Filho do Jogo - Episódio 05
"Dono do Jogo"
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CENA 01: (Comunidade. Exterior. Tarde.)
• Nos aproximamos da comunidade do Cantagalo, ainda bastante movimentada, todos os moradores no meio da rua na maior empolgação. O carro alegórico estacionado no canto e uma fila enorme de crianças pode ser vista indo até ele. Lá, Rico distribui os brinquedos para elas, que vão saindo felizes da vida. Algumas param para tirar foto com ele e pedem autógrafos ao rapaz. Os jornais filmando e fotografando tudo. As crianças terminam de pegar seus brinquedos e agora Rico desce do carro, indo em direção aos moradores e sendo idolatrado pela maioria deles. Ele se aproxima da sua família e da família de Maria Joana, que o encaram, incrédulos. Maria Brunessa filmando o cunhado na maior euforia.
MARIA BRUNESSA (Eufórica): Gente, ter um cunhadinho rico, literalmente, é pra poucas, né não? Fala aí, cunhadão!
• Rico acena para o vídeo dela e dá um abraço na garota. Depois, encara a família, sério.
MARIA JOANA (Séria): Desliga esse celular agora, Maria Brunessa.
• Maria Brunessa revira os olhos e guarda o celular. Climão agora.
CÁTIA (Incrédula): Ricardo… o que é isso, meu filho?! O que é que tá acontecendo?
RICO (Sorrindo): Isso é o que eu tava guardando há tanto tempo, mãe! Agora a gente vai mudar de vida, porque o seu filhão aqui é um dos homens mais ricos desse RJ!
CÁTIA (Perplexa): E quando é que isso foi acontecer, meu Deus?!
KELLY: É por isso que aquelas coisas estranhas tavam acontecendo, meu irmão? Como foi que tu enriqueceu assim de uma hora pra outra?!
CÁTIA: Você vai ter que explicar isso muito bem explicado, hein, Ricardo!
PAULÃO (Rindo): Ah, filhão! Você é o orgulho do pai!
CÁTIA: CALA A BOCA, PAULÃO!
PAULÃO: Pô, não pode nem mais comemorar a vitória do meu filho agora?!
RICO: Relaxem, a gente vai entrar em casa agora e eu vou esclarecer tudo pra vocês. Vamos lá.
• Antes de entrar, ele encara Maria Joana, que o olha com seriedade.
RICO: Só um minuto, gente.
• Ele se aproxima da moça, acompanhada da família. Ela nada diz.
ROBERVAL (Rindo): Aê, meu genro! Parabéns pela mudança de vida, hein? Você merece, cara!
RICO (Sorrindo): Valeu, seu Roberval! Eu ainda quero bater um papo com o senhor, hein.
LUCIANE: Muito bem, Rico. Que Deus abençoe os teus novos caminhos, meu querido.
RICO: É nós, sogrinha!
MARIA BRUNESSA (Espalhafatosa): Voa, cunhadão! Só não esquece de nós que estivemos com você em todos os momentos, hein. Tá me devendo um banho de piscina na tua mansão aí!
LUCIANE: Maria Brunessa! Desculpa, Rico…
RICO (Rindo): Imagina! Brota lá quando quiser, loirinha!
• Depois de falar com todos da família, Rico chega em Maria Joana. Ele inseguro, sem saber o que dizer.
RICO: Jô, eu queria…
MARIA JOANA (Gélida): Vai falar com a tua família primeiro, porque eles merecem que você esclareça tudo o que aconteceu contigo. Depois tu fala comigo se quiser, mas já sabe bem o que eu acho de tudo isso.
RICO (Nervoso): Tá… tá bem. Então eu já volto, me espera só um pouquinho.
• Rico se retira, nervoso. Maria Joana emburrada, de braços cruzados.
MARIA BRUNESSA (Incrédula): Mana, que gelo, hein! Não precisava de tudo isso.
• Maria Joana revira os olhos e não responde, deixando a irmã no vácuo.
CENA 02: (Casa de Rico. Interior. Tarde.)
• A família de Rico reunida na sala, clima de tensão. Todos esperam uma explicação do rapaz para os últimos acontecimentos. Kelly e Paulão de frente para ele. Cátia vem da cozinha com uma xícara de chá e serve para Rico. Se junta ao restante da família, esperando que ele explique a verdade.
RICO (Nervoso): Bom, por onde vocês querem que eu comece?
CÁTIA: Eu quero saber tudo desde que você acordou daquele maldito acidente, meu filho. Foi a partir dali que eu não te reconheci mais…
PAULÃO: E foi desde aquele dia que essas coisas estranhas começaram a acontecer…
• Paulão para por um instante e repara nas roupas de grife que Rico está usando.
PAULÃO (Rindo): Mas olha, ainda não sei onde tu se meteu, moleque, mas parece que valeu a pena, hein!
• Cátia dá um tapa no ombro do marido, repreendendo-o.
KELLY (Irritada): Chega, gente! Será que dá pra levar isso um pouco a sério e escutar o Ricardo?!
• Todos param, atentos para escutar Rico.
RICO: Bom, o momento do acidente foi muito confuso… antes de capotar com o carro, eu só lembro de uns carros de grande porte cercando o meu carro, eles pareciam tá atrás do Marcinho. Enfim, lembro que, na tentativa de desviar de um desses carros, eu levei um tiro e desmaiei, perdi o controle do carro.
FLASHBACK - ON
• Rico desmaia de vez e acaba batendo a cabeça no volante, o que faz com que o carro perca a noção de direção e bata violentamente no carro à frente. O resultado é uma grande catástrofe, a colisão dos carros faz com que um deles seja arremessado para longe e o outro carro, o de Rico, é jogado violentamente para fora da estrada, derrapando num barranco e capotando diversas vezes.
FLASHBACK - OFF
RICO: Então eu acordei no hospital. Eu acordei em desespero, sem conseguir respirar e sentindo muita dor. Os meus aparelhos tavam desconectados de mim, alguém tinha tentado me matar. Pra minha sorte, o Ulisses era quem tava de plantão no dia e entrou no quarto bem na hora. Reconectou os meus aparelhos e salvou a minha vida. E aí, mesmo no momento mais inapropriado pra isso, ele resolveu me contar tudo o que tinha acontecido até ali.
FLASHBACK - ON
ULISSES: Rico, eu tirei uma amostra do seu sangue pra conseguir tirar a tipagem sanguínea de vocês, e também pra ver quem poderia ser compatível com o Márcio. No entanto, os resultados me surpreenderam bastante… Os resultados apontam que você e o Márcio Veiga são irmãos de sangue, Rico.
RICO: Como isso pode ser possível, Ulisses? Eu, irmão do Marcinho?!
ULISSES: Pois é, acredite.
RICO: Então, se ele morreu… isso significa que eu sou herdeiro da herança dos bicheiros da família dele?!
ULISSES: Legalmente sim, Rico. Mas você tem que entender que esse caminho do jogo do bicho é muito perigoso. A tia do Márcio tentou te matar quando soube que você era irmão dele, cara.
FLASHBACK - OFF
RICO: Ele me falou que a mulher que tinha tentado me matar foi a Mauricéa Veiga de Oliveira. A minha própria tia… quando ela descobriu que eu sou irmão biológico do Marcinho Veiga e descendente direto da família deles.
• Nesta hora, Cátia derruba a sua xícara no chão, assustada ao escutar o nome de Mauricéa. Todos encaram Rico, incrédulos.
KELLY (Incrédula): Então quer dizer que você é herdeiro da família dos bicheiros?! Puta que pariu, Rico…
RICO: Pois é…
CÁTIA (Furiosa): RICARDO, EU NÃO QUERO VOCÊ NO MEIO DESSA GENTE!
RICO (Gélido): Não há nada que a senhora possa fazer pra me impedir, não, mãe. E outra, eu é quem quero fazer uma pergunta.
• Cátia engole seco, com medo do que pode estar por vir.
RICO: Quando você me adotou, você já sabia que eu era um dos Veiga de Oliveira.
• Cátia não pensa muito e logo responde, mentindo na lata.
CÁTIA (Nervosa): Não, eu… não sabia, meu filho. Só deixaram você aqui na minha porta, mas eu não vi quem foi…
• Rico a encara, desconfiando, mas aceita a resposta. Se levanta do sofá.
RICO: Bom, o que eu queria saber eu já sei. Agora é o seguinte, como eu sou herdeiro de uma fortuna milionária, eu não posso deixar vocês morando aqui. Eu quero que vocês arrumem as suas malas, porque eu só vou resolver alguns negócios e vocês vão ir pra mansão junto comigo!
• Kelly e Paulão se levantam num pulo, eufóricos. Cátia segue sentada, tensa.
KELLY (Eufórica): MENTIRA!!! MEU DEUS, EU VOU MORAR NUMA MANSÃO!
PAULÃO (Eufórico): AÍ SIM, RICO! MEU FILHO É O NOVO RICÃO DO PEDAÇO!
• Paulão e Kelly prontamente comemoram, abraçam Rico, eufóricos com a ideia de mudar de casa e sair da comunidade. Focamos em Cátia, receosa e com um olhar vago.
CENA 03: (Casa de Rico. Exterior. Tarde.)
• Rico saindo de casa depois da conversa com a família. Dá de cara com Maria Joana do lado de fora, em pé, apoiada num poste, olhando-o fixamente. Ele coça a cabeça, nervoso, e vai até ela.
RICO (Nervoso): Bom… você tá a fim de conversar agora?
MARIA JOANA (Séria): É claro que eu quero, Rico. E eu vou ser bem direta aqui: porra, cara… eu te avisei tanto pra não se meter com essa gente, Ricardo!
RICO: Olha só, eu já tô ficando cansado de você ficar tratando as minhas conquistas como se elas fossem um nada!
MARIA JOANA: Conquista?! É isso que você chama de conquista? Viver correndo risco de vida, viver de contrabando?!
RICO: É porque você só olha as coisas por esse seu lado politicamente correto. Sabe qual é a minha conquista agora, Jô? A minha conquista é não passar mais fome, não ver a minha família passando perrengue, conseguir pagar todas as contas sem ficar devendo a ninguém. Essa é a minha conquista!
MARIA JOANA (Alterada): MAS A QUE CUSTO, RICO?!
RICO: CARALHO, VOCÊ PRECISA ENCARAR AS COISAS COM MAIS LEVEZA! Olha, Jô… eu tô com uma vida muito melhor, tô com dinheiro e… eu quero levar você comigo. Você é o amor da minha vida, mulher! A gente pode viver juntos e felizes. Pensa, Jô… a gente só tem coisa boa pra viver daqui pra frente.
MARIA JOANA (Séria): Desculpa, Rico, mas eu não. Eu não vou sair daqui, não vou abrir mão da Unidos de Cantagalo. Eu não posso abandonar a minha vida pra ser bancada por você.
RICO: Você não precisa largar nada, a gente pode ampliar a Unidos de Cantagalo, Jô! Olha, por favor, pensa melhor em tudo que eu tô te falan///
• A fala de Rico é cortada por uma voz masculina grave que o chama ao longe.
CAVEIRA (Off): Ei, bicheirinho! Bora dar uma volta ali comigo, rapá!
• Damos um zoom no rosto do homem, trata-se de Caveira (Micael Borges), com uma arma na mão. Voltamos o foco para Rico, confuso. Maria Joana observa tudo, tensa.
RICO (Medo/Confuso): … E-eu?!
CAVEIRA: É tu mermo, comédia. Bora rodando que hoje eu tô sem paciência! Passa pra cá.
• Ele faz um sinal com a arma para que Rico vá para o seu lado. Ele vai. Os seguranças de Rico vêm correndo ao longe, alertas. Rapidamente, Caveira faz Rico de refém.
CAVEIRA (Baixo): Manda eles largarem as armas no chão e circularem. Anda!
RICO (Gritando): Larga! Larga essas armas aí no chão e vão pra casa! Eu só vou resolver umas coisas lá no morro, é rápido!
• Os seguranças obedecem Rico. Caveira aponta a arma para a cintura dele e eles começam a subir o morro. Foco em Maria Joana, em pânico após ver a cena.
• Ao som de “KYAN & MU540 - USD é USD!”, sobrevoamos o alto do morro da comunidade do Cantagalo. Acima de tudo, está o barraco-base. Uma grande estrutura com laje de onde os principais traficantes observam tudo e se reúnem para fazer o controle da área.
CENA 04: (Comunidade. Barraco-base. Interior. Tarde.)
• Por uma janela, Cantagalo (Thomás Aquino) observa toda a comunidade, pensativo. De repente, Caveira adentra o barraco trazendo Rico como refém. Larga o homem após chegar no local.
CAVEIRA: Tá aqui o homem, chefe! Ele que tava metido a Bell Marques no carro alegórico lá embaixo.
CANTAGALO: Ah, cadê a cara desse comédia?
• Cantagalo se vira e se surpreende ao ver Rico.
CANTAGALO (Surpreso): Ricardo?! Tu não é o filho da Cátia costureira, rapá?
RICO (Tenso): S- sim, seu Cantagalo. Sou eu mesmo…
CANTAGALO: E que história é essa, mano? Do nada tu chega aqui todo riquinho, dando brinquedo pras crianças e os carai. Com direito até a carro alegórico… quem era tu, Rico?
RICO: Olha, seu Cantagalo, é uma longa história… mas você sabe que eu sou adotado, né? Eu fui buscar as minhas raízes e descobri que eu sou herdeiro de uma família milionária… de bicheiros.
• Cantagalo cutuca Caveira e eles riem, brincando com a situação. Rico sério. Cantagalo se aproxima dele.
CANTAGALO: Ah é, ricaço? E me fala só mais uma coisa… qual é tua aqui agora, rapá? Tá querendo virar camisa de saudade? Não é qualquer um que pode chegar aqui bancando o dono da comunidade, não, mano.
RICO: Olha… eu não tô querendo bancar nada, não. Inclusive eu já queria vir falar com você desde o momento que eu cheguei aqui.
CANTAGALO: E tu queria falar o quê comigo, rapá?
RICO: É o seguinte, cara… a comunidade aqui é o terreno perfeito pra minha família, os Veiga de Oliveira, implantarmos uns pontos e eu queria ver contigo a possibilidade de///
CANTAGALO (Cortando/Rindo): Já vi que tem dinheiro nessa parada aí. Qual que tu manda, bicheiro?
RICO: Papo de milhão por essa área aqui, mano, por mês. Além do que aquele esqueminha vai ser muito facilitado aqui, eu te garanto… E aí, tu aceita essa parceria?
• Clima de suspense. Cantagalo se aproxima de Rico e estende a mão, fazendo o acordo.
CANTAGALO: Ótimo negócio, bicheiro. Mas isso não vai ficar só na falácia, não, né? Eu quero saber aonde é que eu assino.
RICO: Pode ficar tranquilo que eu volto aqui com toda a papelada, advogado e os caralho a quatro. Até porque, nesse ramo o que vale é o escrito!
• Sequência de cenas do Rio de Janeiro passando na tela, com a legenda “Horas Depois…” no canto. Corta para uma imagem da mansão da família Veiga de Oliveira. Nós nos aproximamos dela.
CENA 05: (Mansão dos Veiga. Sala de Estar. Interior. Dia.)
• Vamos nos aproximando da sala de estar, onde vários mordomos carregam algumas malas. Mauricéa surge na sala, confusa com a situação.
MAURICÉA: O que é que tá acontecendo aqui? Que bagunça é essa?! Ô RICARDO!
• Rico adentra a sala, sorridente.
RICO (Rindo/Irônico): Perdão, titia, esqueci de te avisar. É que a minha família tá vindo morar aqui comigo.
MAURICÉA (Incrédula): Como é que é?!
• Ao longe, pode-se escutar a família chegando.
PAULÃO (Off): EITA PORRA, DÁ NEM PRA ACREDITAR QUE EU VOU MORAR NUMA CASA DESSE TAMANHO!
KELLY (Off): Né? Só nessa piscina aqui já cabia nossa antiga casa inteirinha!
• Paulão e Kelly adentram a casa de vez, admirando tudo. Se aproximam para cumprimentar Mauricéa. A mulher claramente desconfortável, mas tentando disfarçar.
PAULÃO: Opa, muito prazer!
KELLY: Satisfação, dona!
• Ela aperta a mão deles e depois limpa na roupa, com nojo.
RICO: E cadê minha mãe, hein?
PAULÃO (Gritando): Ô CÁTIA, CÊ NÃO VEM NÃO, MEU AMOR?!
MAURICÉA (Tensa/Baixo): C- Cátia?…
• Cátia adentra a sala, carregando a sua bolsa. Ela entra em passos tensos, olhando tudo ao redor e paralisa de vez quando avista Mauricéa. A mulher também paralisa, tensa, quando a vê. Elas se encaram, parecendo ter medo uma da outra. A câmera paralisa nelas, aflitas. A família já estranhando o clima.
RICO: Que que foi? Tá acontecendo alguma coisa?
MAURICÉA (Tensão): Não, não… eu só… pensei que conhecesse tua mãe de algum lugar.
CÁTIA: É, eu… também pensei que conhecesse você.
MAURICÉA (Gélida): Rico, manda os mordomos hospedarem eles, tá legal? Eu tenho uns afazeres pra fazer, desculpa não poder recepcionar vocês direito.
• Mauricéa se retira rapidamente. Rico faz sinal para alguns mordomos e eles começam a orientar a família pela grande casa. Todos subindo as escadas para conhecerem seus quartos.
CENA 06: (Casa dos Silva. Interior. Tarde.)
• A família reunida à mesa, tomando um café da tarde. Luciane vem trazendo uma cesta com pãezinhos e coloca sobre a mesma. Se senta junto à família.
LUCIANE: Agora vai, minha filha, conta tudo sobre a conversa que você teve com o Rico e por que ele enriqueceu assim de uma hora pra outra!
MARIA JOANA: Olha, parece até ironia do destino, mas vocês lembram quando o Rico sofreu um acidente? O homem que estava no carro com ele era nada mais nada menos que o irmão de sangue dele! Todo mundo sabe que o Rico é adotado, mas o que ninguém sabia era que ele era descendente direto de uma família milionária. Aí agora que ele reencontrou essa família biológica dele, ele enriqueceu porque é o novo bicheiro-chefe.
MARIA BRUNESSA: Passada! Gente, que chique… coincidência com C maiúsculo! Ah, uma sorte dessas eu não dou, né, Deus?!
ROBERVAL: Caraca, parece até coisa de ficção isso. Credo…
LUCIANE: Ouvindo assim não dá nem pra acreditar, minha filha. Mas agora me fala o que foi que vocês conversaram quando a gente não tava.
MARIA JOANA: Bom, eu já sabia dessa história há muito tempo. O Rico me contou tudo e eu falei pra ele largar mão disso! Vocês não fazem noção do quanto essa vida de bicheiro é perigosa, gente… é um povo que vive de contrabando! Mas o Rico tava irredutível, queria enriquecer a qualquer custo! Ele me chamou pra morar com ele, dividir uma vida de madame com ele, mas eu não///
MARIA BRUNESSA (Interrompendo/Chocada): O QUÊ?! VOCÊ NÃO ACEITOU?
MARIA JOANA: Claro que não, né, Maria Brunessa! Ou você acha mesmo que eu iria largar a minha vida, a Unidos de Cantagalo, o lugar onde eu nasci, pra viver sendo bancada por um dinheiro sujo desses?!
MARIA BRUNESSA: Ô MARIA JOANA, SUA JUMENTA! Quem tá mexendo com o dinheiro sujo é o Rico, não você! Tá na hora de você deixar essa tua marra de Raquel Accioli do Cantagalo de lado, fofa! A vida não é um morango, não. Você teve a chance de sair dessa pocilga que é essa favela aqui e não aproveitou?! Puta que pariu!
MARIA JOANA: QUE QUE É ISSO AGORA, MARIA BRUNESSA?!
ROBERVAL (Furioso): Eu também não tô entendendo, garota! Você nunca foi criada com esses princípios! A gente sempre te ensinou a ser uma pessoa honesta e muito grata pelo que você tem!
MARIA BRUNESSA: Ah, é? E o que é que a gente tem, pai? Uma casa de aluguel caindo aos pedaços e uma escola de samba fechando no vermelho todo mês? É por isso que eu tenho que ser grata?!
• Toda a família fica chocada diante dos absurdos que ela está falando. Maria Joana se levanta para discutir com a irmã.
LUCIANE: CHEGA, MARIA BRUNESSA!
MARIA JOANA (Indignada): Não, mãe! Deixa ela falar o que ela tem pra falar, porque agora eu tô conhecendo uma nova versão da minha irmã!
MARIA BRUNESSA (Chorando/Ódio): É isso que eu penso e nenhum de vocês vai mudar! Eu sou honesta, sim. Afinal, se eu não fosse, eu já tinha me aproveitado dessa minha carinha bonita pra dar pra um chefe do morro ou pra velho rico e ficar milionária aos 20 anos de idade, mas me pergunta se eu fiz isso? Não fiz! Muito pelo contrário, eu tô pelejando todos os dias pra fazer sucesso com essa merda desse perfil flopado que eu tenho! Agora, a Maria Joana teve a chance de mudar a vida e a história da nossa família toda e decidiu deixar a gente aqui, nessa miséria! Que inferno!
MARIA JOANA: Eu não tenho mais palavras pra comentar tudo o que você tá dizendo, garota… eu só sei que você tá pior que o Rico! Muito pior! (Firme): Eu só sei de uma coisa, Maria Brunessa, eu sou uma mulher de palavra, e eu não volto atrás com elas. Eu nasci honesta e vou morrer honesta! Se eu enriquecer na vida, o que vai acontecer, se Deus quiser, vai ser por meio do meu esforço e do meu suor! Eu não vou me escorar em ninguém pra subir na vida e muito menos vou colaborar com o rendimento de um dinheiro sujo!
MARIA BRUNESSA: E eu, diferente de você, não fico romantizando a pobreza em que a gente vive! Olha só pra essa casa, olha só pra essa favela! Tem tiroteio toda semana nessa porra, mês em mês tem guerra de facção aqui. É bandido correndo e morrendo em cima do nosso telhado. ISSO É VIDA PRA VOCÊ?
MARIA JOANA: NUNCA TE FALTOU ALIMENTO, NUNCA TE FALTOU ROUPA, NUNCA TE FALTOU ÁGUA PRA BEBER! Isso já é viver melhor que metade do Brasil, minha irmã.
MARIA BRUNESSA: Então aceita isso pra você, aceita viver com o mínimo. Viver não, SOBREVIVER. Bom, enfim… eu não vou prolongar essa discussão. Se vocês não conheciam a Maria Brunessa de verdade e o que ela tá disposta a fazer pra realizar os próprios desejos, agora vocês conhecem.
• Maria Brunessa se retira. Maria Joana se senta novamente junto aos pais, os dois chorando de decepção. Ela os abraça, também decepcionada com a irmã. Nos afastamos da cena…
CENA 07: (Mansão Avillar. Suíte Casal. Interior. Tarde.)
• Ao som de um instrumental dramático, nos aproximamos da suíte chique de Batista e Helena. Batista mexe no computador, intrigado. Helena, gélida, assiste algo na TV. Foco no computador de Batista, ele vê uma reportagem que mostra Rico distribuindo os brinquedos na comunidade.
BATISTA (Rindo/Desdém): Então quer dizer que esse moleque conseguiu mesmo. Dominou o Cantagalo! Aquela área é super difícil de invadir…
HELENA: O Rico?
BATISTA: Ele mesmo! Olha só.
• Ele vira o computador para Helena.
BATISTA: A imprensa já tá tratando ele como o “novo comandante do jogo no Rio de Janeiro”. E pensar que a minha fama agora foi reduzida a esse novato… Mas tudo bem. Sabe o que isso significa? Que eu ganhei um alvo, um novo desafio. Se esse garoto cheirando a leite acha que pode subir daquela favela pro trono sem pagar o preço, ele tá muito enganado.
HELENA (Gélida): Ah, é? E o que você pretende fazer?
BATISTA: Ir até o Cantagalo, conversar com quem manda de verdade: os traficantes. Não importa o que o Rico tenha feito pra conseguir aquela área, eu faço uma oferta dez vezes maior.
HELENA (Rindo): Você, no meio da favela? É sério isso, Batista?
BATISTA: Não é a primeira vez que eu frequento uma, Helena, e dessa vez eu não vou sozinho.
HELENA: Como assim não vai sozinho? Olha, se você tá pensando que vai conseguir entrar lá com os seus seguranças…
BATISTA: Não, meu amor. Eu não vou sozinho porque você vai comigo, é claro.
• Helena olha para ele, incrédula.
HELENA: Eu?! Tá drogado, Batista?
BATISTA: Pensa, meu amor… Homem de terno e corrente de ouro eles já viram demais por lá, sempre tem um bacana querendo lucrar com o narcotráfico. Mas um homem de família é outra conversa. Isso dá moral, dá respeito.
HELENA: Então é isso que você quer, que eu vire uma figurante de luxo pra dar impressão de respeito pro bicheiro.
BATISTA: Você sempre soube o papel que você tinha aqui, Helena. Quando você decidiu se casar com um bicheiro, você já sabia que teria que se prestar a isso.
HELENA: Sabe o que eu acho engraçado? É que você fala de papel, de moral, de homem de família, mas você só esquece de avisar quando o roteiro muda por aqui.
BATISTA: Quê?
HELENA (Gélida/Direta): Onde você passou a noite ontem, Batista?
• Batista a encara, gagueja e coça a cabeça antes de responder. Inventa uma desculpa rapidamente.
BATISTA: Na cúpula, né, Helena.
HELENA (Rindo): Cúpula…
BATISTA: Pois é, na cúpula. Eu tava cheio de problema pra resolver lá. Qual é o problema?
HELENA: Nenhum, meu bem. Eu só acho minimamente curioso que um homem que fala tanto de “moral” volte pra casa cheirando perfume alheio e a vinho.
BATISTA (Se fazendo): Você tá me chamando de mentiroso ou é impressão minha, Helena? E outra, você nem lava roupa nessa casa, tem empregada pra isso. Por que você tá cheirando a minha roupa?
HELENA: Não sei, talvez porque essas taças de vinho que você virou ou o chá de buceta que você levou da puta que você comeu te deixaram tão embriagado que você simplesmente capotou na cama e deixou todas as tuas roupas jogadas pelo quarto.
• Batista respira fundo e coloca as mãos na cabeça. Se controla para não causar um escândalo. Gélido, ele segura o rosto de Helena com firmeza, assustando a mulher.
BATISTA (Sério): Em primeiro lugar eu quero que você me respeite, porque eu sou o seu marido e, se você tem a vida de luxo que você tem hoje, é porque eu te banco. Você tem a sorte de ter um marido como eu, que muitas outras no seu lugar desejam ter.
• Helena engole seco, assustada.
BATISTA: Em segundo lugar, eu não te devo satisfação de nada nessa vida. Mas eu te dou porque eu quero que a gente tenha um relacionamento saudável. Eu não comi puta nenhuma, Helena. Você já é o suficiente pra que eu possa saciar o meu desejo.
• Helena disfarça a desconfiança, confirmando o que Batista está falando com a cabeça.
BATISTA: Em último lugar, eu quero que você vá se arrumar porque hoje você vai comigo, como a MINHA ESPOSA, pra que eu possa conquistar novas áreas no Rio de Janeiro e a gente possa aumentar ainda mais a fortuna da nossa família. Você entendeu?
HELENA (Vulnerável): Sim… entendi.
BATISTA: ENTENDEU?
HELENA: Entendi, Batista. Eu entendi.
• Batista solta o rosto dela e se levanta, se afastando e indo para o banheiro. Helena massageia a sua face, um pouco assustada com tudo aquilo.
• Instrumental animado de cuíca ao fundo, nos aproximamos da enorme mansão dos Veiga de Oliveira. O sol batendo forte no gramado, destacando a visão bonita que se pode ter dali.
CENA 08: (Mansão dos Veiga. Suíte Hóspedes. Interior.)
• Kelly se espalha pela sua enorme cama no quarto luxuoso. Rico observa a felicidade da irmã, sorrindo.
KELLY (Eufórica): Ai, meu irmão, quem diria que um dia eu teria um quarto tão enorme assim pra mim! Puta que pariu, e essa cama maciazinha? É de quê isso aqui, hein?
RICO (Rindo): É um colchão ortopédico europeu, da melhor qualidade!
KELLY: Gente? Que tudo! (Sorrindo): Obrigada por estar nos proporcionando tudo isso, Rico. Você é o meu orgulho, meu irmão!
RICO: Isso tudo ainda não chega nem perto do que eu queria proporcionar pra vocês, minha irmã.
• Rico chora de emoção ao ver a irmã tão feliz, desfrutando daquele luxo. Kelly percebe.
KELLY: Cê tá chorando, meu irmão?
RICO (Emocionado): É que eu me emociono muito de ver minha família assim: feliz, confortável… sem preocupação, sem tensão no rosto, comendo do bom e do melhor. Eu não poderia estar vivendo coisa melhor.
• Kelly se senta ao lado dele e o abraça.
KELLY: Eu te amo, meu irmão. E você é merecedor de tudo isso!
• Os irmãos emocionados. Por um instante, Kelly se demonstra um pouco tensa.
KELLY: Mas só tem uma coisa me preocupando, Rico… e essas coisas de bicheiro, hein? Você não corre risco de vida com tudo isso, meu irmão?
RICO: Kelly, dos meus riscos cuido eu. O importante é que esse perigo não afete vocês, tá legal? Fica tranquila quanto a isso.
• Kelly finge não estar muito preocupada com o irmão. Um mordomo bate na porta e adentra o quarto.
MORDOMO: Com licença, senhores. Senhor Rico, a dona Mauricéa pediu pra avisar que ela está te chamando no escritório.
RICO: Certo, Patrício. Obrigado.
• O mordomo se retira. Rico olha para Kelly e dá a mão para ela bater, eles fazem um toque especial de irmãos.
RICO (Sorrindo): Te amo, tá? Não fica grilada com as minhas questões.
KELLY (Sorrindo): Eu também te amo, meu irmão. Mas eu não posso deixar de me preocupar com você. Instinto de irmã! Mas enfim, agora vai lá que, pelo visto, a dona perua enjoada tá te chamando.
RICO (Rindo): Operação perua enjoada em ação!
• Eles riem. Rico se retira.
CENA 09: (Mansão dos Veiga. Escritório. Interior.)
• Rico adentra o escritório. Mauricéa já esperando por ele.
RICO: O mordomo disse que tu mandou me chamar, o que foi?
MAURICÉA: Mandei sim, senta aí.
• Ele se senta, curioso pra saber do que se trata.
MAURICÉA: Em algumas horas você vai ter a sua primeira reunião com a cúpula. Eles vão querer te conhecer oficialmente como o novo representante da família Veiga de Oliveira.
RICO: A primeira reunião? Já?! (Rindo/Eufórico): É disso que eu tô falando, dona Mauricéa! Eu quero reconhecimento! Finalmente eu vou mostrar pra esses caras quem eu sou: o Rico Jacarézinho!
MAURICÉA: Controla o entusiasmo, tá bom? Não precisa agir como se os bicheiros fossem celebridades, eles são nossos inimigos. A cúpula não é um baile de escola de samba, Ricardo, aquilo é uma mesa de negócios. Uma gente que não perdoa erro nenhum, nem desrespeito.
RICO: Eu sei me comportar, titia. E eu também sei falar de igual pra igual, não é porque eu vim da favela que eu não tenho o mínimo de educação, tá legal?
MAURICÉA: Espero que isso seja verdade mesmo. E é o seguinte: cúpula pode te aceitar e te destruir de uma hora pra outra, tá legal? Eles que decidem tudo, então seja minimamente apresentável.
• Rico revira os olhos, achando a explicação de Mauricéa uma chatice.
RICO: Pode deixar. Eu vou representar o nome Veiga como ele merece ser representado! (Irônico): Eu dou conta desse recado, titia.
MAURICÉA (Séria): Ótimo, é isso que eu espero.
• Eles se encaram, se desafiando.
CENA 10: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior. Tarde.)
• “Viola de Doze - Samba Miudinho” tocando ao fundo. Diversos alunos no salão tomando aula com Maria Joana. Entre eles, Gleici. Maria Joana tenta se concentrar pra fazer os passos direito, mas percebemos a mulher errando tudo, tensa. Ela interrompe a aula e desliga a caixa de som.
MARIA JOANA (Tensa/Mal-estar): Desculpa, gente. Vamos dar uma pausa, eu tô meio mal hoje. Aproveitem pra beber uma água e descansar. Eu já volto.
• Gleici nota a amiga estranha e vai até ela no bebedouro um pouco distante de todos.
GLEICI (Preocupada): Cê tá bem, Jô? Tô te achando tensa, com uma feição diferente… até os passos que você nunca errou você tá errando.
MARIA JOANA: Ah, minha amiga, a essa altura do campeonato você já deve saber o que aconteceu na vida do Rico, né? Amiga, eu tô me sentindo mal, tô enjoada, tô com um pressentimento ruim… eu tô sentindo uma coisa em relação ao Rico, uma coisa ruim, sabe? Tô mal com isso.
GLEICI: Amiga, mas você não pode ficar se acabando de preocupação por uma vida perigosa que o próprio Rico decidiu seguir. Não fica se desgastando assim!
MARIA JOANA: Eu queria não ficar assim, até porque ele nem merece a minha preocupação. Mas porra, essa sou eu! Não dá pra fugir de mim mesma.
GLEICI: Tá bem, então… vamo distrair a cabeça dançando um sambinha, vamo?
MARIA JOANA (Sorrindo): É, uma boa batida de pé lava a alma, né não?
• Elas se abraçam e voltam para o salão.
CENA 11: (Cúpula dos bicheiros. Interior. Tarde.)
• Instrumental tenso. Nos aproximamos de um enorme casarão luxuoso num sítio bonito, mas com um ar soturno. Sol brilhando ao fundo. Adentramos o espaço e vemos diversos bicheiros sentados a uma enorme mesa posta com taças e bebidas caras, alguns fumam seus charutos. Entre os bicheiros, Rico e Batista. Orquestra de violino pode ser escutada ao fundo. Focamos no decano ordenando a reunião em frente a todos.
DECANO: Senhores, muito boa noite a todos. A casa está cheia e isso muito me agrada, mas a nossa reunião é coisa séria, então vamos falar de negócios, que é o tema mais importante aqui. Temos um novo homem no pedaço, o Rico. Herdeiro do velho Ailton Veiga de Oliveira e irmão do nosso saudoso Marcinho Veiga de Oliveira. Ele agora vai assumir as antigas áreas da família no Rio e hoje já conquistou mais um ponto: a comunidade do Cantagalo. Por favor, Rico, levante-se e apresente-se.
• Rico se levanta, triunfante e imponente. Olha para todos como se fosse um rei e isso faz com que os demais bicheiros o encarem mal, mas mesmo assim todos o aplaudem, exceto Batista, que solta a fumaça do charuto em tom de ironia. Rico começa o seu discurso.
RICO: O meu irmão, querido Marcinho, deixou tudo em ordem antes de partir, tudo o que a nossa família construiu durante anos. Eu só quero manter o que é nosso, sem mexer com ninguém, e espero que todos pensem e ajam assim também: crescer o que é seu sem ter que passar por cima dos outros!
BATISTA: É… mas o “nosso” às vezes muda de dono quando o antigo morre, né?
• O clima pesa. Os outros bicheiros trocam olhares, só esperando a discussão entre eles. Rico encara Batista, sem sair do seu controle.
RICO (Sereno): Depende, Batista. Quando o dono seguinte sabe cuidar, o terreno não muda de dono, só melhora.
• O decano observa os dois com atenção, atento para cortar a briga.
DECANO: Chega de indireta por aqui. O território de cada um continua o mesmo e ninguém invade o quintal do outro, entendido?
BATISTA: Entendido, sim senhor. Só espero que o novato entenda também que o limite é uma linha fina, e quem pisa errado na linha fina acaba se cortando.
• Rico se inclina para frente, apoiando as mãos sobre a mesa e encarando Batista com um sorriso debochado, desafiando-o.
RICO (Deboche): Pode deixar, Batista. Eu sei muito bem onde eu piso.
• O decano intervém na discussão que poderia vir a surgir.
DECANO: Reunião encerrada! E lembrem-se: o respeito é o que mantém o jogo vivo.
BATISTA (Baixo): Nem você acredita nisso, malandro…
• Os bicheiros se levantam, conversando em baixinho. Batista passa por Rico de propósito, esbarrando o ombro. Rico nem se move, apenas observa o rival se afastar com um meio sorriso no rosto. Quando a sala começa a esvaziar, o decano se aproxima de Rico.
DECANO: Seu pai era cabeça dura, rapaz, mas tinha um sangue de jacaré. Eu consigo ver o mesmo nos seus olhos. Só vê se não morre cedo, você tem um futuro brilhante aqui pra morrer antes de desfrutá-lo.
• Ele dá dois tapinhas no ombro de Rico e se retira. Rico nada diz, apenas o observa. Tenta manter a pose de durão, mas nota as mãos tremendo. Instrumental tenso.
CENA 12: (Sítio. Estacionamento. Tarde.)
• Batista caminha com raiva até o seu carro, resmungando, enraivado depois de ver Rico no poder durante a reunião da cúpula. Ele adentra o seu carro e lá dentro Helena já espera por ele. Nota o marido chateado.
HELENA: Como foi a reunião?
BATISTA: Uma merda! Ter que engolir o novato tirando a maior onda lá… sinceramente, essa cúpula já teve fases melhores.
HELENA: Mas você não ficou provocando muito ele, né, Batista? Não vai arranjar mais confusão pro teu lado, pelo amor de Deus…
BATISTA: E eu lá tenho medo de briga, Helena? Eu fiquei jogando umas provocações sim, mas foda-se!
HELENA: Cuidado, meu bem. Você sabe como vocês bicheiros são. Qualquer motivo mínimo já é o suficiente pra causar um escarcéu!
BATISTA: Que cause! E agora eu vou dar motivo mesmo pra ele fazer um escarcéu, porque a gente tá indo agora mesmo pra comunidade do Cantagalo. (Rindo): Eu vou tomar as áreas do herdeirinho.
• Helena respira fundo e concorda, temendo o que pode acontecer. Batista avança com o carro.
CENA 13: (Carro de Rico. Interior.)
• Rico no banco de trás do carro enquanto seu motorista comanda o veículo. O homem ao telefone, aparentemente revoltado.
RICO (Ódio): Alô, Cantagalo? (…) Mano, eu sei que o nosso acordo mal começou, mas eu tô precisando de um servicinho dos teus caras aí. (…) É uma coisa arriscada, mas vocês vão ser muito bem pagos, isso eu garanto (…) É o seguinte, sabe aquela farmácia famosona lá na Tavares Bastos? É do Batista Avillar, mano. Tudo lavagem de dinheiro aquela porra, ele movimenta milhões dando remédio falso pros morador. (…) Pois é, eu quero que vocês façam um servicinho lá…
• Instrumental tenso. Corte rápido para a fachada da mansão dos Veiga.
CENA 14: (Mansão dos Veiga. Corredores. Interior. Tarde.)
• Cátia passeando tensa pelos corredores da mansão, olha tudo ao redor como se alguém estivesse a observando. Vai até a geladeira da cozinha e enche um copo d’água. Volta a andar pelos corredores, tensa; a tensão transparece no andar dela. Quando passa perto de uma porta, é puxada violentamente por uma pessoa para dentro dela. A mulher solta um grito e deixa o copo cair, mas a pessoa que a puxou tapa a sua boca com força. Revela-se que é Mauricéa. Ela tira a mão da boca de Cátia lentamente. A mulher ofegante, assustada. Mauricéa a encarando, séria.
CÁTIA (Desesperada): MISERICÓRDIA!
MAURICÉA (Séria): Calma, Cátia. Eu não vou te fazer nenhum mal. Não precisa de gritaria.
CÁTIA: Você quase me mata de susto! Tu tava me seguindo?!
MAURICÉA: Sou eu que faço as perguntas aqui, querida. Quando o Rico chegou aqui eu já sabia que você viria junto. E eu não tenho nada contra isso, afinal, você é a mãe dele, né? Eu só quero que você lembre que prometeu que não ia abrir a boca, Cátia. Eu não quero que aquele assunto passado venha à tona aqui, tá bem? Aquilo vai morrer com a gente.
CÁTIA: E vai morrer! Mas a senhora sabe que esse tipo de segredo pesa pra mim como mãe, né? (Cabisbaixa): É muito ruim ter que esconder uma coisa tão grave assim do meu filho, Mauricéa…
MAURICÉA: Pesa, sim. Mas se esse peso cair em mãos erradas, ele destrói tudo. Eu não posso deixar que isso volte à tona, não agora. E você é a única que pode me ajudar nisso, ficando de boca fechadinha, tá bem?
CÁTIA: Pode ficar tranquila, Mauricéa. Isso nunca vai sair daqui, você tem a minha palavra e o meu amor de mãe como prova disso. Mas olha, eu te confesso que eu não consigo esquecer daquele dia, você chegando na porta da minha casa com aquele bebê…
• Mauricéa interrompe Cátia.
MAURICÉA (Gélida): Não fala isso. Nunca mais fala essa palavra dentro dessa casa!
• Assustada, Cátia engole seco.
CÁTIA (Tensa): Desculpa. Mas… eu só queria entender, Mauricéa. Entender por que tudo isso que você fez, essa história toda é tão confusa, tudo envolvendo o Rico…
MAURICÉA (Séria): E você não sabe da missa a metade, Cátia, e nunca vai saber. Porque o passado é um bicho feroz, e quando ele acorda, ele acaba com tudo que vê pela frente. Então vamos deixar o bicho dormindo, por favor.
• Mauricéa se recompõe e se retira. Cátia, assustada, deixa uma lágrima cair.
CENA 15: (Comunidade. Barraco-base. Interior. Tarde.)
• Close aéreo no morro do Cantagalo. Podemos ver de longe alguns traficantes acompanhando Batista e Helena até o topo. Corte rápido para o interior do lugar. Cantagalo e Caveira sentados juntos, sem camisa, fumando. De repente, um bando de traficantes chega acompanhando Batista e Helena, apontando armas pra eles. Batista aparentemente calmo, Helena tenta disfarçar o medo que está sentindo.
TRAFICANTE: Riquinho na área querendo fechar parceria, chefe.
CANTAGALO (Rindo): Eita, que hoje é dia! Libera os bacana aí, mano.
• Os traficantes se afastam de Batista e Helena, e Cantagalo se aproxima deles.
CANTAGALO: Olha só quem veio visitar o morro hoje! O doutor Batista Avillar em carne e osso… E trouxe até a madame junto com ele. Hoje é dia de ganhar dinheiro aqui, hein?
BATISTA (Sério): Eu não vim pra brincadeira, senhor Cantagalo. Eu vim aqui pra fazer negócio.
• Cantagalo joga o cigarro no chão e pisa nele para apagar. Olha para Batista com sarcasmo.
CANTAGALO (Sarcástico): “Negócio”… Eu gosto dessa palavra. Mas da última vez que um doutor veio falar em negócio, saiu daqui sem o relógio, sem o carro e quase sem o pescoço.
• Helena respira fundo, meio temerosa. Batista dá um meio sorriso, arrogante.
BATISTA: Pois comigo é diferente, irmão. Eu não vim tirar nada de você, Cantagalo, nem te enganar. Eu vim dobrar o que você já tem, tenho ótimas propostas.
CANTAGALO: Dobrar? E o que é que tu entende do que eu tenho?
BATISTA: Eu entendo de poder, o que você tem aqui é território, mas sem investimento, ele não rende. Eu quero a área do Cantagalo, e vou pagar o dobro do que o outro tá te pagando por isso.
CANTAGALO (Rindo): O outro… Você tá falando do moleque novo, né? O Rico.
BATISTA: Tô falando daquele que não vai durar muito tempo, mas não citei nomes.
• Batista e Cantagalo riem juntos. Ao fundo, Caveira observa tudo. Ele olha Batista e Helena de cima a baixo. Porém, quando seus olhos se cruzam com os de Helena, ele paralisa e ela olha de volta. Os olhos de Helena descem e admiram o corpo musculoso de Caveira, e ele também analisa o corpo voluptuoso dela. Eles claramente flertando pelo olhar. Helena desvia o olhar primeiro e Caveira em seguida. Voltamos o foco para Batista e Cantagalo.
CANTAGALO: E se eu te disser que já tenho a palavra dada?
BATISTA: Eu te ofereço o dobro, cara. A palavra é bonita, mas o dinheiro compra cada letrinha dela.
CANTAGALO (Rindo): Tu é atrevido hein, doutor… Eu gosto de homem assim!
• Cantagalo se vira para Caveira.
CANTAGALO: Caveira, anota aí: o doutor Batista quer o morro todo pra ele, e vai pagar o dobro.
CAVEIRA (Rindo): Olha só, que esse morro vai ficar rico é agora, hein?
• Cantagalo se vira pra Helena, avaliando-a dos pés à cabeça.
CANTAGALO: E a senhora, é só enfeite do doutor ou também manda no jogo?
• Helena o encara de volta, com ar de superioridade.
HELENA (Séria): Depende do jogo. Nos que eu entro, eu sempre ganho.
• Caveira admira a fala dela, rindo. Cantagalo nota, mas se cala e volta a atenção para Batista.
BATISTA: Negócio fechado, então?
• Cantagalo encara o casal. Depois de um momento de tensão, dá um tapa forte no ombro de Batista, rindo.
CANTAGALO: Fechado, doutor. A área é tua também. Aqui a gente divide o pão, mas o comando continua sendo meu, entendido? E outra, todas as palhaçadas que tu inventar por aqui vai passar pelos meus olhos, tá entendendo?
• Os dois riem, tensos, e apertam as mãos.
CANTAGALO: Caveira, acompanha o casal até a saída.
• Caveira se aproxima, Batista e Helena se preparam pra sair. No caminho até a porta, Helena e Caveira trocam outro olhar. Ele segura a porta e deixa ela passar primeiro, com o olhar descendo discretamente pelo corpo dela. Helena o encara de volta, sorrindo desta vez.
HELENA: Obrigada, adeus.
CAVEIRA: Disponha, dona. Adeus, é só Deus quem sabe.
• Batista encara mal aquilo, mas finge não se importar. Batista e Helena descem o morro, até que desaparecem da cena. Caveira volta para dentro do barraco e Cantagalo solta uma gargalhada e acende um cigarro.
CANTAGALO (Rindo): Tu viu o jeito que tu olhou pra mulher do doutor, Caveira? Rapaz, tu vai arrumar é problema!
CAVEIRA: Ela olhou de volta, chefe. (Rindo/Malicioso): E problema bom a gente chama de oportunidade.
• Cantagalo ri alto, balançando a cabeça. Olha para os traficantes fazendo sinal de zoação.
CANTAGALO: Ó os papo do cara, véi. (P/Caveira): Tu é maluco, moleque! Aquela mulher ali deve ter uma faca escondida no olho.
• Caveira finge não se importar com aquilo. Cantagalo se levanta e olha a favela da janela, Caveira se aproxima. Cantagalo pensativo.
CANTAGALO: Agora me diz… Tu acha que é esperto eu fazer acordo com dois bicheiros?
CAVEIRA: Eu acho que é perigoso. O Rico e o Batista são cobra do mesmo ninho, chefe. Um morde o outro sem avisar, e isso pode acabar respingando na gente.
CANTAGALO: O que vai respingar na gente é o lucro que essa brincadeira vai dar aqui pro morro, cara.
CAVEIRA (Rindo): Então tu quer ver o circo pegando fogo…
CANTAGALO: Eu quero ver é o dinheiro caindo na conta da gente, Caveira. O resto é resto, esses bacana brigam entre eles lá.
• Caveira encara Cantagalo, tenso.
• Ao som de um instrumental tenso, vemos a noite chegar no Rio de Janeiro.
CENA 16: (Mansão Avillar. Exterior. Noite.)
• Vamos nos afastando da fachada da grande mansão. O carro de Batista se aproxima e para na frente. Dentro do carro, vemos Batista e Helena.
BATISTA: Pode subir, Helena. Eu ainda tenho um compromisso pra resolver agora.
HELENA: Uma hora dessas, Batista?
BATISTA: Infelizmente o negócio não escolhe hora, meu amor.
HELENA: Negócio ou alguém? Depois você fica me chamando de louca, dizendo que///
• Batista corta a fala dela e suspira, impaciente.
BATISTA: Você tá vendo coisa onde não tem. Agora sobe, vai. Amanhã a gente conversa.
• Eles se olham por um instante e Helena sai do carro. Batista arranca com o carro e Helena o observa dobrar uma rua. Fica parada por alguns segundos, os olhos firmes na direção por onde o marido saiu. Depois, faz sinal com a mão rapidamente para um dos motoristas da mansão, que se aproxima, surpreso. Helena retira um bolo de dinheiro da bolsa e mostra para ele.
HELENA: Segue o carro do doutor, sem ser visto. Esse aqui vai ser o teu pagamento por isso.
MOTORISTA: Mas, dona Helena…
HELENA: Quer o dinheiro ou não quer?
• O homem engole seco e entra no carro, ligando o veículo. Helena também entra. O motorista dá a partida. Helena abre um pouco da bolsa e vemos um pequeno revólver dentro dela.
HELENA (Furiosa): Vamos ver pra onde esse “negócio” te leva, Batista.
• A câmera se afasta, vamos vendo o carro se afastando da mansão. Close aéreo ali.
CENA 17: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior. Noite.)
• O salão da escola sendo fechado. Roberval organiza algumas cadeiras num canto e se prepara para fechar os portões. Até que, de repente, é surpreendido pela chegada de um carrão chique na porta. Rico é quem desce dele e já vai entrando na escola, surpreendendo Roberval.
RICO: Boa noite, seu Roberval! Desculpa a hora, não queria atrapalhar…
ROBERVAL (Surpreso/Rindo): Imagina, rapaz! Eu pensei até que cê tivesse esquecido da nossa velha escola.
RICO: Esquecer? Nunca! Isso aqui é minha raiz, meu chão.
• Eles dão as mãos e se abraçam.
ROBERVAL: Eita que a vida deu uma boa virada pra você, hein?
RICO: Deu, graças a Deus. E por causa disso, agora eu tô querendo retribuir um pouco. Eu vim conversar justamente sobre isso com o senhor.
ROBERVAL (Curioso/Rindo): Hum, coisa boa vem daí?
RICO: Bom, eu sei como é duro manter uma escola de pé, seu Roberval. É patrocínio que some, ensaio que dá despesa, fantasia que atrasa, e os desfiles do carnaval que pesam bastante no bolso… E aí eu pensei: por que não ajudar a escola, agora que eu posso?
ROBERVAL: Ajudar como, meu filho?
RICO: Eu quero ser o novo patrono da Unidos de Cantagalo, seu Roberval.
• Roberval fica em silêncio por um tempo, processando o que ouviu.
ROBERVAL: Patrono? Tu tá falando de botar dinheiro pesado, hein, meu filho…
RICO (Sorrindo): Eu sei, e eu posso fazer isso!
• Ele tira um maço de notas dobradas do bolso do paletó e coloca sobre a mesa, discretamente.
RICO: Considere isso um adiantamento, meu rei. Eu quero ver essa escola brilhando no Carnaval, mas só se o senhor aceitar a minha proposta, é claro…
• Roberval pega o dinheiro e sorri, surpreso.
ROBERVAL (Sorrindo/Emocionado): Rico… cê tá falando sério mesmo?! Meu Deus…
RICO: Mais sério do que nunca! Eu cresci vendo o senhor batalhar por essa escola, e agora é hora de dar um respiro.
ROBERVAL: Isso aqui não é pouca coisa, não, rapaz. “Patrono da Unidos de Cantagalo” é um nome grande, um nome de peso!
RICO (Sorrindo): E é esse o nome que eu quero pra mim.
ROBERVAL: Olha, Rico, eu não vou te mentir… a gente tá atolado em dívida, irmão. O barracão tá caindo aos pedaços, o desfile de carnaval tá num ritmo muito lento… se você topar bancar isso, vai ser um milagre pra nossa escola!
RICO: É pra isso mesmo que eu tô aqui. A Unidos de Cantagalo vai voltar a ser grande, seu Roberval!
• Roberval dá uma gargalhada, feliz da vida. Pula de felicidade e abraça Rico.
ROBERVAL: Então tá feito! Amanhã mesmo eu anuncio pro pessoal que temos um novo patrono!
RICO: Pode contar comigo pra tudo, seu Roberval. Tudo mesmo!
ROBERVAL: Cê nem sabe o peso que tá tirando das minhas costas, das costas de todo mundo aqui!
• Rico dá uma olhada no salão, analisando tudo o que ele pode melhorar.
RICO: Amanhã mesmo começo os investimentos. Nova bateria, nova quadra, fantasia digna de desfile campeão! (Rindo): Comigo aqui essa escola vai ser a melhor da avenida!
ROBERVAL: Rapaz, o povo vai pirar quando souber disso!
RICO: Deixa pirar! Eu quero é ver o nome “Rico Jacarézinho” brilhando junto com o da escola!
• Eles riem juntos, clima de comemoração. Alguns passos podem ser ouvidos ao longe, Rico e Roberval se viram para ver quem é. Maria Joana paralisa ao ver o pai conversando com Rico.
MARIA JOANA (Incrédula): O que é que ele tá fazendo aqui, pai?!
ROBERVAL (Nervoso): Minha filha, é difícil de explicar, mas o Rico agora é o novo patrono da Unidos de Cantagalo…
MARIA JOANA: Eu não acredito, pai… até você?! Pelo visto não foi só a Maria Brunessa que ele conseguiu ganhar, né? E tudo o que eu falei hoje, não valeu de nada?!
ROBERVAL: Jô, você precisa entender que///
• Rico corta a fala de Roberval.
RICO: Jô, eu não vim comprar ninguém aqui. Tudo o que eu tô fazendo é pelo bem da escola, a Unidos de Cantagalo faz parte de quem eu sou e eu não poderia deixar de ajudar esse lugar!
MARIA JOANA (Gélida): Eu não faço gosto disso, Ricardo. E a gente precisa conversar urgentemente, ter uma conversa definitiva… vem comigo.
• Instrumental triste. Rico a encara, tenso. Foco em Maria Joana, séria, quase revoltada. Close lateral nos dois se olhando, a câmera se afasta deles…
• Ao som de “The Weeknd - Earned It”, sobrevoamos o Rio à noite, a área urbana da cidade iluminada pela luz dos prédios e dos postes. Uma luz vermelha e chamativa exala de um motel chique. Nos aproximamos.
CENA 18: (Motel. Interior. Noite.)
• Ainda ao som da trilha, temos um close aéreo em Mauricéa e Batista fodendo com mais tesão do que nunca. Mauricéa de quatro na cama enquanto Batista a penetra por trás, sexo anal rolando. Ele desfere alguns tapas na bunda dela enquanto fode, o que a deixa louca. Batista apoia as mãos nos peitos dela, masturbando os mamilos enquanto continua penetrando. Mauricéa masturba a sua vagina enquanto isso. Eles gemem muito, de prazer. A câmera dá uma virada lateral e podemos continuar acompanhando a cena refletida no espelho do motel. O foco da câmera muda e a posição deles também. Agora, Batista está por cima de Mauricéa, e ela alisando as costas dele, sentindo arrepios conforme o homem beija o seu corpo. Ela pega um gelo num balde metálico na bancada ao lado da cama e coloca uma pedra de gelo na boca de Batista. Ele morde a pedra e vai descendo, deslizando-a pelo corpo de Mauricéa. Quando chega à vagina, começa a esfregar o gelo. Mauricéa arranha as costas dele, se contorcendo de prazer. Alterna entre arranhar as costas dele e segurar a cabeça do homem entre suas pernas. A câmera se afasta e, em time-lapse, saímos do quarto do motel e vamos até a recepção do local.
CENA 19: (Motel. Recepção. Interior. Noite.)
• Os seguranças na porta liberam a entrada de Helena. A mulher adentra a recepção chiquérrima e vai até o balcão. Abre a bolsa e tira algumas notas de 100. Vai até um balconista e coloca o dinheiro na frente dele.
HELENA (Baixo): Boa noite, meu bem. Eu gostaria de saber algumas informações sobre um quarto específico deste motel… isso aqui tá bom pra você em troca?
• O balconista confirma com a cabeça e pega o dinheiro discretamente.
BALCONISTA: O que você quer saber?
HELENA: Eu quero saber em que quarto está o meu marido, Batista Avillar. Este homem aqui.
• Helena mostra uma foto de Batista no celular.
BALCONISTA: É o seguinte…
• A cena fica muda enquanto o balconista dá as informações do quarto. Helena assente tudo. Corte rápido para ela dentro do elevador. Instrumental tenso. Ela abre a bolsa e confere o seu revólver. Foco na expressão dela, fria.
CENA 20: (Motel. Interior. Noite.)
• Instrumental tenso no ápice. Alternamos entre cenas de Helena se aproximando do quarto de Mauricéa e Batista e a foda intensa do casal. Paramos na cena da foda. Agora, foco lateral em Mauricéa quicando em Batista incansavelmente. O homem quase urra de prazer e a mulher geme quase escandalosamente. Ele segura o cabelo dela com força e a aproxima dele, querendo demonstrar a sua posse.
BATISTA (Ofegante): Isso, vadia… quica pro seu tourão, vai…
MAURICÉA (Gemendo): Eu tô quase lá, Batista…
BATISTA: Então goza pra mim, vai, caralho. Me lambuza todo!
MAURICÉA: Não fala assim que eu não aguento, porra!
• A câmera sobe e vemos a foda pelo espelho do teto. Focamos na entrada do quarto, onde dois pés se aproximam de onde vem o barulho dos gemidos. É Helena, ela coloca o silenciador na arma. Focamos novamente em Mauricéa e Batista fodendo, vendo-os por um dos espelhos do motel. De repente, com um barulho mínimo, o espelho se quebra. O casal para a transa na hora, se olham, tensos. Virada de câmera e zoom em Helena, que observa a cena, horrorizada, apontando a arma para Mauricéa e Batista.
HELENA (Furiosa/Horrorizada): QUE PORRA É ESSA?!
• Mauricéa e Batista se afastam dela, tensos. Foco em Helena, descontrolada, tentando mirar a arma neles a cada movimento que fazem.
CENA 21: (Farmácia. Exterior. Noite.)
• Corte rápido para uma farmácia. “Rede Avillar de Cuidados” escrito no letreiro brilhante dela. Perto dali, podemos ver um carro estacionando. Cinco pessoas saem dele, todos encapuzados. Dentre os cinco, podemos reconhecer dois: Ruth e Caveira. Eles vão direto para o porta-malas do carro. Dois deles pegam barras de metais, e os outros três retiram algumas dinamites do porta-malas.
RUTH (Baixo): É o seguinte, vocês vão lá quebrar essa porta e as janelas. Eu vou implantar as bombas na entrada, o Caveira implanta na saída e o Keka implanta no meio, fechado?
CAVEIRA (Baixo): Fechado. Já checou se tem câmera aqui por perto?
RUTH: Chequei, sim. Esse lugar é muito precário pra isso, ninguém aqui tem condições de implantar uma câmera de segurança.
CAVEIRA: Ótimo. Então vamo começar.
• Os homens avançam até a farmácia e começam a quebrar todas as portas e janelas de vidro. O lugar já começa a ficar destruído a partir dali. Os outros três vão para o interior do local e começam a implantar as bombas. Closes alternados de Ruth e Caveira ativando os explosivos e correndo desesperadamente para não serem vítimas da explosão. Contagem regressiva começando. Vamos alternando os focos entre os segundos das bombas contando “10, 09, 08…” e os bandidos correndo de dentro da farmácia antes que tudo aquilo seja explodido. Os cinco correndo para longe do local, em câmera lenta. Com um barulho estrondoso, a farmácia explode. A explosão se repete de vários focos até que vemos ela de frente, acabando com a farmácia e tudo ao seu redor.
RUTH (Off): Senhor Rico, o serviço tá feito.
RICO (Off): Maravilhoso. Já tava na hora de mostrar quem era o dono do jogo aqui.
(FIM DO EPISÓDIO)
10/11/2025
©️ GS Literatura.
