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Filho do Jogo - Episódio 03​

“Águia-Mestra”

Abertura:

CENA 01: (Cemitério. Interior. Dia.)

 

• Instrumental tenso. Já começamos vendo Rico com fogo nos olhos, encarando Mauricéa e Alaor. A câmera gira em torno do mocinho, tendo foco apenas para ele, encarando os membros da família Veiga de Oliveira. Tudo desfocando ao redor. Flashes das câmeras dos jornalistas são disparados incessantemente sobre ele.

 

RICO (Atordoado): Eu… faço parte da família de vocês agora! EU SOU O RICARDO VEIGA DE OLIVEIRA!

 

• Foco em Mauricéa, chocada com aquele escândalo. Ela fala baixo com Alaor, tensa. Todos comentando sobre aquilo ao redor.

 

MAURICÉA (Tensa): Eu vou lá falar com esse garoto… esse escândalo só precisa acabar o quanto antes!

 

ALAOR: Você não acha perigoso? Ele pode estar armado, Mauricéa. Eu vou chamar os seguranças!

 

MAURICÉA: Não, Alaor. Isso só vai piorar as coisas com a imprensa, os jornais estão todos aqui. Eu vou lá resolver isso.

 

• Chocando a todos ao redor, Mauricéa caminha até Rico em passos lentos, tentando controlar o pânico que sente ao se aproximar do rapaz. Ele a encara, furioso.

 

RICO (Gritando): OLHA SÓ, ATÉ QUE ENFIM ALGUÉM DESSA FAMÍLIA DE COVARDES TEVE CORAGEM DE VIR ATÉ AQUI!

 

MAURICÉA (Gélida/Falando baixo): Para de gritar, você tá fazendo um escândalo aqui, rapaz!

 

RICO: Eu quero que todo mundo saiba o que tá acontecendo, pra não ter chance dessa família de vocês me matar… igual VOCÊ tentou fazer!

 

• Mauricéa, já sem paciência, arrasta o rapaz pelo braço até um canto mais reservado do cemitério. Faz sinal para que ninguém os siga, mas mesmo assim a imprensa segue tirando fotos e gravando ao longe.

 

MAURICÉA: Querido, a que custo? O que vai mudar se todo mundo souber? Eu acho que você não tem noção de com quem está se metendo, mas eu já vou te deixar muito bem informado: Prazer, Mauricéa Veiga. Ninguém tem coragem de se crescer pra cima de mim, porque quem tentou, já está com a boca cheia de terra. Não queira ser mais um deles, por favor. Não importa o que você faça aqui, você continua sendo um dos milhões de motoristas de aplicativo do Rio de Janeiro, não se sinta tão importante assim por isso.

 

RICO: Agora mais não, Mauricéa Veiga. Agora eu sou um dos homens mais ricos dessa cidade, porque eu também sou a sua família.

 

MAURICÉA: E infelizmente não há nada que eu possa fazer pra evitar isso AGORA, mas em pouco tempo eu posso dar um jeito, sim. Seguinte, se você estiver disposto a encerrar tudo isso de uma forma amigável, esteja neste endereço aqui às três.

 

• Mauricéa entrega um cartão para Rico.

 

MAURICÉA: O advogado da família vai fazer a leitura do testamento do Marcinho, e eu te garanto que não tive tempo de mexer em nada ali.

 

RICO: Eu vou ir sim, dona Mauricéa. Me aguarde… e eu espero que aceite de bom grado tudo o que for imposto pelo advogado, porque eu vou me apossar de tudo que é meu por direito, não importa como.

 

MAURICÉA: Não torne isso uma competição, Ricardo. Porque eu te garanto que você não gostaria nada de competir comigo.

 

• Mauricéa se retira, fingindo chorar e voltando a velar Marcinho. Rico observa aquilo, intrigado com a fala de Mauricéa, mas esperançoso de que conseguirá, enfim, mudar de vida. Mauricéa observa ele algumas vezes, de longe. O homem vai saindo aos poucos do cemitério. Jornalistas continuam a querer descobrir detalhes de tudo o que está acontecendo.

 

• Instrumental triste. Imagens lentas do Rio de Janeiro são mostradas enquanto algumas horas se passam diante da bela paisagem. Corte brusco para um voo sobre a comunidade do Cantagalo. Movimentação mediana pelas ruas da comunidade. Vamos nos aproximando da casa da família de Rico.

 

CENA 02: (Casa de Rico. Sala de estar. Interior. Dia.)

 

• Vamos nos afastando de Rico, sentado no sofá, nervoso. Revelam-se algumas pessoas em volta dele, enchendo-o de perguntas: Cátia, Kelly, Paulão, Maria Joana, Maria Brunessa, Roberval e Luciane.

 

CÁTIA: RICARDO, PELO AMOR DE DEUS! Como é que você foge daquele hospital e me deixa lá sozinha?! Meu filho, eu quase infartei, e outra: VOCÊ VAI VOLTAR PRO HOSPITAL! Você ainda não tá pronto pra ficar sem cuidados médicos, filho!

 

PAULÃO: Pois é, filhote. Se eu fosse você, eu voltaria pra lá agora!

 

RICO: Mãe, pai, eu ainda não posso explicar o porquê eu fiz o que eu fiz, mas logo vocês vão entender e vão ter que me explicar muita coisa também.

 

KELLY: Credo, Ricardo… depois desse acidente você tá parecendo até outra pessoa!

 

RICO: Olha, você não tem noção do que eu enfrentei, Kelly. Mas eu vou te explicar tudo, eu juro! Pra todos vocês!

 

MARIA BRUNESSA: Cá pra nós, cunhadinho… dá um spoiler aí do que aconteceu, vai! Eu tô curiosíssima pra saber, isso vai me render tanto ibope///

 

LUCIANE: Maria Brunessa, pelo amor de Deus!

 

RICO: Olha, chega de pergunta, tá legal?

 

• Rico se levanta, cortando o papo. Rico se aproxima de Maria Joana.

 

RICO: Será que a gente conversar um instante, meu amor? É importante.

 

MARIA JOANA: Claro, amor. Podemos sim.

 

CENA 03: (Casa de Rico. Quarto. Interior.)

 

• Maria Joana sentada na cama, Rico abrindo uma gaveta e retirando um documento de dentro dela.

 

MARIA JOANA: O que você queria falar comigo, Rico?

 

• Ele entrega os documentos pra ela.

 

RICO: Era sobre isso. Nessa linguagem médica tá meio difícil de entender, mas esses documentos comprovam que eu sou herdeiro de uma família de ricaço, Jô.

 

MARIA JOANA (Assustada): Como assim, Rico?! Quando isso foi acontecer?

 

RICO: É uma longa história, mas foi durante o acidente. Quando eu fui pro hospital com o Marcinho pra ser operado, o Ulisses fez um exame de tipagem sanguínea entre nós e o resultado foi uma irmandade! Eu sou parte da família Veiga de Oliveira, amor!

 

MARIA JOANA: O quê?! Aquela família de bicheiro? E você quer entrar pra uma família dessas, tá louco, Ricardo?!

 

RICO (Sorrindo): Você não entende, meu amor… olha, parece que aquele milagre que eu pedi pra Nossa Senhora finalmente aconteceu, você lembra?

 

MARIA JOANA: Isso não é milagre, Rico! Tá mais pra uma maldição… você já viu o histórico dessa família?!

 

RICO: Eu não me importo com isso, e eu sei me cuidar! E outra, meu amor, eu acho que vale esse sacrifício pra ter uma vida melhor… o que eu não posso é ficar nesse comodismo de levar uma vida onde quase não tenho o que comer!

 

MARIA JOANA: Rico, se esse for o caso, você sabe que o pessoal da comunidade pode te ajudar!

 

RICO: Eu não vou ficar vivendo de esmola, entende isso de uma vez por todas! Jô… você não tem noção da bolada de dinheiro que essa família tem!

 

MARIA JOANA (Alterada): ESSE DINHEIRO JÁ TE CEGOU, RICARDO!

 

RICO: Por favor, não grita! Se acalma… olha, o meu futuro lá tá escrito num testamento. Eu preciso que você me apoie nesse momento, meu amor. A gente vai mudar de vida juntos!

 

MARIA JOANA: Não, eu não! Eu te amo, Rico, mas não dá pra aceitar uma coisa dessas…

 

• Rico aflito diante da discussão, passa as mãos pela cabeça, nervoso. Maria Joana se retira do quarto, exaltada. Clima tenso. Foco no olhar de Rico, já decidido sobre o que irá fazer.

 

• Ao som de “ALIEN SUPERSTAR - Beyoncé”, vamos saindo do espaço ocupado pela comunidade do Cantagalo na cidade maravilhosa e indo até um condomínio de luxo. Passeamos pelas casas glamourosas até entrarmos na mansão dos Veiga de Oliveira.

 

CENA 04: (Mansão dos Veiga. Sala de estar. Interior.)

 

• No centro da sala, Mauricéa sentada em um dos sofás. Ela treme as pernas ansiosamente como se estivesse ansiosa por algo. Ao lado dela, Alaor, visivelmente cansado de todos os últimos acontecimentos. Diante deles, está sentado o advogado da família. Todos sérios, calados. Mauricéa dá uma olhada no relógio em seu braço.

 

MAURICÉA: Ele tá atrasado…

 

ALAOR: Já deve estar chegando, querida. Esse rapaz não deve nem saber direito o caminho até aqui.

 

MAURICÉA: Não saber o caminho não é desculpa, o mínimo que ele pode fazer é ser pontual, considerando que vai receber a herança da família de mão beijada…

 

ADVOGADO: Dona Mauricéa, o senhor Ricardo foi avisado do horário com antecedência. Imagino que já esteja a caminho daqui.

 

MAURICÉA: Tomara!

 

• O silêncio volta a reinar na sala, até que, pouco tempo depois, ouve-se o tocar da campainha. Um mordomo vai até a sala e Alaor faz sinal para que ele libere a entrada. Rico entra. Olha ao redor, claramente deslocado, mas tentando manter a postura. Podemos ver que ele tenta reproduzir uma roupa chique com o que tinha no guarda-roupa. Todos olham para ele, que se sente levemente julgado.

 

RICO (Sem jeito): Boa tarde.

 

• Mauricéa força um sorriso para receber ele.

 

MAURICÉA: Boa tarde, Ricardo. Seja bem-vindo à casa dos Veiga!

 

RICO (Forçando simpatia): Pode me chamar de Rico mesmo, dona Mauricéa.

 

MAURICÉA (Desdém): Como preferir.

 

• Rico se senta, ansioso para a leitura do testamento.

 

ADVOGADO: Estamos aqui para a leitura do testamento de Márcio Veiga de Oliveira, falecido nos últimos dias. Conforme consta, o documento foi redigido há cerca de um ano, e ratificado pouco antes do acidente que levou à sua morte.

 

• Mauricéa cruza as pernas, só esperando o que há por vir. Rico passa a mão pelas pernas, nervoso.

 

ADVOGADO (Lendo): Aqui, ele diz: “Eu, Márcio Ailton Veiga de Oliveira Filho, em plena posse das minhas faculdades mentais, declaro que, no caso do meu falecimento, todos os meus bens, cotas empresariais, investimentos e propriedades deverão ser herdados pelo parente consanguíneo mais próximo, conforme definido em exame de DNA e reconhecimento jurídico de parentesco.”

 

RICO (Confuso): Parente consanguíneo mais próximo? Como assim, doutor?

 

ADVOGADO: Senhor Ricardo, como o senhor deve saber, o exame realizado durante a internação revelou que o senhor e o falecido são irmãos biológicos. Continuando: “Caso existam outros herdeiros reconhecidos legalmente, os mesmos deverão receber conforme os percentuais estipulados no código civil. Não havendo outros parentes diretos vivos, toda a herança será destinada ao parente de sangue com o grau mais próximo.”

 

• O advogado fecha a pasta com o documento do testamento. Clima de suspense na sala. Todos aflitos.

 

ADVOGADO: Isso significa, senhor Ricardo, que o senhor é o único herdeiro legal dos bens de Márcio Veiga de Oliveira.

 

• Rico sente o baque. Tudo para em volta e focamos apenas nele agora. Flashes dolorosos vêm à cabeça dele: a sensação de não ter o que comer, a pobreza, as humilhações sofridas no trabalho, tudo o que enfrentou na vida. Takes do acidente também vêm à memória, tudo se repete até o momento em que descobre que é o irmão biológico de Marcinho. Agora, voltamos ao normal. Rico incrédulo diante do advogado. Mauricéa, ao seu lado, desgostosa.

 

RICO (Chocado): Isso… é algum tipo de brincadeira?!

 

ADVOGADO: Não, senhor. Tudo está devidamente registrado em cartório.

 

RICO: Mas… e o resto da família? A senhora, o senhor Alaor… ninguém mais tem direito?!

 

ALAOR: O documento é claro, Ricardo. Se ele escreveu assim, é porque queria deixar tudo pra você.

 

MAURICÉA (Rindo/Sarcástica): Que generoso da parte dele, não?

 

• Clima pesado na sala. O advogado pigarreia, se sentindo desconfortável.

 

ADVOGADO: Bom, eu já cumpri a parte que me cabe. Os trâmites legais serão iniciados ainda hoje. Senhor Ricardo, peço que passe no escritório amanhã pra assinar alguns papéis.

 

RICO (Atordoado): Tá… tá certo!

 

ADVOGADO: Então eu me despeço.

 

• O advogado se retira e o silêncio volta na sala. Mauricéa fica encarando Rico por alguns segundos, sem disfarçar o incômodo. Rico olha ao redor

 

RICO: Sabe, eu não entendo muito dessas coisas de herança. Eu não pedi nada disso! (Sarcástico): Não tenho culpa se isso tudo aqui era pra ser meu.

 

MAURICÉA: Ninguém pede o sangue que corre nas veias, Ricardo. Acontece. Mas até parece que você não gostou nadinha de tudo isso, de ficar rico de uma hora pra outra…

 

ALAOR: Olha… talvez seja melhor vocês conversarem com calma. É muita informação de uma vez.

 

MAURICÉA (Gélida/Sorrindo): Concordo.

 

• Ela se levanta lentamente e dá alguns passos em direção a Rico, imponente e com o olhar afiado.

 

MAURICÉA: Ricardo… você poderia me acompanhar por um momento?

 

RICO (Inseguro): Claro… onde?

 

• Mauricéa o encarando friamente.

 

CENA 05: (Mansão dos Veiga. Quarto Marcinho. Interior.)

 

• A porta se abre e vemos o enorme e luxuoso quarto de Marcinho, decorado com troféus, bichos e outros adereços em ouro. Mauricéa entra primeiro. Rico a segue, hesitante, observando o lugar. Fotos antigas de Marcinho ainda em vida estão espalhadas por todo o local: o homem sorrindo em festas, com taças de champanhe, abraçado a amigos e mulheres. Além da ostentação vista nos quadros, o quarto é também um retrato da ostentação do antigo bicheiro: roupas caras penduradas, relógios chiques, relíquias da família valiosíssimas, e muitas outras coisas. Rico deslumbrado. Mauricéa respira fundo antes de falar.

 

MAURICÉA: Esse era o mundo do Marcinho. Ele gostava de tudo que o dinheiro podia comprar. Mas tinha bom gosto, isso eu admito… esse quarto meio “paraíba” já diz tudo.

 

• Ela se aproxima de um porta-retrato de Marcinho.

 

MAURICÉA: Ele era inteligente, charmoso, estratégico. Herdou isso do pai…

 

RICO: E o que foi que ele herdou da senhora?

 

MAURICÉA: Eu não sou a mãe do Marcinho, Ricardo. Mas eu posso dizer que nesses últimos anos, uma coisa que ele aprendeu comigo foi o instinto de sobrevivência.

 

• Rico ri, irônico.

 

RICO: E esse instinto aí que a senhora tá querendo usar contra mim, é isso?

 

MAURICÉA: É uma questão de preservar o que é meu, eu não quero ter que te fazer mal algum.

 

RICO: O que é seu, dona Mauricéa, é o que tá no seu nome. O resto agora é meu por direito.

 

MAURICÉA (Rindo): Direito? Você acha que o jogo da vida se resolve com papel e assinatura de advogado? Ah, querido, eu sei que dizem por aí que no nosso ramo “vale o escrito”, mas a verdade é que aqui o que dita mesmo as coisas é o sangue! É o tanto de cabeças que a gente corta, é o mal que cortamos pela raiz e por isso eu te digo sem medo, Ricardo… você tá mexendo um ninho muito perigoso, e não vai ter peito pra segurar as consequências.

 

RICO: Pois eu acho que se resolve com verdade, Mauricéa. E se não era assim até agora, vai passar a ser! Com verdade e com coragem!

 

• Ela dá uma risada, desdenhando.

 

MAURICÉA: Olha como já tá se achando poderoso… (Desdém): A verdade, Ricardo, é que você é um estranho que apareceu de repente dizendo ser irmão do meu sobrinho morto. Eu não sei quem você é, o que quer, nem o que planeja. Mas eu só sei que não vou deixar um forasteiro qualquer colocar as mãos no que a minha família construiu durante anos.

 

RICO: Você fala como se eu tivesse pedido pra nascer um Veiga de Oliveira!

 

MAURICÉA: Talvez não tenha pedido, mas está aproveitando bem a oportunidade!

 

• Rico respira fundo, estremecendo diante das palavras horríveis de Mauricéa, mas sem baixar a cabeça.

 

RICO: Eu não quero favor, nem migalhas de vocês. Eu só quero o que é meu! O Marcinho quem quis assim, não fui eu.

 

MAURICÉA: Você não faz ideia do que tá mexendo, rapaz. Essa família é feita de alianças, de sangue e de segredos… O Marcinho sabia onde estava pisando, você não.

 

RICO: Pois eu vou aprender!

 

MAURICÉA (Rindo): E vai se afogar tentando.

 

RICO: Você pode tentar o que quiser, Mauricéa. Eu não sou de abaixar a cabeça!

 

MAURICÉA: Que bonito, um discurso digno de mocinha da novela das nove! A Laura tá diferente, né?

 

RICO: Eu só te digo uma coisa: às vezes, quem vem de baixo é quem mais sabe jogar.

 

• Rico se retira, exaltado. Bate a porta fortemente. Close fechado em Mauricéa, ameaçadora, com seus olhos de águia.

 

MAURICÉA: Inferno… você vai se arrepender de não ter me escutado, garoto!

 

• Ela fecha os olhos, respira fundo, volta a se recompor. Pega o celular no bolso e disca um número.

 

MAURICÉA (Gélida/Ao telefone): Mauricéa Veiga. Digamos que eu preciso de um serviço rápido…

 

CENA 06: (Comunidade. Ruas. Exterior. Tarde.)

 

• Vamos descendo de um take aéreo na comunidade até focarmos nas ruas. Ao longe, Maria Brunessa e Gleici dividem um fone e andam pela rua cantando e dançando “Sua Cara - Anitta ft. Pabllo Vittar”. As garotas em plena empolgação, dançando horrores. Do lado oposto da rua, Nadir e Ruth vêm vindo, vestindo roupas grandes e com bíblias na mão. Olham de cara feia para Maria Brunessa e Gleici.

 

NADIR (Horrorizada): Tá repreendido, Jesus Cristo!

 

• Maria Brunessa nota o comentário primeiro e já tira o fone de ouvido para rebater.

 

MARIA BRUNESSA: Tu falou o quê, ô projeto de Flordelis?

 

NADIR: Eu só repreendi esses demônios que estão possuindo vocês! O da piranhagem e o da homossexualidade!

 

• Gleici se aproxima dela, furiosa.

 

GLEICI: Não precisa deixar as coisas subentendidas não porque o meu papo é bem reto, queridinha. Eu sei que você tem problema com o fato de eu ser uma mulher trans, mas deixa eu te contar uma coisinha: eu não vou mudar quem eu sou porque tu quer!

 

NADIR: Mas não sou eu que quero isso, é Deus! Ele só fez homem e mulher!

 

MARIA BRUNESSA: E a Gleici não é mulher não, ô sua preconceituosa do caralho?

 

RUTH: Veja bem como fala com a minha vó!

 

MARIA BRUNESSA: E tu não vem se crescer não hein, Ruth, que tu é uma sonsa! Aquele depósito da escola na época do terceirão que o diga!

 

RUTH: SUA DEPRAVADA! MENTIROSA! NOJENTA!

 

NADIR: Para de inventar mentiras da minha netinha querida e edificada, sua piranha loira! E você, travequinha, tá me olhando com essa cara fechada por quê?

 

GLEICI: Tu só tem inveja de mim porque eu sou uma porta-bandeira bem melhor do que você foi há 100 anos atrás, ô matusa!

 

• Nadir avança em Gleici e as duas começam a se bater no chão. Uma bagunça. Maria Brunessa começa a gravar tudo e Ruth tenta separar as mulheres, desesperada.

 

MARIA BRUNESSA (Gritando): OLHA AÍ BRUMORES, A TRANSFÓBICA APANHANDO HORRORES, Ó!

 

RUTH: PARA DE GRAVAR E ME AJUDA AQUI, GAROTA!

 

MARIA BRUNESSA: Eu mesma não, meus brumores adoram ver essa favela pegando fogo!

 

• Ruth recebe uma ligação misteriosa, olha o telefone rapidamente e sai correndo. Maria Brunessa segue gravando a briga entre as mulheres e torcendo para Gleici.

 

CENA 07: (Comunidade. Beco. Interior.)

 

• Foco de cima no beco. Instrumental tenso. Vemos Ruth correndo até conseguir adentrar o local. Close fechado nela, suando frio. Quando ela puxa o celular para atender, vemos o nome do contato na tela: “Mauricéa”.

 

RUTH (Tensa): Alô, dona Mauricéa…

 

MAURICÉA (Voz): Olá, querida. Eu sei que não está no seu horário de expediente, mas eu preciso urgentemente de um servicinho seu… daqueles que você já sabe, pra hoje à noite. Prometo pagar muito bem!

 

RUTH: Tá bem, pode deixar, mas… seria pra quem o serviço?

 

MAURICÉA (Voz): Olha só, você nem vai precisar ir muito longe pra isso porque é pra dar um trato num indivíduo que mora aí perto de você… por um acaso, você conhece o Ricardo Acaré?

 

• Ruth empalidece ao escutar o nome.

 

RUTH (Aflita): O Rico?… Conheço. Conheço sim.

 

MAURICÉA (Voz): Ótimo. Convoca os auxiliares e faz esse serviço pra mim, garota.

 

RUTH: Desculpa, dona Mauricéa, mas eu vou ter que perguntar… porque você quer dar um susto nele?

 

MAURICÉA (Voz): Não se intrometa onde não deve porque você pode se arrepender, querida. O importante é a bolada de dinheiro que você vai ganhar com isso.

 

RUTH (Séria): Ótimo, então pode considerar o serviço como feito.

 

• Ruth desliga e olha aos arredores para garantir que ninguém a viu. Sai correndo do beco, tensa.

 

CENA 08: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior.)

 

• Ao som de “Jacaré no Samba - Patrulha do Samba”, vamos nos aproximando do salão da Unidos de Cantagalo. Maria Joana à frente de um grupo de jovens sambistas. Aula de samba acontecendo na escola, ela dança com empolgação, vendo seus alunos aprenderem também.

 

MARIA JOANA (Sorrindo): Isso! Rebola com o coração, minha gente! O samba tem que tá no sentimento, na alma de vocês! Vamos mais uma vez, do começo.

 

• Ela marca o ritmo com o pé e ri quando um dos alunos erra o passo.

 

MARIA JOANA (Rindo): Aí não, Juninho! Vai fazendo de novo essa parte, com calma. Me acompanha aqui, ó.

 

• Maria Joana ensina o samba no pé pouco a pouco para ele. Acelerando o ritmo, eles começam a dançar um samba bem animado. Do lado de fora da escola, acompanhamos Rico adentrando o local e indo até o salão. Ele fica parado, observando Maria Joana dançar, sorrindo. A mulher tão empolgada na dança, nem nota ele ali.

 

ALUNO: Jô, olha o seu namorado ali na porta!

 

• Maria Joana erra o passo bruscamente ao ouvir aquilo e o seu sorriso some do rosto. Ela encara Rico, surpresa. Se aproxima dele e os dois vão até um canto para que ninguém possa escutar a conversa.

 

MARIA JOANA (Surpresa): Ué, Rico… que que cê tá fazendo aqui?

 

• Ela nota em Rico uma expressão de euforia.

 

MARIA JOANA (Receosa): Que é que tá acontecendo? Esse sorrisão aí não é de quem tá só de bobeira, não…

 

RICO (Sorrindo): É que… as coisas mudaram pra mim, minha rainha!

 

MARIA JOANA: Mudaram como? (Receosa): Ai, Rico, não vai me dizer que…

 

RICO (Eufórico): Eu consegui o que era meu, Jô! Aquela herança lá, agora é oficial!

 

• Rico espera empolgação da parte de Maria Joana, mas não a recebe. A mulher o encara, estática.

 

MARIA JOANA: Rico… cê tá falando sério?!

 

RICO: Tô falando muito sério! Nossa vida vai mudar, meu amor! A gente vai poder sair daqui, investir na escola, ajudar sua família, o morro inteiro se quiser!

 

• Maria Joana passa a mão pelos cabelos, atordoada. Se afasta um pouco de Rico.

 

MARIA JOANA: Eu não sei se é assim que funciona, não. Rico… isso é dinheiro de gente perigosa. De família envolvida com coisa errada. Você mesmo me contou! E porra, eu te falei pra não ir atrás desse povo! Porque você nunca me escuta?!

 

RICO: Mas é o meu direito! Eu não pedi pra nascer da família deles, mas eu nasci! Sempre me conformei de ser um filho adotado, Jô. Você sabe que eu amo a minha família como se eles fossem de sangue, mas acontece que o meu sangue se cruza com uma linhagem banhada a ouro! E agora é hora de aproveitar o que é meu!

 

MARIA JOANA (Séria): E o que que o seu coração diz disso tudo, hein?

 

RICO: Meu coração diz que eu tô cansado de viver uma vida precária, Jô. Cansado de ver minha mãe se matando de costurar e meu pai se virando pra pagar conta em casa! Se o destino me deu essa chance, eu não vou desperdiçar, desculpa.

 

• Maria Joana decepcionada com as respostas de Rico. O olha com insatisfação e sente medo por ele.

 

MARIA JOANA: Só toma cuidado, tá? O dinheiro que vem fácil, às vezes pode sair muito caro.

 

RICO: Ih, lá vem você com essas frases de novela… Fica tranquila, amor. Eu sei o que tô fazendo!

 

MARIA JOANA: Eu espero que saiba mesmo, porque se esse dinheiro te mudar, Ricardo, isso vai doer mais do que você imagina!

 

• Rico engole seco. Os alunos cochicham sobre a discussão do casal ao fundo. Eles percebem e se incomodam.

 

RICO (Sério): Eu volto mais tarde, tá? Só passei pra te contar mesmo. Pensei que você fosse ficar feliz por mim…

 

MARIA JOANA: Boa sorte, Rico. De verdade.

 

• Ele acena, sem graça, e se retira. Maria Joana o acompanha com os olhos até ele sair do salão. Ela respira fundo, encara os alunos, todos olhando curiosos. Tenta se reanimar para seguir com a aula.

 

MARIA JOANA: Vamo lá, minha gente, do começo!

 

• A música recomeça. Ela dança com empolgação, mas o olhar de medo e preocupação não a deixam mentir. Toda a situação ocorrida com Rico mexeu mais com ela do que poderia imaginar.

 

• Corte rápido para uma coletânea de paisagens do Rio de Janeiro passando pela tela, fazendo a transição para a próxima cena. Vemos a fachada da mansão dos Alcântara Avillar.

 

CENA 09: (Mansão Avillar. Sala de refeições. Interior. Tarde.)

 

• A família Avillar à mesa, tomando um café da tarde. Mesa posta, elegante, com frutas e tábuas de frios. Batista, Helena, Rafael e Marcelo à mesa, comentam sobre os últimos escândalos envolvendo os Veiga de Oliveira.

 

RAFAEL: Ei, pai, sabia que eu tava na operação do hospital, aquela do Ricardo e do Marcinho Veiga? Se não fosse por um pretinho lá bancando o fiscal, eu tinha acabado com aquele moleque no primeiro instante! Mas ainda bem que não resistiu mesmo.

 

BATISTA: Interessante, hein? (Rindo): Então só não foi porque alguém tinha que segurar a mão de vocês… mas obrigado por tentar, filhão. Aliás, que escândalo esse Ricardo fez lá no velório do Marcinho, achei estranho ele do nada ser irmão do cara. Parece até coisa de novela.

 

HELENA: Ai, por favor, a gente tem que ficar falando dos Veiga de Oliveira? Essa família toda é um circo! É escândalo no velório, é fofoca na cidade…

 

MARCELO: E vocês acham mesmo que esse tal de Ricardo vai crescer na família?

 

BATISTA (Rindo): Crescer? Por favor, Marcelo. Um rapaz que surge do nada, se dizendo irmão do morto, cheio de grana… Parece até piada! Mas vou confessar que isso é uma boa oportunidade de ver quem é realmente esperto e quem vai acabar se afogando no próprio sangue. Adoro essas brigas de família.

 

RAFAEL: Parece que ele já tá se movimentando. Esse garoto tem pulso. Pra peitar aquela Mauricéa Veiga tem que ter coragem, dizem as más línguas que ele manda todo mundo pra vala! Mas o que você vai fazer se o Ricardo começar a travar guerra com a nossa família, pai?

 

BATISTA: Por enquanto eu vou só observar, e se o comédia passar dos meus limites, eu dou um empurrãozinho pra ele cair. Sabe, esse garoto tá chegando com sede de poder, e sede de poder a gente sabe, pode ser perigoso.

 

HELENA: O garoto vai complicar nosso caminho com toda certeza. Ele tem toda a aura do herdeiro que ninguém queria, mas que o destino coloca na frente pra bagunçar tudo, aura de ovelha negra, de filho rejeitado. E o pior: ele é esperto! Não é aquele tipo de moleque que se deixa manipular fácil. Só nesse barraco do velório ele já mostrou tudo isso.

 

BATISTA: Ele é uma ameaça com potencial, mas ainda não sabe o que é a vida de verdade. Ainda vai pisar em falso. E quando pisar, eu vou tá lá pra mostrar que aqui a gente presta as contas com sangue.

 

MARCELO (Rindo): Eu só quero ver a cara dele quando perceber que não vai ser tão fácil.

 

BATISTA: Isso mesmo, filho. (Rindo): Rico… ele é só o começo. A gente vai ver se ele tem jogo de cintura ou se vai quebrar no primeiro embate. Quem acha que entra no meu território sem jogar pelas minhas regras, aprende da pior forma que quem manda aqui sou eu. (Sarcástico): Pois então, brindemos à diversão que está por vir!

 

• Todos levantam suas xícaras e brindam, tensos com as palavras de Batista. Clima pesado na mesa.

 

CENA 10: (Mansão Veiga. Banheiro Mauricéa. Interior. Tarde.)

 

• Adentramos o banheiro luxuoso de Mauricéa, todos os detalhes em preto, dourado e vermelho. O box do banheiro se abre e o vapor do banho se espalha, criando uma cortina de fumaça que logo é desfeita quando Mauricéa passa por ela. Vemos os olhos dela vermelhos, indicando que estava chorando de ódio. Ela se enrola numa toalha e se aproxima do espelho, encarando o seu reflexo. Ódio no olhar.

 

MAURICÉA: Você nunca vai deixar ninguém te tirar do topo, Mauricéa. Nunca! Prometa isso pra si mesma!

 

• Ela passa a mão pelo rosto e o olhar se torna mais frio, calculista.

 

MAURICÉA: E quanto a você, Rico… Esse é um problema resolvido! (Rindo): Esse estorvo já tá fora da minha vida!

 

• Mauricéa aperta o punho, seu reflexo no espelho reflete o seu eu vulnerável e cruel ao mesmo tempo. Agora, capaz de tudo. Ela aponta pra si mesma.

 

MAURICÉA (Determinada): Você é uma máquina de vencer!

 

• Ela respira fundo, se vira lentamente e caminha para fora do banheiro, agora com um olhar possesso, e sem deixar escapar um sorrisinho de satisfação no canto do rosto.

 

CENA 11: (Casa dos Silva. Cozinha. Interior. Noite.)

 

• Ao som de um instrumental triste, vamos nos aproximando da casa da família Silva na comunidade do Cantagalo. Quando entramos, vemos a família jantando e conversando na cozinha.

 

MARIA BRUNESSA: Gente, vocês não têm noção de quantas views já tem o meu vídeo da briga que teve hoje aqui na comunidade. Bombou no TikTok e agora eu tô com um total de 36 mil seguidores, tá? Tô famosíssima!

 

LUCIANE: Ai, ai, ai, minha filha… olha lá essas coisas de internet, hein? Todo dia mandam no grupo do zap que é perigoso.

 

MARIA BRUNESSA: Acontece que esse povinho daqui é muito retrógrado, parece até que não vivem no século XXI!

 

ROBERVAL: Que jeito é esse de falar do pessoal aqui da comunidade, Maria Brunessa?! Você tem que ser grata a eles todos os dias. É por causa de todos aqui que a nossa escola tá de pé, que a gente ganha o nosso sustento!

 

MARIA BRUNESSA: Sustento mínimo né, pai? A escola tá fechando no vermelho. Mas ainda bem que a gente já tá no final do ano e logo chega o carnaval pra ela voltar a lucrar de novo. Olha… bem que um desses bicheiros poderiam patrocinar a escola, né?

 

ROBERVAL: Olha, eu não vou nem responder isso que você falou, minha filha…

 

LUCIANE: Mas de fato, meu amor, precisamos urgentemente reverter esses prejuízos com a escola. Ai, minha Nossa Senhora, meu Deus, envia um anjo de prosperidade pra cá!

 

• Eles interrompem a conversa e olham para Maria Joana, muito calada diante de todos os acontecimentos à mesa. Ela está cabisbaixa, com aparência de cansada, pálida.

 

LUCIANE (Preocupada): Minha filha, tá tudo bem? Você nem tocou na comida.

 

MARIA BRUNESSA: Ih, verdade, maninha, cê tá muito calada!

 

ROBERVAL: O que aconteceu, Jô? Brigou com o Rico?

 

MARIA JOANA (Triste): Não, gente, eu só… não tô me sentindo muito bem. Tô enjoada, tô com um pressentimento ruim…

 

LUCIANE: Isso é falta de vitamina, filha. Dá um minuto que eu vou fazer um chá pra você!

 

MARIA JOANA: Não, mãe… não é nada disso, eu só realmente não tô bem, e não tô com fome. Olha, eu acho que eu vou dormir, afinal amanhã é outro dia.

 

• Fraca, ela tenta se levantar, mas cai no meio do ato e acaba derrubando alguns pratos da mesa. Roberval, Luciane e Maria Brunessa correm para perto, ajudando ela a levantar. Eles guiam Maria Joana até o sofá e lá a mulher desaba em choro, não aguentando mais guardar o que está sentindo.

 

ROBERVAL: Fala com a gente, minha filha… o que foi que aconteceu?!

 

MARIA JOANA (Chorando): Tá bom, gente… é com o Rico sim. Eu não posso falar tudo, mas ele tá correndo muito perigo, e eu tô sentindo que tem alguma coisa muito ruim pra acontecer!

 

• Todos se olham, tensos. Foco em Maria Joana, em prantos. A família ao redor, consolando-a.

 

CENA 12: (Motel. Interior. Noite.)

 

• Vamos nos aproximando de um quarto luxuoso de motel e já podemos ver quem está nele: Mauricéa e Batista. Batista seminu e Mauricéa apenas de calcinha, algemada à cama, ansiosa pela dinâmica do sexo desta vez. Batista abre uma caixa trancada e retira um vibrador de lá, formato roliço, pequeno. Coloca-o por dentro da calcinha de Mauricéa e a mulher já começa a delirar de prazer. Batista pega o controle do brinquedo e começa a controlar a intensidade dele. Mauricéa revira os olhos de prazer. Batista se masturba enquanto a mulher se contorce de tesão ao seu lado. Mauricéa grita de prazer quando chega ao seu ápice. Corte rápido para Batista algemado desta vez, e Mauricéa por cima dele, massageia o peitoral e mordisca os mamilos do homem. Inverte o lado e deixa todo o seu quadril direcionado para o rosto de Batista e, enquanto ela faz um boquete para ele, ele chupa a vagina dela da forma que consegue, sem pôr as mãos. Takes deles gozando juntos desta posição. Batista lambuza todo o líquido que Mauricéa ejacula, saboreando. Corta para eles conversando após o ato. Batista ainda algemado e Mauricéa em pé, em frente a ele.

 

BATISTA (Rindo): Tava bem empolgada hoje pra quem tá segurando um escândalo desses na família, hein?

 

MAURICÉA: Ah, querido, pode ter certeza que eu descontei toda a minha raiva aqui, em cima de você.

 

BATISTA: É, literalmente… mas vem cá, fala mais desse sangue novo na família aí.

 

MAURICÉA: Você sabe que eu nunca deixei ninguém nessa família passar por cima de mim, às vezes eles podem ficar ao meu lado, chegar perto de mim, mas nunca acima. Batista, eu mandei matar a minha irmã, o meu cunhado, o meu sobrinho… (Rindo): Você acha que o Ricardo é o quê pra mim?

 

BATISTA: Falando nisso, o Ricardo é filho de quem, hein?

 

• Aquela pergunta soa como um tiro para Mauricéa, deixando-a claramente desconcertada. Ela gagueja para falar.

 

MAURICÉA (Nervosa): Ué… ele é… filho dos mesmos pais do Marcinho! Mas isso não importa agora. O que importa, Batista, é que eu já posso ser oficializada como a bicheira chefe da família Veiga de Oliveira, porque o Ricardo…

 

• Ela deita por cima de Batista e olha dentro dos olhos do homem.

 

MAURICÉA (Rindo): Esse já é carta fora do baralho!

 

• A cena escurece bruscamente.

 

CENA 13: (Casa de Rico. Sala. Interior. Noite)

 

• Cátia, Paulão e Kelly sentados no sofá, assistindo o jornal do dia. A matéria é sobre violência nas cidades. Eles conversam um pouco sobre Rico. O rapaz, que estava na cozinha, para pra escutar o que a família comenta.

 

KELLY (Aflita): Pai, mãe… cês também não tão achando o Rico meio estranho desde que ele sofreu esse acidente?

 

CÁTIA: Estranho? Ele só tá pensativo, meu amor. Uma experiência de quase morte deve mudar uma pessoa mesmo. Eu também tava achando ele estranho nos primeiros dias, mas agora eu entendo que ele tá mesmo é assustado.

 

PAULÃO: Todo mundo tem seus dias, minha filha. Mas vamos parar de encher o saco dele com isso, tá bom?

 

• Rico adentra a sala, para a surpresa de todos.

 

RICO: Eu tava escutando a conversa e… Desculpa, gente, eu sei que eu tô fora do meu normal, mas logo vou poder contar pra vocês o que tá acontecendo, fazer perguntas sobre isso também… e aí tudo vai fazer sentido.

 

• Eles sorriem para Rico. O homem se senta no sofá e a família o abraça com carinho. Eles seguem vendo televisão juntos quando de repente as luzes se apagam. Um estalo é escutado.

 

KELLY (Assustada): Gente, a luz!

 

CÁTIA: Merda! Será que cortaram de novo? Mas a gente pagou isso não tem nem uma semana.

 

• Antes que alguém consiga reagir, batidas fortes na porta começam a ser ouvidas, como se alguém tentasse arrombar.

 

VOZ: BORA, ABRE ESSA PORRA AQUI!

 

• Todos em desespero. Rico se levanta, vai até a janelinha e vê pessoas encapuzadas tentando arrombar a porta da casa. O homem estremece.

 

RICO (Tenso): Olha, eu preciso que vocês me escutem e que vão direto pro quarto, se esconde todo mundo lá!

 

• Todos com medo, começam a caminhar até o quarto pra se esconder, mas a porta é arrombada durante o trajeto. Todos gritam de pavor. Os encapuzados de preto invadem a casa, apontando armas para todos eles. Um deles segura uma arma, apontando direto para Rico. O coração da família dispara.

 

RICO (Desesperado): O que vocês querem?! QUEM MANDOU VOCÊS AQUI??

 

ENCAPUZADO 1: BORA RAPAZ, VAI CALANDO A BOCA TU E TUA FAMÍLIA AÍ!

 

KELLY (Chorando): Moço, pelo amor de Deus, DEIXA A GENTE EM PAZ!

 

• Rico tenta avançar contra os encapuzados, mas é empurrado para trás por dois deles. Ele tenta lutar de novo, mas três homens seguram seus braços e pernas com uma força brutal. A família grita de desespero e Rico tenta se debater para sair daquela situação, mas é sem sucesso. Com 3 deles imobilizando Rico, os outros começam a amarrar Cátia, Paulão e Kelly com cordas grossas. Os homens soltam Rico, deixando ele ver a família feita de refém.

 

RICO (Em prantos): SOLTEM ELES! EU FAÇO O QUE VOCÊS QUISEREM! MAS PELO AMOR DE DEUS, SÓ SOLTA A MINHA FAMÍL///

 

• A fala de Rico é cortada por um soco que atinge sua costela. Rico cambaleia, sentindo o impacto. Ele tenta reagir, mas é acertado por um soco no rosto, que o faz cair no chão. Os homens começam a espancá-lo com socos e chutes violentíssimos, ao ponto de que a roupa que Rico está usando fique encharcada de sangue. Rico tenta levantar, cambaleando, mas é puxado para baixo repetidas vezes. Dois dos encapuzados seguram ele para que um soque o seu rosto tantas vezes que o desfigura parcialmente.

 

CÁTIA (Chorando/Desesperada): PARA! PARA COM ISSO, PELO AMOR DE DEUS! SOLTA O MEU FILHO!!!

 

• O espancamento continua. Rico grita, mas nunca consegue completar o ato porque os novos gritos são sempre cortados por novos golpes que o atingem. A agressão é tanta que chega ao ponto em que Rico não consegue mais gritar e perde os sentidos no meio do espancamento. Por uma sombra na parede, podemos ver reflexos de tudo aquilo que está acontecendo. A família de Rico assiste, horrorizada, ao espancamento. Finalmente, os homens param por alguns segundos. Rico está no chão, inchado, com hematomas espalhados pelo rosto e corpo, respirando com dificuldade, recobrando lentamente a consciência.

 

RICO (Desorientado/Dolorido): Mau… Mauricéa…

 

• Os encapuzados trocam olhares, depois recuam. Um último chute faz Rico rolar de lado. Eles desaparecem correndo pela porta. O corpo de Rico num estado crítico, fica estendido no chão, rosto ensanguentado e marcas de socos por todo o corpo. À medida que ele recupera os sentidos, podemos notar a fúria em sua expressão, misturada ao medo e à exaustão. Ele tenta se levantar, mas cai novamente, respirando com dificuldade. O chão cheio de sangue e a família tentando se soltar para ajudá-lo. Focamos em close fechado no rosto de Rico.

 

RICO (Fraco/Ódio): Você me paga, Mauricéa Batista… filha da puta.

 

• A raiva ardente nos olhos de Rico.

(FIM DO EPISÓDIO)

10/11/2025

 

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