Filho do Jogo - Episódio 06
“Revolta da Tigresa”
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CENA 01: (Unidos de Cantagalo. Exterior. Noite.)
• Close fechado no rosto de Rico. Ele com o telefone no ouvido e olhando para baixo, frio.
RICO: Maravilhoso. Já tava na hora de mostrar quem era o dono do jogo aqui. Obrigado e até a próxima…
• Ele desliga. Nós afastamos do rosto dele e podemos ver Maria Joana à sua frente de braços cruzados e cara fechada, só esperando o homem para que eles tenham uma conversa. Rico guarda o celular e olha para ela, aflito.
RICO: Desculpa, Jô. Sabe como é essa vida de negócios, né?
MARIA JOANA (Gélida): Não. Não sei e nem quero saber, Ricardo.
RICO: O que é que tá acontecendo? Eu tô te tratando normal e você já me responde com três pedras na mão!
MARIA JOANA: Rico, tu tem noção da desgraça que você tá causando aqui na comunidade?
RICO (Rindo): Desculpa… desgraça?! Tá longe de ser uma desgraça a fase que essa comunidade tá vivendo, Jô. Toda semana tá tendo doação de cesta básica, de remédio, de uma pá de coisa aqui. É impossível que o povo aqui tá achando isso ruim.
MARIA JOANA: Ah, e por isso todo mundo aqui tá fechando o olho pra essas movimentações estranhas que tão acontecendo aqui, né, Rico? Um monte de homem que a gente nunca viu, uns homens andando armados, carregando pacote com sabe Deus lá o quê! Eu não sei se o povo da comunidade sacou, mas eu saquei muito bem as coisas aqui, Ricardo. Você tá fechando acordo com traficante, né?!
RICO: Eu?! Como você pode pensar uma coisa dessas de mim, Jô?
MARIA JOANA: Ah, então você quer me dizer que não tá envolvido com esse pessoal da barra pesada?
RICO: Não, claro que eu não tô!
MARIA JOANA: Pois eu tenho certeza que tá, Rico. Por exemplo, com quem você tava “resolvendo negócios” nesse celular?
• Rico não consegue inventar uma desculpa e se cala.
MARIA JOANA: Tá vendo só? É por essas e outras que eu quero terminar tudo o que a gente tem. Eu não nasci pra ser mulher de bandido.
• Rico paralisa, abalado com tudo o que Maria Joana falou.
RICO (Abalado): Bandido? Terminar?! Pera lá, Jô. Você tá indo longe demais!
MARIA JOANA: Bandido é o que você é, Rico. Não tem outra palavra… e é isso mesmo que você tá ouvindo. Você ter comprado essa comunidade e as pessoas daqui com o seu dinheiro, mas a mim você não compra. Tá tudo acabado, Rico.
RICO (Chorando): Jô, por favor, você precisa entend///
MARIA JOANA (Furiosa/Cortando): EU JÁ ENTENDI DEMAIS O SEU LADO, RICO! Eu fechei os meus olhos quando, mesmo eu tendo avisado, você foi lá atrás da sua família de bicheiro; fechei os olhos quando você chegou aqui na comunidade querendo mostrar pra todo mundo a riqueza que o contrabando te deu; fechei os olhos pro dinheiro subindo à sua cabeça… mas agora chega, Ricardo! EU NÃO QUERO MAIS ISSO PRA MINHA VIDA!
• Maria Joana se vira para sair, mas Rico a segura pelo braço antes.
RICO (Em prantos): Jô, por tudo que a gente já viveu… não faz isso.
MARIA JOANA (Furiosa): Sem apelo emocional, Ricardo.
• Ela se solta bruscamente do braço dele e se afasta. Foco em Rico, incrédulo e abalado.
CENA 02: (Motel. Interior. Noite.)
• Foco aéreo no caos. Vamos nos aproximando da cena. Mauricéa completamente nua, enrolada nos lençóis, assustada. Batista levanta, nu mesmo, mas recua com medo de Helena. Helena alterna a mira da arma entre eles.
HELENA (Chorando/Ódio): QUE PORRA É ESSA? HEIN? Eu sabia… eu sempre soube que você tava me traindo, Batista! Eu podia imaginar que você tava me chifrando com qualquer putinha por aí, mas com ela?! COM ESSA VÍBORA?!
• Mauricéa engole seco, temerosa.
MAURICÉA (Nervosa): Helena, abaixa essa arma, por favor… Você não quer que isso termine em tragédia, quer?
HELENA: CALA A BOCA, SUA DESGRAÇADA! Que porra que justifica você estar comendo uma mulher rival da nossa família, Batista?! VOCÊ TÁ DESTRUINDO A NOSSA FAMÍLIA, TUDO O QUE A GENTE CONSTRUIU JUNTOS!
• Batista tenta se aproximar de Helena lentamente.
BATISTA: Helena, por favor, me escuta… a gente pode conversar sobre isso assim que você me der essa arma aqui… Não é nada do que você tá pensando, eu te prometo, meu amor!
• Helena dá uma risada sarcástica e coça a cabeça com a arma. Gesticula com a arma enquanto fala.
HELENA: Não é?! Você quer o quê? Que eu desenhe a cena, Batista? Quer que eu descreva o que eu ouvi atrás da porta?!
• Batista tenta se aproximar mais e ela engatilha a arma, furiosa
BATISTA: Calma, Helena, olha pra mim… ninguém precisa se machucar aqui!
HELENA: Verdade, ninguém pode se machucar aqui… SÓ A CORNA DA HELENA QUE PODE! SÓ A INFELIZ DA HELENA QUE PODE SOFRER DURANTE 20 ANOS DA VIDA DELA PRA SUSTENTAR A PORRA DE UM CASAMENTO ENQUANTO O MARIDINHO TRAI ELA COM UMA PUTINHA DA FAMÍLIA RIVAL! (Rindo/Ódio): Olha, vocês bicheiros são engraçados… mas que bela história isso daria, hein? (Em prantos): O CASAL DE BICHEIROS QUE SE ODEIA EM PÚBLICO MAS SE COME COMO DOIS ANIMAIS NA CAMA! OLHA QUE LINDO!
• Helena chora mais forte, e começa a tremer muito. A arma cambaleando na mão dela. Mauricéa olha para a tremedeira dela como uma oportunidade para acabar com aquela situação. Dá uma olhada discreta para Batista e o homem já entende.
MAURICÉA (Tensa): Se você atirar, você vai acabar com a sua vida também, Helena. Pensa no seu nome, nas manchetes de amanhã… “esposa traída mata marido e amante num motel barato”. É isso que você quer pra você?
• Helena respira fundo, com ódio. Enfraquece as mãos por um instante.
HELENA: Você cala essa boca, Mauricéa! Se eu quiser, VOCÊ É A PRIMEIRA!
• Batista aproveita a distração e avança em Helena de uma vez. Eles entram em luta corporal pela arma. Ao fundo, Mauricéa corre e se tranca no banheiro. Helena berra sem parar, tentando tirar a arma de Batista. De repente, a arma cai no chão e desliza até os pés da cama. Batista vê aquilo e segura Helena com força, contendo-a.
HELENA: ME SOLTA, SEU COVARDE!
BATISTA: Calma, Helena! Você vai acabar fazendo uma besteira e isso vai estragar a tua vida toda, porra!
• Helena desiste de se debater e enfraquece, se escorando em Batista.
HELENA (Chorando): Por quê, Batista? Por que logo ela?!
BATISTA: Helena, eu… não planejei isso.
HELENA: Não planejou? VOCÊ PLANEJA TUDO, BATISTA! Só não planejou eu descobrir, né?
• Helena se retira, furiosa. Batista veste suas roupas rapidamente e vai atrás dela, batendo a porta do quarto. Ao ouvir o silêncio, Mauricéa sai do banheiro. Ela olha tudo ao redor, aliviada. Ri da situação.
CENA 03: (Mansão Avillar. Interior. Noite.)
• A porta da mansão se abre bruscamente ao ser empurrada com toda força por Helena. Ela adentra a casa berrando, claramente transtornada. Batista vem logo atrás, tentando contê-la.
HELENA (Gritando/Chorando): NÃO ENCOSTA EM MIM, BATISTA. NÃO RELA MAIS NENHUM DEDO EM MIM, SEU DESGRAÇADO!
BATISTA (Gélido/Alterado): Helena, para agora com esse escândalo. Você tá fazendo um papel ridículo pra caralho e depois isso vai pesar pro seu nome.
HELENA: Que que é? Você tá com medo que o meu escândalo apareça nas redes sociais, que fique na boca do povo? POIS SAIBA QUE SE O MEU NOME REPERCUTIR O SEU TAMBÉM ENTRA NA RODA E TODO MUNDO VAI SABER QUE VOCÊ TAVA ME TRAINDO COM UMA VEIGA DE OLIVEIRA!
• Agressivo, Batista a segura pelo braço e se aproxima do seu ouvido.
BATISTA (Sério/Baixo): Você acha mesmo que tem essa importância toda, Helena? Eu compro todos os veículos de notícia desse Rio de Janeiro se for preciso, minha cara. Do mesmo jeito que você não sabia até agora que as minhas reuniões noturnas eram num motel fazendo um sexo bem gostoso com a Mauricéa, coisa que por sinal você nunca conseguiu me proporcionar, você também não sabe de milhares de coisas sobre mim. Então antes de sair abrindo a boca por aí, toma cuidado pra não acordar com ela cheia de formiga…
• Helena estremece. Encara ele, temerosa.
HELENA (Chorando/Baixo): Mas eu vou me separar de você, e não vai ter nada que impeça isso…
BATISTA: Só vê se não faz alarde na justiça porque eu posso parar um processo na hora que eu quiser, Helena. Lembra que no momento que você sair dessa casa, a única coisa que vai te garantir algum benefício é ter o meu nome na sua certidão de casamento. E como eu sou um homem muito bom, eu vou deixar isso tudo à mercê da sua escolha. Só vê se escolhe bem direitinho pra não se arrepender.
• Helena se prepara pra responder ele, mas é interrompida por Rafael e Marcelo, que descem as escadas da casa, confusos.
MARCELO (Assustado): Mãe? Pai? O que tá acontecendo aqui?
RAFAEL: Tá dando pra ouvir os gritos de vocês lá de cima, pelo amor de Deus…
HELENA (Chorando): Pede pro pai de vocês explicar, eu não falo mais nada dentro dessa casa, amanhã mesmo eu tô indo embora daqui. Sabe por quê? Porque a única coisa boa que eu tenho na minha vida são vocês, meus filhos. Fora isso, é tudo uma bela desgraça!
• Helena sobe as escadas, abalada. Rafael e Marcelo a olham, assustados, e depois olham para Batista. Zoom no rosto do homem, abalado, mas contido. Ele não dá explicação alguma aos filhos e sobe as escadas também.
CENA 04: (Mansão Avillar. Suíte. Banheiro. Interior.)
• Batista adentra o banheiro e se livra da sua camisa, jogando ela no chão. Passa a mão pela cabeça, respirando fundo, tentando se acalmar de todos os últimos acontecimentos. Lava o rosto na pia e seca com a toalha. O celular dele vibra no bolso e ele pega para olhar. Quando vê do que se trata, o seu momento de relaxamento chega ao fim. Nos aproximamos do celular dele e vemos uma foto da sua farmácia em ruínas com fogo e bombeiros tentando conter o caos em volta. Um texto escrito na imagem: “Farmácia comandada pelo representante do bicho, Batista Avillar, é explodida por um grupo de marginais”. Focamos na expressão de Batista, furioso.
BATISTA (Ódio): Rico… QUE INFERNO! Parece que tudo tá dando errado nessa porra hoje!
• Ele entra no aplicativo de ligações, possesso, e disca um número.
BATISTA (Gélido): Batista Avillar falando. Tá prestando serviço ainda, rapaz?
HOMEM (V.O. Telefone): Tô sim, mestre! Pó mandar a carta aí.
BATISTA: Eu quero que tu faça um servicinho pra mim nessa madrugada. Tu vai procurar um galpão lá na comunidade do Cantagalo, não é tão difícil de achar. Lá é onde um inimigo meu descarrega os caça-níquel e os outros maquinários dele… eu quero que tu taque o caralho lá, não é pra sobrar nada naquela porra, ouviu bem?
HOMEM (V.O. Telefone): Belezinha, chefe… mas me conta, esse inimigo aí é o Rico Jacarézinho, né não?
BATISTA: Foi-se o tempo que marginal só fazia as coisas por dinheiro, agora até fofoca querem ficar especulando. Irmão, só faz o que eu tô mandando tu fazer que o teu pagamento vai ser bem gordo.
• Batista desliga e se olha no espelho, revoltado.
BATISTA: Esse novato vai aprender que as coisas comigo voltam em dobro pra quem fez… eu só ainda não mato esse desgraçado porque eu quero estar lá pra ver ele morrendo na minha frente, (Sarcástico/Rindo): e infelizmente a minha agenda anda muito cheia, não tenho tempo pra isso.
• Instrumental tenso. Nós vamos nos afastando dele…
• Nos aproximamos da fachada da mansão dos Veiga de Oliveira.
CENA 05: (Mansão dos Veiga. Suíte. Interior. Noite.)
• Vamos nos aproximando do quarto onde Cátia e Paulão estão. Paulão dorme, mas Cátia está acordada ao lado dele. Ela visivelmente angustiada, se vira e abre a gaveta da sua bancada. Retira um porta-retrato de lá, há a foto da família lá: Cátia, Paulão, Kelly e Rico. Ela passa as mãos pelo rosto de Rico na foto.
CÁTIA (Angustiada): Você nem imagina, meu filho… Que tudo o que você já descobriu não faz parte nem da metade do que é escondido de você… Que inferno ter que esconder isso de você, meu filho.
• Ela respira fundo, tentando conter as lágrimas e encosta o quadro no peito.
CÁTIA: Mas um dia tudo isso vai vir à tona, porque você merece saber. E quando vier... que Deus tenha piedade de nós… (Chorando): de mim.
• Ela recoloca o quadro na gaveta, fecha e se deita novamente. Olha para o teto, muito aflita.
• Instrumental tenso. Close aéreo na comunidade do Cantagalo, durante a madrugada. Voamos por todas as casinhas até encontrarmos um galpão no finalzinho da comunidade. Nos aproximamos dele.
CENA 06: (Galpão. Ext/Interior. Dia.)
• O galpão de Rico cercado com um grande portão e uma cerca elétrica, o que dificulta a entrada. Nos afastamos um pouco da fachada do galpão e revelamos um grupo de homens à frente dele, com diversos materiais e ferramentas. Alguns deles avançam juntos sob o grande portão, batendo com barras de ferro até derrubarem. Quando derrubam, o portão cai puxando a cerca elétrica para baixo, o que faz com que a cerca comece a pegar fogo. O resto dos homens aproveitam o portão caído para adentrarem o galpão com galões de gasolina em mãos. Corte para o interior do galpão. O segundo portão que dá entrada para o local em si é derrubado pelos homens e eles entram com tudo, já espalhando a gasolina por todos os cantos do galpão. Cortes de cenas deles derramando o líquido inflamável em vários locais: nos caça-níqueis e em cima das outras máquinas, nos andares de cima do galpão, nas caixas de papelão que guardam as encomendas pra comunidade. Em seguida, eles riscam um fósforo e deixam cair no chão. O caos é imediato e o fogo vai tomando conta de tudo rapidamente. Close aéreo no galpão. Vemos cortes de tudo ali queimando, algumas máquinas explodindo, o fogo corroendo toda a estrutura do segundo andar que fica à um fio de despencar. Saímos do galpão e podemos ver o local sendo consumido pelo fogo completamente, entrando em ruínas.
• Ao som de “Jhessé, Ton Carfi - Preparar, apontar, fogo”, vemos a comunidade do Cantagalo do alto. O sol nascendo por completo, iluminando as primeiras horas do dia.
CENA 07: (Comunidade. Barraco-base. Interior. Dia.)
• Nos aproximamos do Barraco-base, onde Cantagalo e Caveira estão. Cantagalo vasculha uns armários e encontra uns papéis. Caveira observa. Cantagalo pega os papéis, coloca numa pasta e vai até ele.
CANTAGALO (Rindo): Aê man, vou te dar uma chance de tu ver a coroa gostosona que tu tava secando aqui.
CAVEIRA (Rindo): Qual foi, cara?
CANTAGALO: Sério agora, eu preciso que tu entregue esses papel aqui lá na casa do marido dela.
• Cantagalo estende o braço, entregando a pasta pra Caveira.
CANTAGALO (Rindo): Vai logo, vai, que eu sei que tu tá doidinho pra ir.
CAVEIRA (Rindo/Malicioso): Pode deixar que esse serviço vai ser muito bem executado, chefe. E reza aí pro bicheirin lá não tá em casa! Mano, falando nisso, eu acho que ele mandou botar fogo no barraco do Rico aqui na comunidade!
CANTAGALO: Eu tô ligado, nada aqui acontece sem eu saber.
CAVEIRA: Pelo amor de Deus, cara. Esse negócio de se meter com dois bicheiro ao mesmo tempo vai dar ruim pra nóis, hein…
CANTAGALO: Tá sendo ruim o tanto de dinheiro que a gente tá recebendo, irmão? Não tá, né? Então relaxa aí e vai logo fazer essa entrega na casa da tua namoradinha, vai.
CAVEIRA (Brincando/Malicioso): Deus me livre! Quem me dera…
• Eles riem e Cantagalo dá um tapa nas costas de Caveira. Caveira pega o capacete de sua moto e se retira do barraco.
CANTAGALO (Rindo): De duas uma, ou esse cara morre ou ele vai ter um futuro muito próspero…
• Ele ri, se divertindo.
CENA 08: (Mansão dos Veiga. Sala de refeições. Interior. Dia.)
• Nos aproximamos da família Veiga de Oliveira tomando café da manhã. Mesa farta com frutas, sucos, bolos, pães e petiscos. Rico e Mauricéa sentados nas pontas da mesa; Cátia, Paulão, Kelly e Alaor sentados nas demais cadeiras. Rico radiante, levanta o seu copo de suco e bate nele com uma colher, chamando a atenção de todos.
RICO (Sorrindo/Eufórico): Minha família linda, eu quero fazer um brinde!
PAULÃO (Rindo): Qual a novidade da vez, meu filho?
MAURICÉA (Sarcástica): Também não posso conter a minha curiosidade, o Ricardo sempre tá me trazendo uma surpresa…
RICO: Esse brinde é muito especial, titia. Sabem porque? Porque a partir de hoje… O RICO JACARÉZINHO É O NOVO PATRONO DA UNIDOS DE CANTAGALO!
• Cátia, Paulão e Kelly vibram com a notícia, animadíssimos. Mauricéa se assusta com a euforia exagerada, Alaor faz um sinal para que ela disfarce a expressão.
KELLY (Gritando/Eufórica): MENTIRA! PARA TUDO!!! JÁ PODE TÁ AVISANDO QUE O MEU IRMÃO É O DONO DA PORRA TODA AGORA, GENTE?!
CÁTIA: Olha a boca, Kellyane! (Animada): MEU FILHO, QUE NOTÍCIA MARAVILHOSA! A comunidade vai ficar em festa quando souberem!!!
PAULÃO (Eufórico): AH, GAROTO! Isso sim é homem de verdade mesmo. É isso que eu gosto, ver um homem que se mete nas coisas do povo, que põe a cara a tapa!
RICO (Sorrindo): Pois é! Eu me voluntariei pro Roberval e ele aceitou! Sabe, eu quero estar mais perto da comunidade, fazer o nome dos Veiga de Oliveira brilhar por lá também! O jogo só tá se expandindo, minha gente!
CÁTIA: A Unidos de Cantagalo vai ter o melhor patrono que esse Rio já viu!
• Mauricéa força um sorriso, fingindo estar feliz com a situação.
MAURICÉA: Ah, que lindo, Rico… meus parabéns. Que o samba traga muita alegria pra vocês, né.
RICO: Você e o Alaor estão convidados pro samba de comemoração hoje! O pessoal vai estar todo lá, vai ser lindo.
• Mauricéa respira fundo, claramente desconfortável.
MAURICÉA: Eu agradeço, querido, mas não vai dar. Eu tenho uns compromissos e confesso que não sou muito chegada a esses... ambientes populares. (Baixo): Música alta, gente suada, cheiro de cerveja... cruz credo. (Entonação normal): Mas vão vocês e curtam bastante… como é que fala? Coloquem o samba no pé pra jogo!
• Cátia e Kelly se olham, julgando Mauricéa.
RICO: Tudo bem, titia, mas se mudar de ideia, vai ser um prazer te ver lá.
• Alaor recebe uma notificação no celular e dá uma olhada em quem enviou mensagem para ele. Se surpreende ao ver quem foi e guarda o telefone rapidamente, já se levantando da mesa.
ALAOR: Com licença, Rico… Eu acabei de receber uma mensagem. Assunto urgente do trabalho, sabe como é, eu preciso resolver isso agora! Mas obrigado pelo convite, meu sobrinho. Tenho certeza que você vai fazer bonito lá!
RICO: Valeu, Alaor.
• Alaor sai, apressado. Mauricéa observa o trajeto dele, desconfiada. Clima pesado na mesa. Rico quebra o peso erguendo o copo e sorrindo.
RICO: AO NOVO PATRONO DA UNIDOS DE CANTAGALO!
• Todos brindam, empolgados. Mauricéa tentando fingir normalidade no meio de tanta empolgação.
CENA 09: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior. Dia.)
• O salão da Unidos de Cantagalo cheio de moradores organizando o local. Carregando caixas, arrumando mesas, enfeitando o local para a apresentação de Rico como novo patrono da escola. Entre eles, Maria Joana, Gleici e Ulisses. Foco neles, tirando enfeites de algumas caixas num canto do salão.
GLEICI: Gente, tô pasma que de um dia pro outro o Rico vira um dos bicheiros mais importantes do Rio de Janeiro e do dia pra noite ele vira o patrono da Unidos de Cantagalo também.
MARIA JOANA: Pois é, amiga. O dinheiro leva as pessoas à caminhos inimagináveis… E infelizmente o Rico conseguiu comprar o meu pai, e conseguiu comprar a Maria Brunessa também, porque aquela garota anda com uma síndrome de Ísis Hoffmann que eu vou te contar!
GLEICI: Ai gente, credo… eu não consigo nem me imaginar nesses caminhos de jogo do bicho, sabia? Morro de medo de morrer! E outra que esses homens só vivem em pé de guerra. Ontem mesmo explodiram a farmácia de um e o cara mandou incendiar o galpão do outro, tudo na mesma noite!
ULISSES: Inclusive o Rico devia tá metido nessa encrenca aí, porque foi o galpão dele que incendiaram.
GLEICI: Sério, amor? Deus é mais, a vida do Rico tá bem arriscada mesmo, eu não me assustaria se do nada ele aparecesse morto por aí.
MARIA JOANA: Longe de mim desejar mal pro Rico, mas nesse caminho que ele tá, parece que é a morte mesmo que ele tá caçando.
ULISSES: Mas gente, querendo ou não, esse caminho que ele decidiu seguir pode ser perigoso, mas é muito próspero também. Vocês já viram como bicheiro enriquece rápido? Porra, eu espero ter a mesma sorte que ele teve, porque imagina você sair da comunidade do Cantagalo pra ir morar na zona sul do Rio do dia pra noite? É nascer com a bunda virada pra lua mesmo…
MARIA JOANA (Assustada): CREDO, ULISSES! Nem fala uma coisa dessas, garoto!
GLEICI: Olha que eu não nasci pra ser mulher de bicheiro, hein, Ulisses!
ULISSES: Mas é verdade, gente. Por exemplo, eu trabalho como enfermeiro, cargo que muita gente disputa, e ganho uma merreca do governo! A minha sorte é que eu só moro com a Gleici porque imagina se a gente tivesse filho? Não ia dar nem pra pagar as contas direito… as vezes o contrabando não é o pior dos caminhos.
MARIA JOANA: Você só pode tá falando isso da boca pra fora Ulisses, puta que pariu.
GLEICI: Por favor, amor, para com esses assuntos agora! Nem pensa numa coisa dessas! Você ainda vai se tornar um grande médico e vai mudar de vida sendo um homem honesto!
• Ulisses passa as mãos sobre o rosto, pensativo.
CENA 10: (Mansão Avillar. Ext/Interior. Dia.)
• A moto de Caveira estaciona em frente à mansão dos Avillar. Ele desce do veículo e pega a pasta que Cantagalo lhe deu. Retira o seu capacete e guarda na mala da moto. Checa a aparência no espelho da moto e se dirige até o portão da mansão, tocando a campainha. Uma tela se no portão e indica que Caveira coloque o rosto para ser reconhecido. O acesso é negado, mas de repente uma voz começa a falar com ele pelo interfone.
HELENA (V.O. Interfone): Oi? Eu acho que tô te reconhecendo de algum lugar…
CAVEIRA (Rindo): E eu tenho certeza que tô te reconhecendo, nunca que eu ia confundir a voz dessa sereia que foi lá visitar o morro.
HELENA (V.O./Rindo): Você que tá dizendo… mas o que você veio fazer aqui na minha casa, meu bem?
CAVEIRA: O chefe mandou uns documento pro teu maridinho assinar.
HELENA (V.O.): Ex-marido, tá bem?
CAVEIRA (Rindo/Malicioso): Bom saber…
HELENA (V.O.): O que você quis dizer com isso?
CAVEIRA: Vai deixar esse peixão aqui secando no sol mesmo, sereia?
• Helena desliga a ligação no interfone e Caveira ri. O grande portão da mansão se abre e Caveira adentra. Ele admirado com o luxo do local. Adentra a casa e vai até a sala de estar, onde Helena está. Ele repara em várias malas no chão.
CAVEIRA: Caralho, tá separando mesmo hein, sereia?
HELENA: Pois é… vem cá, você tá me chamando de sereia porque me acha parecida com uma ou porque não sabe o meu nome?
CAVEIRA: Eu não sei o teu nome, mas mesmo que eu soubesse, ainda ia te chamar de sereia… azar do teu marido perder uma mulher como tu.
HELENA (Rindo/Maliciosa): E o que seria uma mulher como eu?
CAVEIRA: Porra, tu tem uma aura de gente responsável, sábia. Parece ser uma mulher dessas que não se encontra em qualquer lugar… além do que tu é uma maravilha do mundo também, né? Toda esbelta… tão linda, pô.
• Helena ri, tentando resistir aos flertes dele. Ela fecha uma mala e coloca no sofá.
HELENA: A última. Não vejo a hora de dar o fora dessa casa! Mas enfim, meu bem, sobre o que são esses documentos aí?
CAVEIRA: É coisa de área lá no morro e essas coisas, pra ver o que o Batista tem direito lá e tal.
HELENA: Entendi… vem comigo aqui no quarto, pra eu dar uma olhada nesses documentos.
• Helena olha para ele com malícia e começa a subir as escadas. Caveira sorri, também malicioso e a acompanha.
CENA 11: (Mansão Avillar. Suíte Casal. Interior. Dia.)
• Helena adentra primeiro e Caveira depois. Caveira deixa os documentos em cima de uma bancada do quarto, finge estar interessado nos documentos.
CAVEIRA: Tu tem uma caneta aí, sereia?
• Caveira é interrompido pelo barulho da tranca da porta. Helena pega a chave e deixa sob uma bancada. Se aproxima de Caveira, tesuda, alisando o rosto do rapaz e aproximando os rostos deles. Caveira logo entende e envolve Helena pela cintura. Eles se comem com os olhos, ardendo de tesão um pelo outro.
HELENA (Maliciosa): Você não acha mesmo que a gente veio aqui pra assinar algum documento, ou acha?
CAVEIRA (Rindo/Malicioso): Que isso, pô, nem tava pensando em documento…
• Eles riem e se beijam. O beijo começa lento, eles chegam a cruzar as línguas mas Helena interrompe, provocando ele. Ele lambe a boca dela, querendo mais, e ela cede. Eles se beijam loucamente agora, se desejando quase que com desespero. “Cardi B, Megan thee Stallion - WAP!” começa à dar som à cena. Corte rápido para os corpos deles já balançando na cama, que range no compasso da foda deles. Caveira por cima, e Helena alternando entre arranhar as costas dele e apoiar os braços na nuca do rapaz, alisar o peitoral dele enquanto fodem freneticamente, milhares de opções de pegadas. Os seios dela balançam, roçando no peitoral dele, que arde de tesão ao ver o movimento deles. Não resiste e coloca o rosto entre os seios da mulher, sentindo eles baterem nos seu rosto e alterna entre sentir o impacto dos seios e chupá-los, o que leva Helena à cargas cada vez mais altas de prazer. Ela se sente desejada como nunca antes. O som da cena fica bem baixo e a câmera sobe para o teto, onde só podemos ouvir os gemidos deles. Um gemido prolongado de Helena indica que a mulher chegou à um orgasmo intenso. A câmera desce novamente e vemos Helena e Caveira deitados lado à lado, ofegantes.
CAVEIRA (Ofegante): Caralho… se eu fosse casado contigo, nunca que eu ia te largar.
HELENA: Não fala as coisas da boca pra fora, tatuadinho.
CAVEIRA: Tô te falando, cara. Esse Batista aí não sabe a beldade que ele tá perdendo, a carne só cai no prato do vegano mesmo.
• Helena dá uma gargalhada sincera, mas depois volta a ficar séria.
HELENA: Mas bom, se o Batista acha que eu vou ficar com a cara na poeira depois de sair dessa casa, ele tá muito enganado…
CAVEIRA: Esse cara tá tentando complicar tua vida? Eu resolvo isso em dois tempo, pô.
HELENA: Pode ficar tranquilo, meu bem… eu tenho uma carta na manga que pode me ajudar a colocar o Batista em ruínas! Alaor o nome dele… já mandei uma mensagem pra começar o meu plano.
CAVEIRA (Rindo): Além de tudo, tu ainda é astuta…
HELENA: Você não viu nada!
• Eles riem.
CENA 12: (Mansão dos Veiga. Gramado. Exterior. Dia.)
• Rico, Cátia, Paulão e Kelly curtem a piscina. Brincam juntos dentro dela.
KELLY (Rindo): Gente, como isso aqui é bom num dia de calor como esse, meu Deus! Lá na comunidade a gente tinha um ventilador meia bomba e um sonho!
RICO (Rindo): Mas agora pode ficar tranquila porque isso nunca mais vai ser uma preocupação pra você, minha irmã!
• Eles riem e batem as mãos.
CÁTIA (Rindo): Não fala assim do nosso ventiladorzinho, porque ele aguentou muita coisa, hein, minha filha!
PAULÃO: Mas também, já tava na hora do bicho descansar, trabalhou demais! Agora é essa piscininha que vai ter bastante trabalho!
• Eles riem. O momento de descontração é interrompido por Mauricéa, que chega correndo à beira da piscina, desesperada.
MAURICÉA (Desesperada): RICARDO! SAI DESSA PISCINA E ME ENCONTRA NO ESCRITÓRIO AGORA! ADIANTA!
• Rico a encara, tenso.
CENA 13: (Mansão dos Veiga. Escritório. Interior. Dia.)
• Rico no escritório, de roupão. Mauricéa sentada na mesa à sua frente, mostra para ele a notícia do galpão incendiado no computador.
MAURICÉA (Furiosa): E eu só fiquei sabendo disso porque o corpo de bombeiros me ligou pra avisar, porque eles disseram que ligaram pra você e você estava indisponível. Puta que pariu, Rico! Que merda causou esse incêndio? Esses caça-níqueis que você comprou tavam bons mesmo? E as máquinas, apresentaram algum defeito?
• Rico puxa o computador para perto, encara a notícia, furioso.
RICO (Ódio): É claro que não, Mauricéa! FOI ALGUÉM QUE FEZ ISSO NO MEU GALPÃO… O Batista… FOI BATISTA! DESGRAÇADO!!!
MAURICÉA: O quê?! E porque ele faria isso, Ricardo?
RICO: Porque eu…
MAURICÉA: Caralho, o que você fez?!
RICO: Ele… ele tava me humilhando na cúpula, falando umas coisas pra me desmoralizar, pra me provocar e eu não me aguentei… eu mandei explodir uma farmácia que ele tem numa favela lá.
MAURICÉA (Furiosa): QUE MERDA, RICO! PORRA, VOCÊ NÃO DEVIA TER FEITO ISSO NEM NO SONHO!
RICO: E ERA PRA EU TER AGUENTADO AS PROVOCAÇÕES DELE, CARALHO?!
MAURICÉA: Querido, se tem uma coisa que bicheiro gosta é de provocar, eles já fazem isso com o intuito do amiguinho se estressar e fazer algo contra ele, e isso dá abertura pra ele fazer algo duas vezes pior. Você deu sorte que o Batista decidiu só incendiar o seu galpão, isso que você fez poderia ter custado a vida da sua mãe, da sua irmã. VOCÊ TEM NOÇÃO?!
• Rico dá um soco na mesa, furioso. Se senta na cadeira e respira fundo, coloca as mãos sobre a cabeça.
RICO: INFERNO DE JOGO!
• Instrumental tenso. Corte para takes do Rio de Janeiro anoitecendo…
CENA 14: (Mansão Avillar. Sala de estar. Interior. Noite.)
• Rafael serve dois copos de Whisky e dá uma deles para Marcelo, se senta no sofá ao lado do irmão e eles conversam sobre os últimos acontecimentos da casa.
MARCELO: Caraca, não dá nem pra acreditar que a mãe foi embora mesmo. E nem se despediu direito…
RAFAEL: Mas ela e o pai vinham brigando há uns dias já, né? Mas do jeito que ela saiu parece que aconteceu alguma coisa séria mesmo. Queria saber o que foi.
MARCELO: Sério é pouco, você não viu como ela chegou transtornada ontem?
RAFAEL: Mas sinceramente, Marcelo? Eu espero que ela não volte, vai ser melhor assim. A última coisa que eu quero é ver o pai e a mãe explodindo um com o outro de novo, fica um inferno nessa casa.
• Eles escutam passos descendo a escada e logo interrompem a conversa. Batista desce até a sala.
BATISTA (Sorrindo): Boa noite, meus filhos! Que caras são essas aí?
• Rafael e Marcelo se entreolham, tensos.
MARCELO: A gente tava falando da mãe, pai.
BATISTA: Ah, a sua mãe... deixa ela esfriar a cabeça, mulher é assim mesmo.
RAFAEL: E o senhor, tá indo pra onde todo arrumado assim?
BATISTA (Sorrindo): É justamente por isso que eu vim aqui. Eu quero vocês prontos também!
MARCELO: Prontos pra quê?
BATISTA (Eufórico/Sarcástico): Não tá sabendo? Hoje é noite de festa! Vamos todos comemorar o novo patrono da Unidos de Cantagalo!
MARCELO: O senhor tá falando do Rico Jacarézinho? O senhor tá batendo bem, pai?!
BATISTA: Exato, meu filho, e eu estou batendo muito bem sim. É que o rapaz merece ser prestigiado, não? A comunidade vai estar toda lá, vai ser um ótimo evento pra… estreitar laços.
RAFAEL: Estranho, pai, porque o senhor nunca se interessou por escola de samba…
BATISTA (Cantando): Tudo que se foi não é igual ao que a gente viu à um segundo… (Normal): Tudo muda o tempo todo no mundo, filhão. E agora é hora de eu mudar e ir prestigiar o reinado do meu amigão Ricardo numa… (Rindo): escola de samba na comunidade do Cantagalo. Olha que grande conquista, não?
RAFAEL (Desconfiado): Pai, o senhor tá planejando alguma coisa, não tá?.
BATISTA (Rindo): Planejando? Sempre, Rafael. Mas hoje é só festa mesmo, fica tranquilo. Agora se arrumem porque eu quero vocês comigo. Vamos garotos, empolgação! Quem sabe vocês não encontram uma nêga sambadeira pra vocês lá? Sejam rápidos, tô esperando vocês no carro!
• Batista se retira. Rafael e Marcelo desconfiados.
MARCELO: Você acredita nessa de “só festa”?
RAFAEL: Nem um pouco, cara. Quando o pai sorri assim é porque ele tá querendo ver fogo no parquinho.
• Eles sobem as escadas para se arrumar. A câmera vai se afastando do cenário.
CENA 15: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior. Noite.)
• Ao som de “Bezerra da Silva - É o Bicho é o Bicho”, nos aproximamos do salão da Unidos de Cantagalo, super movimentado. O samba rola solto lá. Maria Joana, Maria Brunessa, Gleici e um grupo de sambistas todas vestidas com roupas especiais patrocinadas por Rico. Mesmo não gostando da comemoração, Maria Joana samba com empolgação. Todos são surpreendidos pela limousine de Rico, que vem chegando ao longe e estaciona na porta da escola. Todos se juntam para ver ele chegar. O homem sai acompanhado da família e de alguns seguranças. Todos tentam tirar fotos com ele, pedem autógrafos, tentam abraçar, agarrar. Ele ri e acena para todos que consegue. Roberval sobe ao palco e chama a atenção de todos.
ROBERVAL: Minha gente, vou pedir um minutinho da atenção de vocês, por favor! Hoje é um dia histórico pra nossa Unidos, e eu tenho o prazer, a honra, o privilégio de apresentar pra vocês o novo patrono da nossa escola, o homem que acredita no samba, na favela e na força do povo do Cantagalo! Senhoras e senhores... RICO JACARÉZINHO!
• Salva de palmas para Rico. Ele sobe ao palco, triunfante, sorrindo, pronto para dar umas palavrinhas.
RICO (Sorrindo): Olha, eu nem sei por onde começar… Eu cresci nessa escola, cresci ouvindo falar dessa escola. A Unidos sempre foi um símbolo de resistência, de alegria e de esperança. E hoje, poder estar aqui com vocês é mais que um título de patrono de escola de samba. É um compromisso, uma responsabilidade que eu tenho com vocês de hoje em diante!
• Todos aplaudem, orgulhosos de Rico, emocionados com o discurso.
RICO: E saibam que eu não venho pra mudar nada aqui, eu venho pra somar à todo o legado que essa escola já te! Pra garantir que o samba continue sendo do povo, que o Cantagalo continue crescendo, e que a Unidos brilhe ainda mais forte na avenida!
• Todos vibrando e aplaudindo Rico cada vez mais, o homem se sentindo um rei perante eles.Mas o clima muda quando Batista adentra o salão, acompanhado de Rafael e Marcelo. Rico encara ele de longe. E Batista consegue avistá-lo. Eles lançam olhares rivais um para o outro.
RICO: E é isso meu povo, agora bora sambar até amanhecer!
ROBERVAL: E VAMO DE SAMBA, MEU CANTAGALO!
• Rico desce do palco. O samba começa a tocar com toda empolgação, as sambistas voltam a dançar com toda empolgação e as pessoas em volta também se animam com tudo aquilo. Close geral na festa rolando. Corte para outro momento da festa, onde Rafael e Marcelo passeiam pelo salão com garrafas de cerveja em mãos. Eles param só lado de Batista para ver a apresentação das sambistas. Dão uma cerveja pro pai e o homem bebe, mas focando em outra coisa. Do ponto de vista de Batista, podemos ver que o homem não para de olhar para Maria Joana. Ele babando, encantado. Os filhos olham para o pai, rindo. Marcelo e Rafael voltam a olhar para as sambistas e agora é a hora de Kelly ter o destaque na dança. Quando ela começa a sambar na frente de todas, os irmãos ficam encantados com a beleza da garota. A dança das mulheres termina e elas se espalham por diferentes pontos do salão. Eles acompanham o trajeto de Kelly.
RAFAEL (Fascinado): Nossa, cara, aquele mina ali que tava sambando agora é mó gat///
MARCELO (Cortando): Só um minuto cara, eu vou lá dar um papo com a gatinha que tava sambando agora, tá? Vai passear por aí, vê se não acha uma paquera também!
• O sorriso de Rafael some do rosto ao ver o irmão falando aquilo. Marcelo vai até Kelly, que samba enquanto assiste a banda da noite tocando. Ele se aproxima, se ajoelha um pouco e estende a mão para ela, galanteador.
MARCELO (Sorrindo): Me concede a honra de dançar um sambinha, princesa?
KELLY (Rindo): E tu sabe sambar, playboy?
MARCELO (Rindo): Não me subestime!
• Kelly segura a mão dele e eles começam a sambar juntos. Surpreendentemente Marcelo samba muito bem e eles chamam a atenção de todos dançando. O casal com muita química no samba. A imagem desfoca deles e ao fundo podemos ver Rafael encarando aquilo, furioso. Amassa a latinha de cerveja na mão.
CENA 16: (Restaurante. Interior. Noite.)
• Nos aproximamos de um restaurante chique. Música clássica ao fundo. Passeamos pelas mesas até encontrarmos uma específica, onde Helena e Batista estão sentados frente à frente, conversando.
HELENA (Séria): Obrigada por vir, Alaor.
ALAOR: Eu só vim porque você me falou que era um assunto sério, Helena. Você sabe como é perigoso esse encontro.
HELENA: Eu sei, mas eu não te chamaria aqui se não fosse por um motivo mais do que urgente.
ALAOR: Então me fala logo o que tá acontecendo!
HELENA: Eu não vou falar nada, eu vou te mostrar.
• Helena abre a sua bolsa e pega o seu celular. Ela abre a galeria e dá o celular para Alaor. O homem pega, desconfiado. Despausa o vídeo que Helena deixou aberto no celular e aos poucos, empalidece ao ver do que se trata. No vídeo, vemos Mauricéa e Batista transando freneticamente, o vídeo gravado por Helena quando ela foi ao motel. Vemos as veias do rosto de Alaor saltando, o homem começa a chorar de ódio, a tremer. Ele larga o celular em cima da mesa, furioso.
ALAOR (Chrorando/Ódio): Que… que porra é essa?! O que que é isso, Helena?! É o Batista e… a minha mulher?! Eu não tô vendo isso, eu não tô vendo isso, não…
HELENA: Também foi um choque pra mim quando eu vi isso, Alaor. Fui eu quem dei o flagra, eu que gravei esse vídeo, foi horrível…
• Ela pega um guardanapo da mesa e oferece à Alaor. Ele pega para enxugar as lágrimas.
HELENA: Alaor, a gente não pode aceitar isso… você tem noção do quanto essa putaria deles deixa a gente ridicularizado? Dois bicheiros rivais que não conseguem controlar o tesão um pelo outro… não dá nem pra acreditar numa coisa dessas.
ALAOR (Furioso): O que você tá tramando? Uma vingança? Eu quero participar disso, Helena. Eu não vou sair como corno nessa história, não vou!
HELENA (Sorrindo): É bom saber que eu tenho um aliado comigo. Alaor, a gente precisa saber como prejudicar eles da forma certa! E por isso eu queria saber de você se a Mauricéa não tem nada comprometedor, alguma coisa que possa prejudicar ela.
ALAOR: A Mauricéa é muito misteriosa, ela não deixa as coisas tão na cara mas… Tem um cofre! Ela tem um cofre o qual ela esconde a senha à sete chaves, Helena! Eu acho que eu sei onde ela pode estar escondendo isso tudo… eu vou procurar, eu vou encontrar! E se o que estiver lá fora favorável pra gente, a gente se vinga da desgraçada! Quer dizer, dos desgraçados!
• Instrumental tenso. O close alterna entre Helena sorridente e Alaor, revoltado.
CENA 17: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior. Noite.)
• Voltamos ao samba fervoroso. Marcelo e Kelly roubam a cena no samba e finalizam a dança deles. São aplaudidos por todos ali e sorriem um para o outro. Se abraçam.
KELLY: E não é que você tem o molho, playba?
MARCELO (Rindo): Eu não falei pra não me subestimar?
KELLY: Juro por Deus que nunca mais subestimo um playboy!
MARCELO: Ah, playboy não, vai… (Estende a mão): Marcelo.
• Kelly aperta a mão dele.
KELLY: Kellyane, mas pode me chamar de Kelly!
MARCELO: Gostei de você, Kelly. Tô afim de te conhecer melhor, hein… topa dar uma volta de BMW?
KELLY: Se tu não me levar pra uma mata escura ou um terreno baldio, tá ótimo!
MARCELO: Nem se preocupa com isso, gatinha. Vambora?
• Kelly segura a mão dele e os dois se retiram. Ao fundo, Rafael encara o casal, desapontado. Mudamos o foco e vamos até o barzinho do salão, onde Maria Joana está sentada. Batista a observa de longe e vem se aproximando dela. Se senta na cadeira do barzinho e se escora no balcão para falar com Maria Joana. Ela estranha ele. Ao fundo, Rico observa a aproximação de Batista, olha com cara feia.
BATISTA (Malicioso): Sabe, gata… uma mulher como você devia ter um camarote só pra ela. Até porque fica mal uma rainha dessas se misturar demais com essa gente, você não acha?
MARIA JOANA (Séria): Essa gente é minha gente, doutor. Você lava a boca pra falar deles!
BATISTA (Rindo): Opa! Eu gosto é de mulher assim, que tem resposta na ponta da língua! Mas fala sério… o que uma moça bonita como você tá fazendo aqui sozinha, hein? Um barzinho não combina nada com você.
MARIA JOANA: Não que seja da sua conta, mas a minha família é a dona dessa escola, senhor. E eu tô aqui no barzinho porque eu sei me cuidar e não vivo sem a minha boa caipirinha. Agora, se o senhor tá procurando companhia, é melhor olhar em volta, aqui tem muita gente que gosta de conversa fiada, mas eu não sou uma dessas pessoas.
BATISTA: Calma, calma esquentadinha, eu só quis puxar assunto!
• Maria Joana revira os olhos, vira a sua caipirinha de vez na boca e se retira, cortando o papo. Batista ri.
BATISTA (Rindo): Ah, mas eu ainda vou traçar essa neguinha…
• Rico se aproxima e se senta ao lado de Batista no bar. Cara fechada.
RICO (Sério): Pra começo de conversa eu acho bom tu respeitar a Maria Joana porque ela não é mulher pra tu não, cara. E depois, o que é que tu tá fazendo aqui na minha área?
BATISTA: Olha só o homem da noite! Não esperava te ver fora daquele palco, Rico. E o qué que é isso, hein? Ciúmes? (Rindo): Isso não combina nada com você, rapaz.
RICO: Não é ciúme não, cara. É só um aviso pra tu ficar esperto...
BATISTA (Rindo/Sarcástico): Aviso, é? Engraçado, Rico, porque da última vez que eu te dei um aviso pra você “ficar esperto”, você foi lá e explodiu a minha farmácia. Mas eu não guardo mágoa, tá? Afinal de contas, nós estamos quites! Aquela fumacinha que subiu do teu galpão te deu um susto, não foi?
• Batista dá uma piscada para Rico e se retira. Rico bate no balcão, com raiva dele. Observa o homem sair.
CENA 18: (Mansão dos Veiga. Suíte Casal. Interior. Noite.)
• Instrumental tenso. Nos aproximamos da mansão dos Veiga e entramos na suíte de Mauricéa e Alaor. Mauricéa lê um livro sozinha, mas de repente é surpreendida por Alaor, que abre a porta e entra com uma bandeja trazendo um chá para Mauricéa. Ele força um sorriso para que ela não desconfie de nada.
MAURICÉA (Sorrindo): O que é isso, meu amor?
ALAOR (Fingindo): Ah, meu amor, eu tenho notado você tão estressada esses dias e pensei que poderia te mimar com alguma coisa. Eu trouxe um cházinho pra você dar uma relaxada. Você merece ter uma boa noite de sono!
MAURICÉA (Rindo): Olha, eu confesso que preferia que o mimo fosse uma jóia de esmeraldas bem lapidadas… mas eu não vou dispensar esse cházinho não.
• Instrumental tenso chega ao apse. Batista leva a bandeja até Mauricéa e a mulher pega a xícara. Em câmera lenta, leva o chá até a boca e bebe tudo em poucos minutos.
ALAOR: Gostou, meu amor?
MAURICÉA (Sonolenta): Tava ótimo, meu bem. Docinho… é de quê? Já me deixou com bastante sono…
ALAOR: Receita de família, camomila com maracujá. Minha avó sempre fazia lá em casa quando a gente…
• Mauricéa despenca na cama, dormindo imediatamente. Alaor ri e se aproxima dela, confere se a mulher está dormindo mesmo, e ela está. Ele dá uma risadinha.
ALAOR: Filha da puta… agora você vai ver o que é que o corninho aqui pode fazer contigo.
• Alaor se aproxima dos enormes guarda-roupas do quarto e começa a abrí-los, bagunçando tudo dentro deles. Abre porta por porta dos armários de Mauricéa, até que nota uma luz baixa vinda da prateleira mais alta do guarda-roupa. Ele pega um puff do quarto e sobe em cima dele para conseguir alcançar a luz. Ele puxa o objeto e vemos que a luz é refletida pela tela do cofre de Mauricéa, que indica que para abrí-lo é necessário desbloqueá-lo com a digital do dono. Alaor sorri.
ALAOR: Belezinha…
• Corte rápido para Alaor apoiando o cofre na cama e pegando o braço de Mauricéa. Ele testa cada um dos dedos dela na digital até que, no último dedo, consegue desbloquear o cofre da mulher. A porta dele se abre automaticamente e Batista remexe tudo o que há dentro dele. Ele pega primeiro uma caixa, abre-a e encontra um pequeno revólver, engole seco e fecha a caixa, jogando-a de lado. Segue vasculhando o cofre até que encontra algo de seu interesse: uma pasta de documentos. Ele puxa de dentro do cofre e se senta na cama para averiguar melhor os documentos ali presentes. Folheia um por um até que, no fundo da pasta, encontra o mais importante deles. Um documento velho.
ALAOR (Lendo/Tenso): “05 de julho de 1996”… “Ricardo Veiga de Oliveira”.
• Alaor para de ler por um instante por não conseguir acreditar no que está lendo. Ele arregala os olhos e coloca as mãos sob a boca, incrédulo.
ALAOR (Increédulo): Puta merda… o Rico… é filho da Mauricéa?! E quem pode ser o pai desse menino?
• Alaor lê mais do documento, não encontra o nome do pai de Rico registrado oficialmente, mas na última página, encontra um papel grampeado e lê o que está escrito nele.
ALAOR (Lendo): “Isso nunca vai chegar as mãos de ninguém, mas vou escrever só para que eu não me esqueça nunca… o meu filho é fruto de uma aberração. Eu engravidei do Batista Alcântara Avilla///
• A leitura de Alaor é cortada bruscamente por um tiro violento que atinge a sua cabeça, espirrando sangue para todo lado. O homem cai morto no chão, paralisado. A câmera sobe e revelamos Mauricéa ofegante, com o seu pequeno revólver em mãos, saindo fumaça. Silenciador na ponta dele. A mulher com uma expressão que mistura ódio e incredulidade por ter feito o que fez. Close aéreo na cena do crime: Alaor morto no chão com uma poça de sangue se espalhando embaixo dele e Mauricéa na cama ajoelhada com a arma em mãos.
(FIM DO EPISÓDIO)
17/11/2025
©️ GS Literatura.
