaciona em frente à delegacia e buzina. Os portões se abrem de novo e dessa vez quem sai de lá é Marcinho, chocando ainda mais os jornalistas e as pessoas que ainda não o tinham visto com vida. Rico o encara de longe, se questionando como o irmão saiu tão rápido de lá, confuso. Marcinho sorri e dá uma picadinha para o irmão, segue andando enquanto é assediado pela imprensa, mas ignora todos e adentra o seu luxuoso carro, saindo em grande estilo. Close aéreo na cena. A tela escurece…
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Passeamos pelas belas e ensolaradas paisagens do Rio de Janeiro ao som de “Bezerra da Silva - É o bicho é o bicho”. No canto da tela, a legenda: DOIS MESES DEPOIS. Vamos vendo tudo o que aconteceu nesse tempo.
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Nos aproximamos de um cemitério, onde um pequeno número de pessoas está velando Batista. Da família, apenas Rafael está lá, chorando a morte do pai. De resto, apenas bicheiros da cúpula, em consideração por ele, mas comemorando a sua morte por dentro. Na lápide de Batista, o número 83, e uma pintura de touro gravada abaixo.
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Na comunidade do Cantagalo, vemos uma equipe enorme de construtores realizando trabalhos em diferentes locais da comunidade. Reconstruindo casas, bares, pontos… Vamos vendo, em time-lapse, a favela sendo reconstruída e ficando ainda mais bonita do que já era. Focamos na Unidos de Cantagalo, reconstruída e com um novo visual, ainda mais chamativa e bonita. Nos afastamos da comunidade, e podemos ver um grande muro com a pichação “Gratidão, Rico Jacarézinho!” com uma caricatura de Rico dando um “legal” abaixo. Os moradores picharam aquilo em agradecimento pelas ações de Rico na comunidade.
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Os ensaios da Unidos de Cantagalo seguem acontecendo, com todos os sambistas do time. Podemos ver Maria Joana usando roupas mais largas para esconder a barriga, que já começara a crescer. Em casa, Luciane e Roberval ajudam a filha com as questões da gravidez. Podemos ver também a casa dos Silva muito mais bonita, reformada, agora com dois andares. A família muito bem financeiramente com o sucesso da Unidos de Cantagalo. A escola cada vez mais cheia de membros e de reconhecimento.
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Na mansão dos Veiga, a convivência diária entre Rico e Marcinho é meio apática. Eles não tem embates, mas agora é Marcinho quem cuida do financeiro da família, estranhamente se conformando de ter perdido o seu lugar de bicheiro chefe. Já Rico e Maria Brunessa, vivem felizes juntos, prontos para casar.
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No morro do Cantagalo, um evento acontece na laje. Os traficantes estendem uma grande bandeira com o nome de foto de Cantagalo, em luto por ele, e fazem uma cerimônia para receber Caveira como o novo dono do morro. Ele sorri, triunfante. Os traficantes soltam fogos em comemoração à nova liderança. Helena assiste tudo ao fundo, sorrindo para ele. Ele vai até ela e a puxa para a frente de todos, apresentando-a como sua esposa. Eles se beijam com os fogos estourando ao fundo. Helena se acostumando com a vida de primeira dama do morro.
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Nos aproximamos do presídio agora, onde Mauricéa e Lourão caminham juntas, de mãos dadas pelo pátio. Almoçam em grupo com outras detentas, se beijando muito no meio de todas, expondo o relacionamento. Todas as detentas pelas quais Mauricéa passa abaixam a cabeça para ela, pois agora ela é a primeira dama do presídio. Num dos corredores, ela se beija com Lourão, ardentemente. Uma detenta passa, olhando feio para elas, e Lourão ri, mandando ela se ajoelhar no chão. Humilha a mulher, jogando o suco do refeitório na cabeça dela. Mauricéa ri dela, adorando a atitude da namorada. Lourão se aproxima novamente e puxa Mauricéa para si. Se beijam novamente.
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Novamente, nos aproximamos da Unidos de Cantagalo. Caminhões estacionados à porta e os membros da escola ajudando os caminhoneiros a descarregar. São adereços e fantasias para o desfile, todos lindos e extravagantes.
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CENA 14: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior.)
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Maria Joana e Gleici, radiantes, vendo as fantasias.
MARIA JOANA (Encantada): Que coisa mais linda, gente! Olha só esses detalhes!
GLEICI (Sorrindo): Amiga, olha que linda a minha! Toda cheia de brilho!
MARIA JOANA: Amiga, já tô te vendo deslumbrante como porta-bandeira! Vai ser tudo!!!
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Elas se abraçam, comemorando.
GLEICI: O vestido de noiva da Brunessa vai chegar aqui também? É bom que a gente já joga vinho em cima! Esse casamento é a coisa mais porca que eu já vi, mas que vai dar o que falar, isso vai…
MARIA JOANA: Ai amiga, eu não quero nem pensar nisso, por mim aqueles dois se casam, se enrolam na língua um do outro e vão girando pra puta que pariu! (Rindo): Vem, vamos provar nossas fantasias!
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Corte para elas e dentro do salão, Cátia e Luciane acompanhando as moças. Todas de frente para o espelho.
MARIA JOANA (Preocupada): Será que não tem algum jeito de esconder essa barriga.
CÁTIA (Preocupada): Jô, até dá… mas vai por mim, querida, não vai dar pra você esconder isso do Rico a vida toda.
LUCIANE: Pois é, minha filha… será que não seria melhor você falar logo isso pra ele?
MARIA JOANA (Tensa): E expor o meu filho à crescer no meio de bicheiro e traficante? Nunca!
GLEICI: Isso é verdade, gente. Esse meio é muito perigoso pra uma criança…
CÁTIA: Tudo bem… então vamos disfarçar essa barriga. Me ajuda aqui, Lu!
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Cátia e Luciane fazem algumas medidas em Maria Joana, ajudando ela com os retoques da fantasia.
CENA 15: (Mansão dos Veiga. Sala de refeições. Interior. Dia.)
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Mesa posta. Rico, Maria Brunessa e Marcinho tomam café da manhã juntos.
MARIA BRUNESSA (Eufórica): Ainda não me caiu a ficha que hoje eu vou casar na Sapucaí e tudo vai ser transmitido na televisão! Nem nos meus melhores cenários eu poderia imaginar isso!
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Maria Brunessa puxa Rico para um beijo, e ele retribui, sorrindo.
MARIA BRUNESSA: Tô tão animada, vida!
RICO (Sorrindo): Eu também, meu amor!
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Eles dão as mãos, sorrindo. Rico olha para Marcinho.
RICO: E aí, meu irmão? Tá pronto pra voltar aos holofotes no casamento hoje?
MARCINHO (Rindo): Ah, mano, é aquilo… ninguém escapa do seu destino, né? Então eu vou encarar isso de cabeça em pé.
RICO (Rindo): Boa, irmão!
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Eles apertam as mãos.
MARIA BRUNESSA: Só babado nesse casamento hoje, hein? Nem amo! Usa aquele terno verde escuro que você usou no dia que você morreu, cunhadinho! Você vai servir muito cunt com ele! (Rindo): E as mulheres de lá da Unidos de Cantagalo se amarram num pretinho crocante de terno!
MARCINHO (Confuso): …servir cunt?
RICO (Rindo): Pretinho crocante?
MARIA BRUNESSA (Rindo): Às vezes eu esqueço que vocês são homens e não entendem essas coisas.
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Ela pega a sua bolsa e se levanta da mesa.
MARIA BRUNESSA: Agora me deem licença que eu vou pro meu dia de princesa, meus amores. Mozão, a gente se vê hoje a noite, pra cruzar as nossas vidas pra sempre!
RICO: Não posso esperar por isso, vida!
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Eles se beijam.
MARIA BRUNESSA: Bye, bye, boys!
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Ela se retira, desfilando até a porta e gritando o motorista.
CENA 16: (Cemitério. Exterior. Dia.)
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Vemos a lápide de Batista, um pouco deteriorada pelo tempo. Ouvimos passos se aproximando dela e subimos a câmera para ver de quem se trata. É Rafael que vem chegando, fumando um cigarro de maconha, caindo no meio dos seus passos. Visivelmente acabado, em todos os sentidos. Ele anda até a lápide de Batista e se ajoelha ali, caindo no chão, chorando.
RAFAEL (Drogado/Chorando): VOCÊ VAI VER, PAI! EU VOU ACABAR COM ELES TODOS! COM TODO MUNDO QUE TE FEZ SOFRER!
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Ele bate no túmulo do pai.
RAFAEL: TÁ ME ESCUTANDO DAÍ? EU VOU VINGAR O SENHOR! EU PROMETO!!!
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Ao longe, podemos ver alguns policiais se aproximando do cemitério para conferir a movimentação estranha.
POLICIAL 01: Ei, rapaz!
RAFAEL: ME DEIXA AQUI, ME DEIXA EM PAZ! EU TÔ CONVERSANDO COM O MEU PAI!
POLICIAL 01: Tu tá cheirado, porra?!
POLICIAL 02: Ei, ele é aquele filho do bicheiro. O batalhão tá caçando a fuça desse infeliz, cara. Ele era cúmplice do pai.
POLICIAL 01: Bom saber… Bora garoto, tu tá preso por porte de drogas e cumplicidade!
RAFAEL: QUE PORRA É ESSA? VOCÊS NÃO VÃO ME PRENDER! VOCÊS SABEM QUEM É O MEU PAI?!
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Em câmera lenta, os policiais avançam nele, algemando-o. Rafael se debate, dando trabalho para os policiais segurarem ele. Podemos ouvir os gritos dele, desesperado. Vamos nos afastando da cena deplorável.
CENA 17: (Ruas. Exterior. Dia.)
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Ao som de “Major Lazer ft. Anitta e Pabllo Vittar - Sua Cara”, vamos acompanhando uma elegantérrima limousine, que estaciona em frente a um salão, com vários jornalistas esperando por ela. O motorista desce desta e abre a porta para que alguém saia. Revelamos ser Maria Brunessa, que é ovacionada pelos jornalistas. O motorista pega na mão dela e a ajuda a sair do carro. Ela com um look bem espalhafatoso, cheia de plumas e animal print verde e dourado, de jacaré. Os repórteres voam em cima dela, que é protegida pelos seguranças.
REPÓRTER 01: NOSSA MARIA DE FÁTIMA DO MORRO DO CANTAGALO, DÁ UMA ENTREVISTA PRA GENTE!
MARIA BRUNESSA (Rindo/Irônica): MARIA DE FÁTIMA É A SUA MÃE, FOFO!
REPÓRTER 02: MARIA BRUNESSA, DÁ AULA PRA DE COMO É QUE SEDUZ UM BICHEIRO PRA VENCER NA VIDA!
MARIA BRUNESSA: Eu não precisei seduzir ninguém pra subir na vida, meu amor. Eu sou a própria sedução! Se você não nasceu com a minha cinturinha 38 e o meu bumbum de 136 centímetros, eu sinto muito, mas você está bem abaixo de mim no patamar! E outra, pra vencer na vida e ser rica igual a mim, basta nascer Maria Brunessa e ter um santo tão forte quanto o meu, e isso pouca gente consegue. Beijão!
REPÓRTER 03: MARY BRU, ESPERA! FALA PRA GENTE DESSE CASAMENTO BABADO SEU!
MARIA BRUNESSA: Ah, disso eu falo, com certeza! OLHA SÓ, EU QUERO TODO MUNDO AQUI NA SAPUCAÍ PORQUE HOJE EU VOU CASAR PRO BRASIL TODO VER, HEIN! E VAI SER TRANSMITIDO AO VIVO LÁ NO GS! Agora deixa eu me arrumar, meu amores! Beijo pra todos aí!!!
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Ela entra no salão, fugindo dos demais repórteres, escoltada pelos seguranças. Movimentação enorme na porta do salão.
CENA 18: (Salão. Interior. Dia.)
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Maria Brunessa adentra o salão, aliviada.
MARIA BRUNESSA (Rindo/Ofegante): Até enfim, gente! Não tem mais nenhuma fã doida aqui não, né? Tava cheio de mulher e viado lá fora querendo uma lasquinha de mim gente, nunca vi!
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Algumas atendentes e clientes do salão sorriem ao verem Maria Brunessa. Cochichos entre eles.
MARIA BRUNESSA: Eita que tem fã aqui também… olha só, quem fizer o melhor tratamento de noiva em mim hoje vai ganhar marcação no storie e tudo, hein! VAMBORA QUE EU QUERO RELAXAR!!!
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Os funcionários correm até ela, já preparando todos os tratamentos de princesa de Maria Brunessa. Corte para ela dentro de uma sala com ele azul, música tranquila ao fundo, máscara facial no rosto e pepinos nos olhos, degustando um champanhe. Ela sorri, aproveitando o seu momento.
CENA 19: (Comunidade. Barraco-base. Interior. Dia.)
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O som de “KYAN & MU540 - USD, é USD!”, Nos aproximamos do barraco-base, no alto do morro do Cantagalo. Adentramos e vemos o barraco em clima de festa. Caveira e Helena à frente de todos. Caveira cheio de correntes grossas de ouro e vestido com roupas de grife. Helena ao seu lado, também vestida com roupas chiques e com um mega hair.
CAVEIRA (Eufórico): NÓS CONSEGUIU IMPLANTAR A NOSSA FACÇÃO EM MAIS UMA FAVELA, TROPA! PARABÉNS PRA NÓS, CARAI!
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Ele estoura uma garrafa de espumante e todos os traficantes celebram junto com ele. Helena comemora, mais contida.
CAVEIRA: Tá todo mundo aqui convidado lá pra mansão do pai aqui! BORA CELEBRAR NOSSAS CONQUISTA, PORRA!
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Todos os traficantes vibram com a notícia. Caveira anda pelo meio deles e vai falar com Ulisses.
CAVEIRA: Aê, man, só não vai ter como tu ir não. Eu vou precisar de alguém pra ficar aqui de olho nas coisas e vai ser tu, firmeza?
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O sorriso de Ulisses se desfaz. Ele assente com a cabeça.
ULISSES (Cabisbaixo): Tá… tá bom, chefe.
CAVEIRA: Fica triste não, parceiro, na próxima tu vai. Ah, e o teu pagamento do mês eu deixei naquela caixinha ali em cima da mesinha, tá?
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Ulisses assente mais uma vez. Caveira se volta para os traficantes.
CAVEIRA (Eufórico): VAMBORA, GALERA?
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Os traficantes saem em disparada do barraco, entrando em alguns carros estacionados em frente à este. Caveira e Helena vão saindo por último.
CAVEIRA: Tu vai adorar a festa, sereia.
HELENA (Rindo): Não sei não, gatão, acho que eu vou ficar cansada, hein?
CAVEIRA (Sorrindo/Malicioso): Fica tranquila que depois eu te relaxo.
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Ele dá um tapa na bunda dela e agarra pela cintura, os dois saem, abraçados, deixando apenas Ulisses no galpão. Focamos nele. Instrumental triste.
ULISSES (Cabisbaixo): Merda…
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Ele vai até a mesinha e abre a caixa com o seu salário, vê dentro dela míseras notas de 100 reais, numa pequena quantidade. Ele joga a caixa no chão, desapontado. Se senta numa cadeira, e coloca as mãos sob a cabeça, pensativo.
FLASHBACK - ON
ULISSES: Eu não tô dizendo que é bonito, eu tô dizendo que é real! O sistema é podre, amor. A gente estuda, rala, se mata, e o cara que entra pro contrabando passa vinte casas na nossa frente! Isso não é justo, porra!
GLEICI: E o preço disso? Tu acha que ele dorme tranquilo?! Tu acha que o Rico lida como com o fato de que qualquer dia ele pode sofrer um atentado e morrer no meio da rua? Que qualquer um da família dele pode morrer pra um time rival?
ULISSES: Ele não dorme tranquilo, mas talvez ele durma num travesseiro de seda, num quarto confortável, debaixo de um ar-condicionado. Não sei, não… Às vezes eu acho que eu tô é perdendo tempo, que escolhi o caminho errado… que eu deveria ter ido pelo caminho mais fácil..
GLEICI (Furiosa): ERRADO É SE PERDER DE QUEM VOCÊ É, ULISSES!
FLASHBACK - OFF
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Ulisses chorando, muito arrependido das escolhas que fez. Ele olha a favela pela janela, desnorteado, chorando muito, pensando em tudo que perdeu.
CENA 20: (Mansão. Interior. Dia.)
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Paredão de som no gramado enorme da mansão, onde acontece uma festa. Vemos diversos traficantes curtindo, colocando suas armas pra cima, dançando com suas mulheres no gramado. Caveira e Helena também dançam um funk juntos, sensuais. Focamos em tudo o que vai rolando na festa: cigarro, droga, bebida, biquínis cavadinhos, beijos quentes, danças calientes, gente na piscina, gritos de comemoração, fogos sendo soltos no gramado. Todos ali se divertindo muito, celebrando a conquista da facção criminosa. Helena e Caveira se beijam, felizes, mais um dos beijos quentes e com pegadas fogosas do casal.
CAVEIRA (Sorrindo/entre beijos): Tu foi a melhor coisa que me aconteceu, minha sereia…
HELENA (Entre beijos): E eu não sei o que seria de mim sem você, meu gatão…
CAVEIRA (Malicioso): Fala que tu é minha sereia, vai…
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Helena se aproxima do ouvido dele e dá uma mordiscada, depois fala no ouvido dele.
HELENA (Sorrindo/Maliciosa): Eu sou a sua sereia…
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Caveira revira os olhos, com tesão. Ele aproxima o seu rosto do rosto dela, roçando a barba no pescoço da mulher, o que faz ela delirar também, e eles se beijam loucamente, tesudos. Vamos nos afastando…
CENA 21: (Presídio. Cela. Interior.)
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Ao som de “The Weekend - Earned It”, nos aproximamos da cela das detentas. Algumas delas leem livros, conversam entre si, jogam jogos de tabuleiro, para não escutarem os gemidos intensos vindos de uma das camas da beliche, coberta por alguns cobertores que não permitem elas a ver o que está acontecendo ali dentro. Focamos no interior dessa beliche coberta, onde Mauricéa e Lourão fodem com tesão. Elas se beijam, se desejando. Lourão desce pelo corpo de Mauricéa, beijando-a. Chupa os seios dela, fazendo a mulher revirar os olhos de prazer e pressionar a cabeça de Lourão ali, para que ela não pare. Lourão segue descendo com a boca pelo corpo de Mauricéa, até parar entre as pernas dela. Ali, faz Mauricéa se tremer inteira de tesão. Corte para ela subindo novamente e agora as duas roçando os seus corpos um no outro, com as pernas cruzadas. A clássica posição da “tesoura”. Ouvimos os gemidos deles, abafados por beijos quentes das próprias. Cortamos para o momento em que elas acabam a foda, e estão abraçadas uma a outra, deitadas juntas.
MAURICÉA (Cabisbaixa/Melancólica): Eu não quero que você vá embora…
LOURÃO: Eu sei, gata. Eu também não queria te largar aqui, mas olha… eu não vou te deixar desprotegida aqui, tá bom? Até porque você vai ser a nova mandachuva dessa porra aqui.
MAURICÉA (Incrédula): Eu?!
LOURÃO: Em quem mais eu poderia confiar, minha gata?
MAURICÉA: Não, amor… isso é coisa demais pra mim, eu nem sei se consigo…
LOURÃO: Você consegue sim! Tá ouvindo? Você é a melhor em tudo que você faz e eu não quero que você duvide disso NUNCA!
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Lourão faz um carinho no rosto de Mauricéa. Elas sorriem uma para a outra e dão mais um beijo.
MAURICÉA (Sorrindo/Emocionada): Espera por mim lá fora, tá bom?
LOURÃO: É claro que eu vou… e a gente vai ser muito felizes juntas ainda, tá?
MAURICÉA: A gente vai…
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Elas se abraçam mais forte.
LOURÃO: Me ajuda a fazer as minhas malas, gata?
CENA 22: (Presídio. Pátio. Exterior. Dia.)
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Cortamos para o pátio do presídio, onde Lourão caminha para a saída. A maioria das detentas ali, se despedindo dela. Mauricéa na frente de todas, dá um último beijo nela, e a vê se afastar. Já distante, Lourão acena para elas antes que o portão se feche. Todas acenam de volta. Focamos em Mauricéa, chorando, emocionada. Vamos nos aproximando dela, que desfaz sua expressão quando os portões da cadeia se fecham.
MAURICÉA (Gélida/Baixo): Já foi tarde, querida… agora é a hora de eu comandar essa porra toda aqui.
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Mauricéa é surpreendida por um grupo de detentas, que a carrega e suspende ela no meio do pátio. Começa “Beyoncé - Alien Superstar”.
DETENTA 01 (Eufórica): GENTE, AGORA QUE A LOURÃO SE FOI, TEMOS QUE ABRIR ALAS PARA A NOSSA MAIS NOVA RAINHA!
DETENTA 02: VIVA A MAURICÉA!!!
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Comemoração coletiva, as detentas jogam Mauricéa para cima e a seguram novamente, como se estivessem coroando uma rainha. Lá de cima, a mulher sorri, triunfante. Close aéreo na cena. Mauricéa radiante, gargalhando em comemoração.
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O anoitecer chega no Rio de Janeiro…
CENA 23: (Presídio. Cela. Interior. Noite.)
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Mauricéa fumando escorada na grade da cela, olhando a movimentação nos corredores. Uma detenta chega lhe cutucando por trás.
MAURICÉA: Que que é, garota? Já falei que não gosto de gente relando em mim.
DETENTA: Desculpa, dona Mauricéa… olha, eu vim aqui te propor uma coisa.
MAURICÉA: O que é? Fala logo. Olha, se for pra eu facilitar entrada de droga aqui nem vem, hein. Detesto cheiro de maconha!
DETENTA: Não… é muito melhor que isso. Olha, eu e umas detentas lá do bloco nove, a gente tava combinando de meter o pé daqui, entendeu?
MAURICÉA: Uma rebelião? (Rindo/Irônica): Vai contar piada uma hora dessas, querida? Vai dormir, vai.
DETENTA: Não… é uma fuga discreta mesmo. Olha, a gente já tem tudo certo! Os transportes, uma cúmplice aqui de dentro, um lugar pra ficar depois de fugir. Tem tudo pra dar certo, chefinha!
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Mauricéa se vira para ela, surpresa.
MAURICÉA (Incrédula): …o quê?!
DETENTA: Pois é! Eu só preciso saber se a senhora topa!
MAURICÉA: E vai ser pra quando essa fuga?
DETENTA (Sorrindo): Pra hoje, ué! O caminho já tá todo facilitado, a gente vai fugir pela janela da cela do lado. A nossa cúmplice já deu as chaves.
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A detenta levanta um molho de chaves, que enche os olhos de Mauricéa de esperança.
MAURICÉA (Sorrindo): Eu topo! Mas eu não vou pro destino junto com vocês… eu quero dar uma passadinha na Sapucaí pra ver um negócio. Mas relaxa, eu vou disfarçada…
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A detenta confusa, assente. Focamos em Mauricéa, sorrindo, maléfica. Instrumental tenso. Foco fechado nos olhos dela, com um quê de psicopatia.
CENA 24: (Mansão dos Veiga. Escritório. Interior.)
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Instrumental tenso. Marcinho, já arrumado para o casamento de Rico e Maria Brunessa, sentado no escritório, falando ao telefone. Expressão soturna.
MARCINHO (Gélido): Então… tá confirmado aquele serviço de hoje, né? (...) Vê se não desmarca em cima da hora, hein, cara. (...) É sério! Eu preciso muito disso. (...) Tá bom, até mais tarde então.
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Marcinho desliga e toma um susto quando Rico adentra o escritório de repente, sorrindo, emocionado, vestido de noivo. Terno verde escuro com detalhes em dourado e brasão de jacaré na gravata, bem chamativo.
RICO (Sorrindo): Tava falando com quem, mano?
MARCINHO (Nervoso): Tava resolvendo umas burocracias chatas, sabe como é, né… (Mudando de assunto/sorrindo): Mas vem cá, que jacarézão é esse, cara?
RICO (Sorrindo/Emocionado): Tô bonito?
MARCINHO (Sorrindo): Tá perfeito, meu irmão!
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Eles se abraçam, emocionados. Marcinho guia Rico até um quadro de Ailton Veiga, o pai deles, na parede.
MARCINHO: O nosso pai iria ter tanto orgulho de você, Rico…
RICO: Eu queria muito ter conhecido ele.
MARCINHO: Mas ele tá olhando por você lá do céu… (Rindo): Ou do inferno. Não sei exatamente pra onde ele foi, né… ele era um homem bom, mas era bastante sangrento com quem ele não gostava. Uma vez ele explodiu 5 cabeças em uma noite só.
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Rico o encara, tenso.
MARCINHO: Desculpa… isso não é assunto pra agora, né? Bom, tá pronto pra casar?
RICO (Sorrindo/Nervoso): Tô. Mas tô nervoso pra caralho!
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Marcinho passa a mão pelo ombro do irmão e eles vão saindo juntos da sala.
MARCINHO: Que isso, cara? O Rio de Janeiro te ama, fica tranquilo. Esse seu casamento nunca vai ser esquecido!
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Marcinho bate a porta, apaga a luz do escritório.
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Algumas horas se passam. Vamos passeando pelo Rio de Janeiro com um som de samba tocando pra cidade toda ouvir. Saímos de trás de um prédio e revelamos a imensa e maravilhosa Sapucaí, totalmente carnavalesca, toda decorada pelas fantasias coloridas de cada uma das escolas de samba enfileiradas ali.
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CENA 25: (Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Exterior. Noite.)
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Equipes de jornais de TV montando suas barracas na avenida para cobrir o evento, e os jornais mais desclassificados ficam para fora da arena. Vemos Rico adentrando o sambódromo, carismático, falando com todos e comprimentando cada um que vê pelo caminho. Marcinho adentra junto com ele, mais apático. Os dois são escoltados por seus seguranças, que afastam os jornalistas que se aproximam. Focamos na Unidos de Cantagalo, caracterizada na cor verde e com um mascote de jacaré enorme acima deles. São os primeiros da fila, irão abrir o desfile. Rico passa por eles ao longe, acenando, e todos acenam de volta.
LOCUTOR (Off): Atenção, minha gente! Em poucos minutos, a escola Unidos de Cantagalo abrirá o nosso grande desfile! O carnaval começa em instantes! Pra você que nos acompanha aqui do sambódromo, permaneça onde está. E pra você que acompanha da TV de casa, não saia do seu sofá!
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Zoom em Maria Joana, enfileirada junto com a escola, já caracterizada com uma roupa super chamativa de rainha de bateria, belíssima. Ela acompanha o trajeto de Rico com o olhar e vê o homem entrando em seu camarim. Ela olha ao redor, preocupada com o tempo, e vê um grande relógio digital pendurado em uma barraca de jornal indicando que o desfile começará em 10 minutos. Ela toca em Gleici, que está ao seu lado.
MARIA JOANA (Nervosa): Amiga, eu vou resolver uma coisa urgente! Juro que volto à tempo pro desfile!
GLEICI (Tensa): O quê?! Faltam só 10 minutos pra começar, Jô!
MARIA JOANA: Eu não sou de falhar com a minha palavra, mulher! Antes do desfile começar eu tô aqui!
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Maria Joana sai correndo, deixando Gleici desnorteada. Focamos em Maria Joana, que corre até o camarim. Maria Brunessa a encara, incomodada ao ver ela entrar no camarim de Rico. Volta o foco para Maria Joana. Os seguranças barram ela de primeira, mas a vêem como rainha de bateria da Unidos de Cantagalo e a deixam entrar.
CENA 26: (Camarim. Interior.)
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Rico em seu camarim, em frente ao espelho, ajeita a sua gravata e bebe uma água, nervoso. Ele escuta batidas na porta do camarim.
RICO (Nervoso ): Quem é, gente? Eu já disse que eu só preciso de 5 minutos pra respirar!
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Ele abre a porta e se depara com Maria Joana.
RICO: Jô?
MARIA JOANA (Séria): Desculpa incomodar, Rico. Mas é que a gente precisa ter uma conversa muito séria. A última, se Deus quiser.
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Ele repara nela vestida como rainha de bateria, encantado. A mulher colocando as mãos acima da barriga, tentando disfarçar.
RICO: Voceê não incomoda, aliás… (Encantado): Você tá linda…
MARIA JOANA: Obrigada, mas guarde os seus elogios pra você.
RICO: Desculpa, mas bem… o que você queria falar?
MARIA JOANA: Eu vim te fazer um pedido, na verdade. E, Rico, se você tem o mínimo de consideração por mim ainda, por favor, não nega isso.
RICO (Nervoso): E o que é de tão importante assim, Jô?
MARIA JOANA (Determinada): Rico, por favor, sai de lá da comunidade do Cantagalo. Larga aquela aérea! Você tem noção de tudo que a gente sofreu desde que essa merda de jogo do bicho entrou lá? Você viu a última guerra que vocês bicheiros provocaram naquela comunidade? Aquele lugar ficou num estado de apocalipse, Rico… e não é só isso. Vocês fizeram o tráfico crescer demais ali, e isso foi a pior coisa que aconteceu, porque você não tem noção do tanto de jovens que a gente perdeu pro tráfico lá. Fica o Ulisses de exemplo, não é? É só isso que eu te peço, Rico. Sai daquela área, deixa a gente em paz.
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Rico engole em seco com tudo o que Maria Joana falou. Ele se senta na sua cadeira em frente ao espelho e pega um papel.
MARIA JOANA: Essa é a sua reação? Você não vai ligar pro que eu falei?
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Rico escreve algo no papel e se levanta, ficando de frente para Maria Joana. Ele entrega o papel a ela e ela lê o que está escrito nele: “O Cantagalo está livre”.
MARIA JOANA (Confusa): O que você tá querendo dizer com esse papel, Rico?
RICO (Emocionado): Eu quero dizer que eu vou aceitar onseu pedido, Jô. E tá aí, escrito, porque no nosso ramo aqui, o que vale é o escrito… Eu não tenho nem como me desculpar por toda a desgraça que eu causei àquela comunidade. Talvez o melhor ato seja sair de lá mesmo.
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Maria Joana sorri, emocionada.
MARIA JOANA (Sorrindo/Emocionada): Muito obrigada, Rico… de verdade!
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Rico se levanta e estende a mão para ela. Eles apertam as suas mãos, em sinal de parceria. Porém, Maria Joana acaba descobrindo a barriga no meio do aperto de mãos e o volume chama a atenção de Rico, mesmo que a roupa esteja disfarçando um pouco a barriga dela. Instrumental tenso.
RICO (Incrédulo): Jô, você tá…
MARIA JOANA (Tensa): Eu não tô nada, Rico. Isso aqui é um detalhe da fantasia!
RICO: Não, é provável que você esteja, Jô… a última vez que a gente fez…
MARIA JOANA: Para com isso, Rico! Você tá maluco!
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Rico começa a chorar, emocionado.
RICO (Chorando/Emocionado): Não mente pra mim, Jô…
MARIA JOANA (Tensa): Eu não tenho mais nada pra dizer pra você… e o desfile já vai começar. Dá licença, Rico!
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Ela sai rapidamente do camarim, tensa. Rico a observa indo.
RICO (Emocionado): Meu Deus… a Jô tá esperando um… filho meu.
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Foco em Rico, emocionado. Um sorriso se abre no rosto dele.
CENA 27: (Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Exterior. Noite.)
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Maria Joana volta correndo para o seu lugar, faltando 10 segundos para o começo do desfile. Alguns burburinhos podem ser escutados pelo meio da equipe da escola, Maria Brunessa também fala mal da irmã. Todos se preparam para a escola desfilar na avenida.
LOCUTOR (Eufórico/Off): E AGORA, SEM MAIS SUSPENSE! ESTÁ COMEÇANDO AGORA O DESFILE DAS ESCOLAS NA MARQUÊS DE SAPUCAÍ, EDIÇÃO 2026! BORA PRA FRENTE, UNIDOS DE CANTAGALO!!!
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A marcha da escola começa a tocar e o desfile deles começa na avenida. O carro alegórico gigante vai primeiro, levando o grande mascote de jacaré. Rico dentro deste carro alegórico, vai acenando para todos os lados da avenida, comprimento todos ao redor. Depois do carro, podemos ver um grupo de sambistas como abre-alas, entre elas estão Kelly e Luciane, preparando o público para o que vem à seguir: Gleici como porta-bandeira, com o Mestre-sala ao seu lado. Eles performam juntos no meio da avenida, arrancando aplausos de todos que assistem ao desfile, os dois com roupas lindas, volumosas e chamativas. Gleici arrasando muito na sua performance e exibindo a bandeira da Unidos de Cantagalo para todo o sambódromo. E se os gritos e palmas para eles já estavam fortes, agora eles aumentam ainda mais para a entrada de Maria Joana e Maria Brunessa como rainhas de bateria. As suas roupas são lindas, brilhantes, representando as escamas de um jacaré misturadas à sensualidade e à extravagância carnavalesca. A Sapucaí toda vibrando para vê-las passar. Elas sambam lado à lado em sua performance. Maria Joana samba fervorosamente, com excelência, atraindo a empolgação da Sapucaí inteirinha. Maria Brunessa, ao seu lado, tenta sambar como a irmã, mas não consegue, samba toda troncha e desengonçada, atraindo alguns comentários negativos e sendo “engolida” por Maria Joana. Em determinado momento da performance, elas trocam de lugar. Vemos esse momento em câmera lenta, Maria Brunessa encara Maria Joana com rivalidade durante a troca e Maria Joana nem liga para a irmã, apenas tendo a certeza de que está sambando com excelência e dando o melhor de si. Elas seguem passando pela avenida, sendo o ponto alto do desfile. Em seguida, o grupo dos compositores adentra a avenida, liderado por Roberval e Paulão. Eles passam animando toda a avenida, tocando ao vivo a marcha da escola, em seus instrumentos. Após eles, um carro alegórico final e menor vêm finalizando o desfile, este exibe toda a equipe da Unidos de Cantagalo que contribuiu para o acontecimento do desfile. Entre a equipe, está Cátia, emocionada, orgulhosa de fazer parte de tudo aquilo, de ter planejado cada uma daquelas fantasias. Close aéreo no desfile da Unidos de Cantagalo, a escola sendo ovacionada pelo público. As demais escolas presentes na avenida entram em seguida, também apresentando performances surpreendentes que deixam o público sem fôlego. A última escola termina de desfilar.
LOCUTOR (Eufórico): O QUE FOI ISSO, BRASIL?! Nossas escolas arrasam demais!!!
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Todos vibram e aplaudem às escolas.
LOCUTOR: Mas agora é chegado o momento que pode ter sido o mais importante da noite para alguns aqui… É A HORA DO CASAMENTO DO RICARDO VEIGA, O PATRONO DA UNIDOS DE CANTAGALO COM A MARIA BRUNESSA, A BLOGUEIRA MAIS AMADA DO BRASIL!
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Todos vibram com a notícia, empolgados para ver o casamento. O meio da avenida se esvazia para que seja estendido um grande tapete branco e um pequeno altar é montado no meio da avenida, às pressas. Um padre se posiciona à frente, um microfone é colocado para ele. Todas as pessoas presentes ali assistem da arquibancada o casamento. O pessoal da Unidos de Cantagalo olhando com cara feia para eles. Ao fundo da avenida, podemos ver Maria Brunessa trocando de roupa em tempo recorde, com a ajuda de uma equipe de costureiras. Ela pronta, ansiosa, linda, sorridente. Uma cerimonialista presente lhe entrega o seu buquê, verde e dourado. A moça sorri, emocionada. Corte para Rico, já caminha pelo meio da avenida, sorridente, lindo de morrer como noivo, acenando para todos ao redor e sendo aclamado por eles, entra na avenida acompanhado de Marcinho. Ele caminha até o altar e para em frente, nervoso, tendo a visão geral da avenida. Marcinho posicionado ao lado, como padrinho do casamento. Agora, a câmera caminha até a entrada da avenida novamente, onde Maria Brunessa se posiciona e vai entrando, sozinha, fica um pouco triste ao perceber que está entrando sem o pai, mas não deixa isso lhe abater. A entrada dela é aclamada por todos. Diversos cliques nela, incessáveis. Ela vai caminhando até o pequeno altar e para na frente dele, em frente à Rico. O padre comanda uma rápida cerimônia.
PADRE (Sorrindo): Queridos familiares, amigos e todo esse sambódromo que hoje testemunha esta união. Estamos aqui para celebrar algo que ultrapassa qualquer diferença, qualquer julgamento e qualquer passado: o amor que nasce quando duas almas resolvem se reconhecer.
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Foco em Rico e Maria Brunessa, sorrindo, emocionados, se olham, dão as mãos.
PADRE: Ricardo e Maria Brunessa… muitos acreditavam que vocês eram improváveis. Que vinham de mundos distantes demais, realidades opostas demais, sonhos diferentes demais. Mas o amor tem essa teimosia bonita de acontecer onde ninguém espera, e de florescer onde ninguém ousaria plantar!
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Foco agora em Maria Joana e Gleici, que julgam horrores, não conseguem conter o riso no momento em que se olham. Voltamos o foco para o casal.
PADRE (Emocionado): Rico e Maria Brunessa… muitos acreditavam que vocês eram improváveis. Que vinham de mundos distantes demais, realidades opostas demais, sonhos diferentes demais. Mas o amor tem essa teimosia bonita de acontecer onde ninguém espera, e de florescer onde ninguém ousaria plantar! Hoje, vocês estão aqui, diante um do outro, escolhendo ser casa, ser porto, ser refúgio. Porque casamento não é sobre perfeição, casamento é sobre construção. (Rindo): É sobre olhar para o outro e dizer: "Eu te escolho mesmo com as bagunças, as manias, os defeitos e os medos. Eu te escolho porque a vida é mais bonita quando é contada ao seu lado".
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Rico e Maria Brunessa se emocionam, encostando as cabeças no ombro um do outro. Close coletivo na avenida, mostrando alguns ali muito emocionados com o discurso.
PADRE: Vocês aprenderam juntos que amor não é guerra. Amor é abrigo, amor é coragem, amor é um pacto silencioso de cuidar, respeitar, crescer e recomeçar quantas vezes forem necessárias. Que este casamento seja leve, mas que seja forte! Doce, mas verdadeiro. Divertido, mas cheio de propósito. Que vocês continuem caminhando como já fazem: um equilibrando o outro, um fortalecendo o outro, um lembrando ao outro que a vida vale a pena quando existe alguém que segura nossa mão sem soltar!
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Cliques e mais cliques de câmeras sob o momento.
PADRE: Que a vida de vocês seja longa, próspera e cheia de capítulos lindos, não escritos pela opinião dos outros, mas pela verdade que cada um carrega no peito! E que, acima de tudo, vocês nunca esqueçam que o amor é escolha diária. Hoje vocês escolhem um ao outro, amanhã também. E depois,e depois… até o fim dos dias.
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O padre respira fundo, emocionado. Rico e Maria Brunessa de frente um pro outro, nervosos.
PADRE: Dito isso, só me resta fazer as perguntas mais aguardadas… Ricardo Veiga de Oliveira, você aceita Maria Brunessa da Silva Lima como sua legítima esposa?
RICO (Sorrindo/Emocionado): Aceito!
PADRE: Maria Brunessa da Silva Lima você aceita Ricardo Veiga de Oliveira como seu///
MARIA BRUNESSA (Sorrindo/Cortando): ACEITO!
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Ela arranca risadas da plateia e do padre.
PADRE (Rindo): Sendo assim, eu vos declaro marido e mulher!
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Rico e Maria Brunessa se beijam, emocionados, lentamente, no maior clima. Vamos explorando a reação de todos pela Sapucaí, alguns contentes, emocionados, outros nem tanto. Até que, de um determinado ponto da arquibancada, vemos o visor de uma arma do tipo carabina, sendo segurado por um par de mãos cobertas por luvas pretas.
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Do visor da arma, podemos ver a mira posicionada no peito de Rico. Ouvimos um disparo. Câmera lenta e instrumental tenso imediatos na cena. Toda a Sapucaí olha para a mesma direção, tentando ver quem atirou, mas não conseguem achar, Rico também olha ao redor para ver, até que, em determinado momento, nota que todos estão olhando para ele. Ele olha para baixo, vê o vestido de Maria Brunessa manchado de sangue e a olha, chocado. Ela retribui o olhar. Quando eles se afastam, vemos Rico levantando uma de suas mãos e a vendo suja de sangue. O tiro foi em seu peito. O homem cambaleia, tonto.
BATISTA (Off): Eu tava tentando ser simpático até agora, mas você não me permite. Olha, Rico… se você quer que o morro tenha só um dono, então que assim seja.
RICO (Off): QUE QUE TU TÁ QUERENDO DIZER COM ISSO, PORRA?!
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Maria Brunessa desesperada, assim como todos. Alguns correm, outros ficam para ver o que aconteceu. Enfermeiros das ambulâncias locais já correm para tentar ajudar Rico, mas antes que possam chegar nele, outro tiro pode ser escutado, e esse vai certeiro na cabeça de Rico, espirrando sangue em quem está perto e eliminando todas as chances de que ele fique vivo. Ele vai bruscamente ao chão.
MARIA JOANA (Off): Conquista?! É isso que você chama de conquista? Viver correndo risco de vida, viver de contrabando?!
RICO (Off): É porque você só olha as coisas por esse seu lado politicamente correto. Sabe qual é a minha conquista agora, Jô? A minha conquista é não passar mais fome, não ver a minha família passando perrengue, conseguir pagar todas as contas sem ficar devendo à ninguém. Essa é a minha conquista!
MARIA JOANA (Alterada/Off): MAS À QUE CUSTO, RICO?!
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Foco aéreo na cena, vemos Rico morto, com dois tiros fatais. Maria Brunessa ajoelhada ao lado dele, chorando muito. O vestido de noiva cheio de sangue.
MARCINHO (Off): Bom, tá pronto pra casar?
RICO (Nervoso/Off): Tô. Mas tô nervoso pra caralho!
MARCINHO (Off): Que isso, cara? O Rio de Janeiro te ama, fica tranquilo. Esse seu casamento nunca vai ser esquecido!
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Os jornais vindo correndo para perto, tentando fotografar o corpo dele e toda Unidos de Cantagalo tentando se aproximar para ver o que aconteceu. Os primeiros acordes de “Bezerra da Silva - É o bicho é o bicho” ao fundo.
MAURICÉA (Off): Aqui dentro, não existe segunda chance. Se você cair, ninguém vai te estender a mão, nem eu. Eu vou estar te observando, Ricardo. Cada passo, cada movimento e se você errar, eu mesma acabo o que comecei!
RICO (Off): E se eu vencer?
MAURICÉA (Rindo/Off): Aí, quem sabe, você me surpreenda.
FIM
24/11/2025
©️ GS Literatura.
