Filho do Jogo - Episódio 02
“Fúria de Jacaré"
Abertura:
• Close aéreo no acidente. Os carros capotados em locais distantes, mas o carro de Rico numa situação muito pior. Ambulâncias estacionadas pelo local. Enfermeiros correm de um lado para o outro, socorrendo as vítimas. Um grupo de enfermeiros desce o barranco e, com ajuda de uma equipe de guincho, consegue retirar os corpos de Rico e Marcinho do carro, muito feridos e sangrando muito. Estes enfermeiros passam rapidamente levando macas com os corpos de Rico e Marcinho para dentro de uma ambulância. Dentro dela, alguns procedimentos médicos já começam a ser aplicados neles para mantê-los estáveis até a chegada no hospital. O sangue de ambos é expulso do corpo em grandes quantidades, o que faz com que os enfermeiros iniciem medidas imediatas de estancamento. A ambulância parte para o hospital e, mediante a isso, a imprensa começa a tomar conta do local. Carros de jornais de TV chegam a todo vapor e os jornalistas ali presentes tentam obter qualquer informação dos profissionais e transeuntes que se encontram no local.
CENA 02: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior. Noite.)
• Clima tenso no salão. A banda parada, sem tocar nada. As pessoas dançam apenas os sambinhas que tocam nas caixas de som. Roberval conversa com alguns homens da banda.
HOMEM: E aí, cara, o Rico não vai vir mesmo? A gente vai ter que improvisar um samba sem pandeiro aqui!
ROBERVAL: Eu não sei o que aconteceu direito com ele, pessoal. Acho que hoje não vai dar pra ter apresentação da banda!
• Kelly se aproxima da conversa.
KELLY: Tio Roberval, eu tava escutando a conversa de vocês aqui… e, na verdade, o Rico não veio porque ele foi fazer uma corrida pra um bicheiro famoso aqui do Rio. Não entendi muito bem…
• Roberval bate na testa, desapontado com Rico.
ROBERVAL: Ah, mas deixa só ele aparecer aqui de novo que eu vou dar um puxão de orelha nele!
• Kelly ri e vai andando pela festa. Encontra Maria Joana sentada em um banquinho, aparentemente não muito bem. Se aproxima da cunhada, preocupada.
KELLY: Cunha do céu, o que foi que aconteceu, mulher?!
MARIA JOANA (Aflita): Eu comecei a passar mal do nada, Kelly… é que eu tô sentindo uma coisa muito ruim, um pressentimento, sabe? Eu acho que é alguma coisa relacionada ao Rico.
KELLY: Como assim, doida? Ele tá bem! Só não chegou ainda porque foi dar carona pra um homem rico lá.
MARIA JOANA: Eu já sei por que ele tá trabalhando tanto. Ele me contou da situação que vocês tão enfrentando agora… mas você precisava ver como ele falou comigo, Kelly. O Rico tava disposto a fazer qualquer coisa por dinheiro, e eu entendo ele. Mas você conhece o seu irmão, o Rico é impulsivo, ele perde o controle quando o assunto é a família dele. Eu tenho medo do que ele pode fazer de agora em diante.
KELLY: A situação tá realmente apertada, mas a gente tá fazendo o nosso melhor pra mudar isso e eu reconheço também o esforço do meu irmão. Eu sei que ele age na emoção, mas não acredito que ele vai fazer nada de tão ruim, tá? Agora tenta ficar bem e curtir o sambinha. Eu vou pegar uma água com açúcar pra você!
• Kelly se retira. Maria Joana coloca as mãos sobre a cabeça, nervosa.
CENA 03: (Mansão dos Veiga. Sala de Estar. Interior. Noite.)
• Vamos nos aproximando de Mauricéa e Alaor sentados juntos no sofá, assistindo um filme juntos. Mauricéa parece não conseguir se concentrar no filme e olha a todo instante para os arredores da casa, como quem espera muito receber uma notícia.
ALAOR: Está tudo bem, meu amor?
MAURICÉA: Tudo sim, querido… é só que esse filme é meio bizarro, não é?
ALAOR (Rindo): É um terror psicológico. Não é muito diferente do que essa família encara todo dia…
• Mauricéa ri, contida. Numa cena do filme, vemos um personagem erguendo uma arma e pronto para atirar num homem. No mesmo instante em que ouvimos o primeiro disparo, o telefone de Mauricéa começa a tocar. A mulher atende rapidamente, já sabendo a notícia que irá receber.
MULHER (Voz/telefone): Residência da família do senhor Márcio Veiga de Oliveira?
MAURICÉA: Boa noite. Sim, é aqui mesmo.
MULHER (Voz/telefone): Bom, eu preciso que a senhora tenha calma para receber esta notícia. O Márcio sofreu um acidente de carro muito grave e foi imediatamente levado ao hospital municipal Souza Aguiar. Ele chegou aqui com ferimentos graves e perdendo muito sangue. O paciente ainda não está apto a visitas por estar sendo operado neste momento, mas precisamos de um membro da família aqui para que possamos encontrar um possível doador para o senhor Márcio.
• Mauricéa acaba de escutar tudo o que queria ouvir e não consegue conter um sorriso que se abre no canto de sua boca. Esconde-o rapidamente e começa a fingir desespero, chamando a atenção de Alaor.
MAURICÉA (“Desesperada”): COMO ASSIM? O MEU SOBRINHO? O MARCINHO?! Pelo amor de Deus, moça… Tá… eu vou agora!!!
• Mauricéa desliga o telefone, em prantos. Alaor se aproxima, tenso.
ALAOR (Tenso): O que aconteceu, Mauricéa?!
MAURICÉA (Chorando): O Marcinho… ele sofreu um acidente de carro, Alaor! Tá no hospital entre a vida e a morte… A GENTE PRECISA IR PRA LÁ AGORA!!!
ALAOR (Perplexo): Tá bem, eu… vou chamar os motoristas. Fica pronta! Mas como foi isso, do nada um acidente?!
MAURICÉA (Chorando): EU TAMBÉM NÃO SEI! Eu só preciso ver como o meu sobrinho está, Alaor! Faz alguma coisa, pelo amor de Deus!!!
• Alaor se retira, em desespero, indo convocar os motoristas da casa. Mauricéa, agora sozinha na sala, sorri, com sensação de êxito. Respira aliviada pela morte de Marcinho.
MAURICÉA: Menos um… menos um FARDO no meu caminho.
• Ela se aproxima de um retrato de Marcinho na sala.
MAURICÉA: Que o diabo lhe carregue, querido sobrinho.
• Abaixa o retrato com força e se retira correndo, voltando a fingir o seu desespero e entrando rapidamente no carro que lhe espera do lado de fora da mansão.
CENA 04: (Hospital. Corredores/Leito. Interior.)
• Vamos nos aproximando do hospital, e logo podemos ver uma grande movimentação de pessoas e ambulâncias no exterior. Duas ambulâncias paradas na porta de entrada do hospital. Equipes de enfermeiros saem de cada uma delas, retirando as macas de dentro dos veículos. Podemos ver que os corpos apoiados nessas macas são de Marcinho e Rico. Agora no interior do hospital, uma equipe de médicos (entre eles, Ulisses e Rafael) já está posicionada na porta de uma das salas do corredor, esperando as macas com os corpos. Ao longe, veem a movimentação dos enfermeiros trazendo-as.
RAFAEL: Prepara, equipe! Tá chegando!!!
• Ulisses corre para dentro da sala e começa a ligar todos os aparelhos necessários para a operação que vem a seguir.
ULISSES: Preparando os aparelhos!
• Os enfermeiros chegam e posicionam a maca na porta do leito. Eles ajudam a desprender Rico e Marcinho de suas respectivas macas e, rapidamente, os dois são levados para as camas do leito. Desespero geral da equipe. Ulisses prepara os equipamentos de reanimação e entrega para Rafael, que está com a equipe que opera Marcinho. Antes que comece o trabalho, Rafael reconhece o homem e faz uma expressão desgostosa, por se tratar de um dos maiores inimigos de seu pai, Batista Avillar. Desce os aparelhos e descarrega a carga elétrica no peito de Marcinho, tentando reanimá-lo, aniquilando a vontade e a possibilidade que tinha de eliminá-lo naquele momento. Enquanto isso, Ulisses se prepara para começar a operação em Rico. Antes que comece a operá-lo, reconhece o homem da comunidade do Cantagalo.
ULISSES (Desespero): Rico… meu Deus!
• Saber que Rico está à beira da morte dá um gás para que Ulisses possa agilizar e começar a fazer os procedimentos necessários em Rico. A equipe lhe entrega a máquina de reanimação e ele começa a tentar fazer o coração de Rico voltar a bater. A câmera se afasta e temos um foco geral da equipe, tentando salvar a vida de Rico e Marcinho.
CENA 05: (Unidos de Cantagalo. Salão. Interior. Noite.)
• Vamos nos aproximando do salão, que agora já deixou de ter um clima leve e é tomado pelo desespero pelo sumiço de Rico. Maria Joana liga para ele diversas vezes, enquanto a família de Rico tenta entrar em contato com a polícia, mas não consegue informações sobre o rapaz. Maria Joana vem se aproximando de Cátia, Kelly e Paulão. A família em desespero.
MARIA JOANA (Desesperada): Gente, o Rico não me atende de jeito nenhum. Eu sei que ele foi levar esse cliente na saída da cidade, mas essa viagem já tá demorando demais!
CÁTIA (Chorando): Eu já não sei mais o que fazer, querida. A Kelly já falou até com a polícia, e nem eles têm notícia nenhuma do meu filho! Eu tô ficando desesperada.
KELLY: Gente, calma! Na pior das hipóteses, ele deve ter deixado o celular descarregar e a gasolina do carro acabou. Deve ter dado algum perrengue na estrada, coisa assim.
CÁTIA: Deus te ouça, minha filha!
• Maria Brunessa se aproxima, gravando o momento para as suas redes.
MARIA BRUNESSA: Então, gente, quem viu o meu cunhado por aí, por favor entra em contato com a gente. Eu vou deixar a foto dele aqui no canto da tela, ó. Olha só isso, gente, a família dele desesperada!
MARIA JOANA: Garota, para de ser sem noção e DESLIGA ESSE CELULAR!
MARIA BRUNESSA: Eu só tô tentando ajudar, tá, Maria Joana. Você sabe a mobilização que 7 mil pessoas que me seguem podem fazer?!
• Todos ignoram a garota, ela revira os olhos e sai, desapontada. Vamos nos aproximando de uma pequena TV pendurada no barzinho do salão. Poucas pessoas ali na frente, entre elas, Gleici, que assiste atentamente à programação. Um capítulo de “Ô Vida Boa!” sendo exibido, quando, de repente, este é interrompido por um plantão urgente. Gleici se assusta.
GLEICI (Gritando/Desesperada): GENTE, CORRE AQUI QUE DEU PLANTÃO!
• Todos, já assustados com o desaparecimento de Rico, se aproximam da televisão, e o susto é ainda maior quando a primeira imagem que se vê na reportagem do plantão são os rostos de Rico e Marcinho. O acidente que eles sofreram é anunciado pelos repórteres.
CÁTIA (Desesperada): AI, MEU DEUS! É O MEU FILHO!
REPÓRTER (Voz): Atenção. O contraventor Márcio Veiga acaba de sofrer um grave atentado na zona rural do Rio de Janeiro. Tudo indica que foi uma armação de um grupo rival ao seu, mas ainda não há investigação da polícia. O homem ainda estava acompanhado do motorista Ricardo Acaré dos Santos. Os dois foram levados em estado grave para o hospital Silva Aguiar. Em breve, mais informações.
• O plantão sai do ar. Todos estáticos na frente da TV, sem acreditar na notícia. Kelly e Paulão choram em desespero, segurando Cátia, que desaba em prantos no chão. Maria Joana chora abraçada à mãe. De resto, todos os presentes ali em estado de absoluto choque. Close aéreo no salão, agora sem clima nenhum para alegria.
CENA 06: (Hospital. Leito. Interior.)
• Entramos no leito. Ulisses termina de enfaixar um dos machucados de Rico, que agora já se encontra estável, com os batimentos cardíacos funcionando.
ULISSES: Okay, equipe! Foram muito bem. Conseguimos estabilizar o paciente com sucesso. Agora, por favor, vamos prestar socorro ao outro paciente.
• Ulisses se aproxima de Rafael, que desfere as cargas em Marcinho, mas o homem continua com o batimento cardíaco paralisado, porém com o vazamento de sangue já estancado pela equipe.
ULISSES: Como está o paciente, doutor Rafael?
RAFAEL: Ele não tá respondendo às cargas elétricas, Ulisses. Os batimentos não voltam de jeito nenhum e ele perdeu muito sangue. Acho que perdemos o paciente!
ULISSES: Rafael… eu posso tentar encontrar um doador de sangue compatível com ele rapidamente. Quem sabe isso não ajude em alguma coisa?
RAFAEL: Sinceramente, Ulisses? Não tem mais o que fazer!
ULISSES: Mas eu vou tentar salvar o paciente até onde der, Rafael. Com licença.
• Ulisses abre um dos armários do leito e retira uma seringa de lá. Injeta no pulso de Rico e começa a recolher uma amostra de sangue dele.
RAFAEL: O que você tá fazendo, cara?!
ULISSES: O Ricardo já tá estável, tá em condições de doar sangue para o Márcio caso o sangue deles for compatível. Eu só tô tentando salvar a vida do paciente, Rafael. Não questione os métodos.
• Ulisses termina a coleta e se retira da sala rapidamente com a amostra de sangue de Rico, depois de fechar o local de coleta com um curativo. Rafael encara Marcinho na mesa de operação, desgostoso.
CENA 07: (Hospital. Laboratório. Interior.)
• Ulisses adentra o laboratório correndo e chega ofegante ao local. Procura o aparelho para o exame de tipagem sanguínea e começa a configurá-lo. Em seguida, insere nele as amostras sanguíneas de Rico e de Marcinho. O aparelho começa a processar os resultados com rapidez. Na tela de um computador presente no laboratório, o resultado do exame brilha como “COMPATÍVEL”.
ULISSES (Sorrindo): Isso!
• Ele se aproxima de um dos computadores presentes no laboratório e começa a ler rapidamente o resto do exame; no entanto, a sua expressão começa a se enrijecer. Ele se encontra surpreso com um dos resultados presentes no exame.
ULISSES (Lendo): Forte evidência de relação biológica compatível com irmandade entre as partes analisadas, com probabilidade superior a 99,9%… Que porra é essa?!
• Ele anda para trás em passos incertos, o que o faz quase tropeçar; manda os resultados para a impressão e espera a impressora fazer rapidamente o trabalho, pega os exames e se retira da sala rapidamente, assustado com tudo.
• Ao som de violinos elegantes tocando, vamos nos aproximando de um sítio luxuoso. No meio dele, uma enorme mansão. Carros de luxo estacionados no gramado. O lugar com um ar de mistério.
CENA 08: (Cúpula dos bicheiros. Interior. Noite.)
• Reunião da cúpula de bicheiros acontecendo na luxuosa casa, numa área específica para isso. Uma mesa gigante e comprida no centro, posta com bebidas refinadas. O decano comanda a reunião, à frente de todos, apresentando um slide com uma imagem do mapa do Rio de Janeiro e suas demarcações, que o dividem entre as áreas dos bicheiros.
DECANO: E, dito isso, ao Márcio Veiga, estão dispostas as áreas do Cantagalo, Borel e Vila Cambucá. De acordo, senhor Márcio Veiga?
• Ele olha ao redor e vê que Marcinho não se faz presente.
DECANO: Algum dos senhores sabe onde se encontra o Marcinho?
• Os contraventores começam a se olhar, confusos e buscando respostas. Batista entre eles. Por baixo da mesa, o homem telefona discretamente para Mauricéa.
CENA 09: (Carro de Mauricéa. Interior.)
• Close aéreo numa avenida movimentada, carros andando em alta velocidade a todo momento. Vamos nos aproximando do carro de luxo da família Veiga, que anda em altíssima velocidade. No interior dele, o motorista dirige o veículo enquanto Mauricéa e Alaor estão sentados nos bancos de trás, desesperados. A megera fingindo estar desesperada.
MAURICÉA (Em prantos): Anda logo, motorista! Pelo amor de Deus, eu preciso saber como tá o meu Marcinho!
ALAOR (Perplexo): Mauricéa, eu preciso que você mantenha a calma, meu amor. Se chegarmos nesse hospital agora ou amanhã, não vai mudar em nada a operação que está sendo realizada no Marcinho.
MAURICÉA: Mas você não entende, Alaor. É uma necessidade minha, eu considero e amo ele como o meu filho!
ALAOR: E eu também, querida! Mas eu preciso agora, mais do que nunca, que você mantenha a calma. Você sabe que ele não gostaria de te ver em desespero assim…
• Mauricéa manda bem na atuação e desaba em choro no ombro de Alaor. O celular dela começa a tocar no bolso.
ALAOR: Quem pode ser a essa hora?
MAURICÉA (Tensa): Eu… também não sei.
• Ela tira o celular do bolso discretamente, e o nome de Batista brilha na tela.
ALAOR: O Batista Avillar?! Você tem o número dele?
MAURICÉA: Não! Esse desgraçado deve ter pego o meu número com alguém… Foi ele, Alaor. Foi ele que organizou esse acidente do Marcinho!
• Eles se encaram, Alaor em choque e Mauricéa “abalada”.
ALAOR (Furioso): DESGRAÇADO!
MAURICÉA (Chorando): Calma, a gente vai se vingar dele, meu amor! Isso não vai ficar assim!
• O carro segue o caminho. Instrumental tenso. Close aéreo novamente na avenida, agora seguindo o percurso rápido do carro.
• Agora, vamos sobrevoando o grande hospital Silva Aguiar. Diversos carros de jornais estacionados na porta, querendo obter informações.
CENA 10: (Leito. Interior.)
• Adentramos o leito. As reanimações seguem sendo feitas em Marcinho, mas sem sucesso. A porta do leito se abre de forma brusca: é Ulisses que chega, um pouco tenso.
ULISSES (Tenso): São compatíveis. O sangue do Márcio é O negativo, e o do Ricardo também.
RAFAEL (Intrigado): Que estranho… esse sangue é tão raro, não?
ULISSES: Pois é. E como está a situação do Márcio? Podemos fazer a transfusão?
RAFAEL: Ainda não dá. O coração não tá funcionando pra bombear esse sangue, Ulisses.
ULISSES: Merda… eu demorei demais?
RAFAEL: Não, cara. Esse homem já chegou aqui com o coração inerte, ele bateu a cabeça também… eu acho que foi algo cerebral. Não tem mais o que fazer. Nós perdemos o Márcio.
• A equipe toda desapontada com a perda do paciente. Ulisses observa tudo, abalado, agora sabendo que Rico e Marcinho eram irmãos. Em câmera lenta, vemos a equipe desligando os aparelhos de Marcinho e preparando Ulisses para dar a notícia à família do paciente. Os tubos são desconectados de Marcinho, revelando que os ferimentos do acidente foram piores do que pensavam os médicos. Os curativos seguem no rapaz, que agora tem em torno de 50% do corpo enfaixado, numa situação quase perturbadora. Foco aéreo em Marcinho morto e em Rico vivo e estável na cama ao lado.
CENA 11: (Hospital. Corredores. Interior.)
• Pessoas se movimentam, andando pra lá e pra cá num fluxo contínuo que lota o corredor do hospital. No entanto, duas pessoas vêm adentrando o local andando num fluxo contrário, tentando encontrar a sala em que Marcinho está. São Mauricéa e Alaor, que adentram o local desesperados. Mauricéa fingindo. Eles conseguem ultrapassar as pessoas no corredor e encontram a sala de operação. Ulisses, por coincidência, já vinha de encontro a eles.
ULISSES (Triste): Senhora Mauricéa Veiga?
MAURICÉA (Chorando): Sou eu! Como tá o Marcinho?! Cadê o meu sobrinho, doutor?!
ULISSES: Eu sinto muito em informar, senhora, mas… nós perdemos o Marcinho.
• Tudo fica em câmera lenta e focamos em close fechado no rosto de Mauricéa. Ela quer muito sorrir, comemorar, gargalhar. Quer estourar um champanhe no meio do hospital e gritar para todos os cantos que agora é a poderosa chefona da família Veiga de Oliveira. Mas se contém, porque sabe o que tem que fazer. As lágrimas vêm aos olhos dela, que finge estar em choque. A sua primeira reação é abraçar Alaor com força, chorando muito. O homem também muito abalado.
MAURICÉA (Em prantos): NÃO! NÃO, POR FAVOR! O MARCINHO NÃO!
ALAOR (Chorando): Calma, Mauricéa, por favor…
MAURICÉA: EU NÃO QUERO FICAR CALMA, ALAOR! NÃO QUERO! O Marcinho é como… o meu filho! Eu não acredito que ele morreu assim, dessa forma! ELE ERA UM MENINO JOVEM!!! E ESSA EQUIPE DE MÉDICOS INCOMPETENTES DEVERIA TER SALVADO ELE!
• Em sua performance quase teatral, ela começa a bater desesperadamente em Ulisses, mas é contida pelo doutor e por Alaor. Desaba em choro.
ULISSES: Mauricéa, eu sei que esse não é o momento certo pra isso, mas eu preciso que você mantenha a calma e me acompanhe. Tem um agravante no caso do Marcinho do qual você precisa ser alertada.
CENA 12: (Hospital. Leito. Interior.)
• Ulisses e Mauricéa no leito, em frente a Rico, emparelhado e inerte.
ULISSES: Eu não estaria tendo essa conversa com você a menos que o motivo fosse muito sério, Mauricéa.
MAURICÉA: Nada pode ser pior que a morte do meu sobrinho, doutor. Fala logo o que tá acontecendo, pelo amor de Deus!
ULISSES: Esse rapaz é o motorista que estava com o Márcio na hora do acidente. O caso dele foi muito menos grave do que o do seu sobrinho, algo que foi realmente um milagre, visto que o acidente foi horrível. Bom, eu quis fazer um teste de tipagem sanguínea entre eles para conseguir tirar o tipo sanguíneo do seu sobrinho, só para ver se, com uma doação de sangue, não seria possível salvá-lo. E não foi possível, infelizmente. Mas o que me surpreendeu, dona Mauricéa, foi o resultado do exame.
MAURICÉA (Tensa): Como assim? O que aconteceu?
ULISSES: O Márcio tem muitos genes biológicos em comum com esse rapaz, Mauricéa. É assustador porque parece algo do destino, mas no exame consta que eles pertencem à mesma linhagem sanguínea, à mesma família… mais especificamente, o Márcio e o Ricardo são irmãos.
• Tudo para em volta e focamos na expressão de Mauricéa, em baque com a notícia. Alguns flashes vêm à sua cabeça. Vemos takes rápidos de Mauricéa e Batista, ainda jovens, transando. Takes de Mauricéa jovem descobrindo a sua gravidez. Takes de Mauricéa entregando um bebê nas mãos de uma mulher. Ela começa a tremer, em pânico. Se apoia numa mesa próxima, derrubando tudo. Ela pálida, desesperada.
ULISSES: Mauricéa, você está bem? O que está acontecendo?!
MAURICÉA (Faltando ar): N… não! Não!
• Ulisses entra em desespero e começa a olhar tudo ao redor.
ULISSES (Desesperado): Por favor, Mauricéa, tenta manter a calma agora. Eu vou buscar uma água pra você!
• Ulisses corre para fora do leito, desesperado. Agora, Mauricéa encara Rico, em extremo pânico.
MAURICÉA: Não… você não! NÃO! (Em prantos): Como isso foi acontecer, meu Deus? Como você foi cruzar justo o caminho do Márcio? INFERNO!
• Em um ato de impulso, a mulher avança rapidamente sobre Rico. Começa a puxar descontroladamente todos os fios conectados ao rapaz, ferindo-o. Joga os aparelhos no chão, tentando tirar qualquer chance de sobrevivência para o rapaz. Chora sinceramente enquanto faz isso. Depois, encara o caos que causou no leito, sentindo culpa pelo que fez e, ao mesmo tempo, esperança de que Rico esteja morto agora. Os aparelhos fazem “bips” infernais, entregando que há algo de errado com Rico. Em desespero, Mauricéa sai do leito apressadamente. Rico convulsiona e se debate na cama, sem os devidos aparelhos conectados a si.
CENA 13: (Hospital. Corredores. Interior.)
• Alaor, ao telefone, fala com a funerária, já organizando o velório de Marcinho, muito abalado. É tomado por um susto quando Mauricéa sai bruscamente do leito e vem de encontro a ele no corredor, chorando muito.
MAURICÉA (Chorando/Em pânico): Me tira daqui, Alaor! Eu não tenho mais nada pra fazer nesse lugar!!!
ALAOR: Mauricéa, mas nós precisamos esperar o/
MAURICÉA: ME TIRA DAQUI AGORA!!! EU NÃO QUERO FICAR AQUI! EU QUERO SAIR DESSE LUGAR!
• Alaor abraça Mauricéa e eles vão saindo do hospital. No exterior, um carro de funerária já coloca o corpo de Marcinho para dentro. A câmera pega o corredor do hospital de outro ponto, acompanhando agora o trajeto de Ulisses, que vem com um copo de água para Mauricéa em mãos. Ao se aproximar do leito, nota alguns barulhos estranhos. Deixa o copo cair no chão e corre desesperadamente para dentro.
CENA 14: (Hospital. Leito. Interior.)
• Ulisses adentra o leito e encontra uma cena catastrófica: Rico está se debatendo desesperadamente por não conseguir respirar, com cortes por todo o corpo por ter os aparelhos arrancados de si brutalmente. Uma de suas veias expulsa o sangue violentamente em jato.
ULISSES (Desesperado): RICO, PELO AMOR DE DEUS!
• Ulisses corre para perto de Rico e começa a reconectar os aparelhos nele, desesperadamente. Estanca o sangue que é expulso do corpo e põe de volta nele a máscara de ar. Rico estabiliza, e os batimentos cardíacos voltam a funcionar, o que faz Ulisses respirar aliviado. No entanto, algo surpreendente acontece e os batimentos começam a disparar. Rico começa a apresentar reações estranhas na maca, se movendo muito, como se tentasse escapar de algo. Ulisses observa aquilo, preocupado, e já começa a procurar alguma ampola de calmante pela sala, quando, de repente, Rico para e volta ao normal por um instante. Ulisses se aproxima dele, inseguro, checando-o.
ULISSES: Rico?… Você tá me escutando?
• Num momento inesperado, os batimentos de Rico voltam a disparar. Ulisses se afasta, assustado. Surpreendentemente, Rico desperta de uma vez. Ofegante, assustado. Ulisses se aproxima dele novamente, agora surpreso.
RICO (Assustado/Ofegante): O QUE É ISSO, ONDE É QUE EU TÔ? …Ulisses? Eu… tô no hospital?
ULISSES (Assustado): Rico! Meu Deus, cara! Você acordou!
RICO: Sim. Mas, Ulisses, me fala… o que é que eu tô fazendo aqui?!
ULISSES: Você sofreu um acidente de carro, cara. É um milagre que você esteja vivo agora!
RICO: Eu lembro disso… eu tava com aquele bicheiro, o Marcinho Veiga! Como ele tá?
ULISSES: Morto. Ele não resistiu, Rico.
RICO: Puta que pariu… e eu… tenho alguma culpa?
ULISSES: Não, relaxa. O acidente aconteceu porque organizaram um atentado contra o Marcinho.
RICO: Entendi…
ULISSES: Olha, Rico, aconteceu uma situação inesperada também… e eu nem sei se eu deveria te falar isso agora, mas acontece que é algo bem grave.
RICO: O que aconteceu, Ulisses? Pode falar, eu tô bem! Só com umas dores…
ULISSES: Tudo bem. Então, Rico… você foi quem saiu com menos sequelas do acidente. Não perdeu muito sangue, não se feriu tanto quanto era pra ter se ferido e logo sobreviveu. Mas o Marcinho não. Ele foi profundamente afetado por esse acidente e perdeu muito sangue. Rico, eu tirei uma amostra do seu sangue pra conseguir tirar a tipagem sanguínea de vocês e também pra ver quem poderia ser compatível com o Márcio. No entanto, os resultados me surpreenderam bastante…
RICO: E esses resultados apontaram o quê?
ULISSES: Os resultados apontam que você e o Márcio Veiga são irmãos de sangue, Rico.
• Rico se impulsiona para frente e arregala os olhos, assustado.
ULISSES: Calma, não faz muito movimento, Rico!
RICO: Como isso pode ser possível, Ulisses? Eu, irmão do Marcinho?!
ULISSES: Pois é, acredite.
RICO: Então, se ele morreu… isso significa que eu sou herdeiro da herança dos bicheiros da família dele?!
ULISSES: Legalmente, sim, Rico. Mas você tem que entender que esse caminho do jogo do bicho é muito perigoso. A tia do Márcio tentou te matar quando soube que você era irmão dele, cara.
RICO: O quê?!
ULISSES: Pois é, Rico. Ela desconectou os seus aparelhos pra tentar te matar. É o seguinte, Rico…
• Ulisses vai até uma cômoda e pega alguns documentos.
ULISSES: Esses são os documentos que comprovam o seu parentesco com a família Veiga de Oliveira. Eu vou deixar eles nesta bancada e, se você quiser correr atrás disso legalmente, eles vão estar aqui à sua disposição, tá bem?
• Rico, muito atordoado com tudo aquilo, só afirma com a cabeça. Fica pensativo.
RICO: Ulisses, só mais uma pergunt///
• A fala de Rico é cortada por uma grande movimentação de pessoas no corredor; estas vêm entrando aos poucos no leito.
CÁTIA (Voz): Ricardo, meu filho!
• É revelada toda a família de Rico (Cátia, Paulão e Kelly) e toda a família de Maria Joana (Ela, Maria Brunessa, Luciane e Roberval) adentrando a sala.
ULISSES: Calma, família, por favor! O Ricardo não pode receber visitas ainda!
• As famílias voam em cima de Ricardo para saber como ele está. O homem só força um sorriso.
RICO: Eu tô bem, gente. Só um pouco dolorido ainda…
MARIA JOANA: Meu amor, eu fiquei tão nervosa!
KELLY: Que bom que você tá bem, meu irmão!
• Ulisses afasta todos eles de perto de Rico.
ULISSES: Eu preciso que fique aqui apenas um de vocês, pra passar a noite com o Rico, se quiserem.
CÁTIA: Eu vou, é o meu filho!
ULISSES: Então apenas a dona Cátia fica. Vou pedir que o resto se retire, por favor.
• Contra a sua vontade, as duas famílias saem, reclamando.
ULISSES: Eu vou buscar a sua janta, Rico. O cardápio hoje é um soro porque você ainda não pode ingerir alimentos sólidos, mas logo logo isso muda! Já volto.
• Ulisses se retira. Cátia se aproxima de Rico e faz um carinho no rosto do filho, preocupada. Rico olha para a mãe, tentando disfarçar o estranhamento de agora saber que tem outra família. Rico sempre soube que é adotado, mas nunca soube nada de sua outra família. Ele desvia o olhar, pensativo. A câmera vai se afastando deles.
• Amanhece. Vemos takes da lua saindo e o sol entrando em cena e voltamos a focar no hospital.
CENA 15: (Hospital. Leito. Interior. Dia.)
• Nos aproximamos do leito. Cátia cochilando na cadeira, depois da longa noite acordada. E Rico acordado, olhando para o teto, pensativo. Uma sequência de cenas vem à sua cabeça.
SEQUÊNCIA DE FLASHBACKS - ON
• Rico tentando a todo custo desviar dos tiros dos outros carros, fazendo manobras arriscadas com o seu carro. Os tiros quebram o vidro traseiro e as balas começam a adentrar com mais velocidade. Rico é atingido no ombro por um tiro e acaba perdendo o controle do carro, colocando a mão em cima do local e tentando estancar o sangue que jorra compulsivamente dali.
MARCINHO: CARA, AGUENTA AÍ E COLOCA AS MÃOS NESSE VOLANTE, POR FAVOR!
• Rico começa a perder a consciência, deixando o carro andar por si só, desgovernado. Um dos carros consegue cercar o carro de Rico, se colocando na frente e apontando a arma.
MARCINHO (Furioso/Chorando): BATISTA AVILLAR FILHO DA PUT///
• Neste momento, Rico desmaia de vez e acaba batendo a cabeça no volante, o que faz com que o carro perca a noção de direção e bata violentamente no carro à frente. O resultado é uma grande catástrofe; a colisão dos carros faz com que um deles seja arremessado para longe e o outro carro, o de Rico, é jogado violentamente para fora da estrada, derrapando numa barranca e capotando diversas vezes.
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ULISSES: Os resultados apontam que você e o Márcio Veiga são irmãos de sangue, Rico.
Rico se impulsiona para frente e arregala os olhos, assustado.
ULISSES: Calma, não faz muito movimento, Rico!
RICO: Como isso pode ser possível, Ulisses? Eu, irmão do Marcinho?!
ULISSES: Pois é, acredite.
RICO: Então, se ele morreu… isso significa que eu sou herdeiro da herança dos bicheiros da família dele?!
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ULISSES: Você tem que entender que esse caminho do jogo do bicho é muito perigoso. A tia do Márcio tentou te matar quando soube que você era irmão dele, cara.
RICO: O quê?!
ULISSES: Pois é, Rico. Ela desconectou os seus aparelhos pra tentar te matar. É o seguinte, Rico…
• Ulisses vai até uma cômoda e pega alguns documentos.
ULISSES: Esses são os documentos que comprovam o seu parentesco com a família Veiga de Oliveira. Eu vou deixar eles nesta bancada e, se você quiser correr atrás disso legalmente, eles vão estar aqui à sua disposição, tá bem?
• Rico, muito atordoado com tudo aquilo, só afirma com a cabeça. Fica pensativo.
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• Ele bate a cabeça no volante compulsivamente e depois para, chorando ainda mais.
RICO (Em prantos): Eu só preciso de um milagre, qualquer coisa que mude a minha situação, não importa o que seja, não importa como seja…
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RICO: Eu não quero ser ajudado, Jô. Eu quero levar uma vida melhor com segurança de que sempre vai ter sustento, sempre vai ter comida, que nunca vai faltar nada. (Chorando): Eu só quero isso, e eu preciso de uma virada, de alguma coisa que me faça subir na vida. Eu não me importo com o que seja nem como seja, sério mesmo, eu só preciso sair do buraco onde eu tô!
• Maria Joana abraça Rico apertado e limpa as lágrimas dele.
MARIA JOANA: Rico, olha pra mim. Você vai ter sim a sua virada! E vai dar tudo certo, meu amor, porque o que é pra ser seu, JÁ É seu! O teu momento vai chegar e não vai demorar. Nossa Senhora tá passando na frente de tudo!
SEQUÊNCIA DE FLASHBACKS - OFF
• Rico agora determinado, depois de revisitar toda a sua trajetória. Encara os documentos deixados por Ulisses na bancada ao lado.
RICO (Decidido): Eu não posso deixar esse milagre escapar pelas minhas mãos… chegou a minha hora. E eu vou atrás do que é meu.
• Em um ato de coragem, ele se levanta e começa a desconectar todos os aparelhos de si. Se levanta com a roupa do hospital mesmo e toma cuidado para não acordar Cátia. Com dificuldade, vai andando até a bancada e pega os documentos. Esconde debaixo dos braços.
CENA 16: (Hospital. Interior. Dia.)
• Takes de Rico entrando no almoxarifado do hospital e já conseguindo sair de lá sem visto. Rico sai do almoxarifado do hospital com o coração acelerado, mas sem olhar pra trás. Vemos que ele conseguiu algumas roupas simples ali dentro, o suficiente pra não chamar atenção de ninguém. Também pegou uma muleta e se apoia nela com dificuldade. Cada passo dói porque o corpo ainda não está pronto. A cada passo que dá pelos corredores, ele sente o medo crescendo. Mas, mesmo assim, continua. Ele sai mancando, com a ajuda de uma muleta que também conseguiu pelo caminho, desrespeitando todas as ordens médicas indicadas para o seu caso, pois ainda está deveras lesionado. Ele passa pelos corredores com dificuldade para não ser reconhecido por ninguém da equipe médica. Com esperança, vai se aproximando da porta de saída e, em câmera lenta, conseguimos vê-lo saindo com sucesso do hospital, pronto para ir atrás da sua nova vida. Ele sente a brisa da rua e também se sente livre. Tudo o que ele sabe da sua vida agora está ficando pra trás, porque o futuro é o que será construído agora.
• Aos poucos, vamos nos aproximando de uma cerimônia fúnebre num cemitério muito bem organizado. Diversas pessoas reunidas no local, bem como a imprensa.
CENA 17: (Cemitério. Interior. Dia.)
• Clima triste no enterro de Marcinho. Mauricéa e Alaor ocupam os primeiros lugares da despedida. A imprensa repetidamente bate cliques dos dois chorando a morte do querido sobrinho. Um repórter se aproxima dos dois.
REPÓRTER: Dona Mauricéa, a senhora pode nos conceder uma entrevista? O que tem a dizer sobre a perda de um ente tão jovem?!
• Mauricéa não consegue responder, fazendo o seu teatro de titia devastada. Alaor a acolhe em seus braços e faz sinal para que o repórter se retire. O enterro a caixão fechado impede que eles vejam o estado em que o corpo do rapaz se encontra. Flores são jogadas sobre o caixão. Todos numa grande comoção pela perda do contraventor. Mauricéa, por mais que esteja feliz com a morte de Marcinho, ainda guarda em si uma tensão voraz por saber que Rico está mais perto do que nunca da sua família, e talvez dela…
RICO (Voz): NINGUÉM ENTERRA ESSE HOMEM AINDA, QUE EU QUERO ME DESPEDIR DO MEU IRMÃO!
• Todos ali escutam a voz ao longe e se demonstram confusos com o escândalo dado por Rico. Mauricéa não acredita no que está acontecendo e a tensão aumenta em seu corpo, de modo que a mulher fica paralisada. Rico se aproxima de todos, ficando à frente da multidão, que o encara. Ele anda com ajuda das muletas e está muito machucado, mas, mesmo assim, faz um esforço para erguer os documentos em sua mão.
RICO: EU SOU MAIS UM DOS VEIGA DE OLIVEIRA! ESSES DOCUMENTOS AQUI COMPROVAM QUE O MARCINHO VEIGA É O MEU IRMÃO! E EU VIM ATÉ AQUI PRA TOMAR POSSE DOS MEUS DIREITOS QUANTO MEMBRO DESTA FAMÍLIA!!!
• Baque fortíssimo. Mauricéa se escora em Alaor para não cair. Todos os presentes, chocados, alternam os olhares para Rico e depois para Mauricéa e Alaor. Foco em Rico, corajoso para enfrentar tudo o que vem pela frente. A determinação é iminente em sua face.
(FIM DO EPISÓDIO)
10/11/2025
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