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Geração: O Mundo é Nosso - Capítulo 03


Web Novela
Autor: Eduardo Lovardes

 

Abertura:

Cena 01: (Rodoviária / Interna / Noite)

TÚLIO – Acho que é um adeus, né? Não esquece, qualquer coisa que você precisar pode contar comigo.

 

JAQUE – Obrigada, meu amigo, por tudo.

 

Os dois se despedem com um abraço. Depois, ela entra no ônibus e, da janela, acena para o amigo.

 

JAQUE (SUSPIRANDO) – São Paulo, aí vou eu.

 

A câmera mostra o rosto sério de Jaque.

 

Cena 02: (Apartamento de Rafael e César / Sala de jantar)

César está jantando quando sente a falta do filho Rafael.

 

CÉSAR – Bete, sabe aonde o Rafael se meteu?

 

BETE – Ele disse que sairia com alguns amigos. Ele havia avisado o senhor.

 

CÉSAR (SÉRIO) – Sim, mas já está ficando tarde. Ele poderia ter me ligado, sei lá...

 

Nesse instante, ouve-se um barulho muito alto. César se dirige até a janela, onde avista Rafa aparentemente bêbado, junto com alguns amigos.

 

CÉSAR – O que esse moleque pensa que tá fazendo?

 

RAFAEL (GRITANDO) – Relaxa, pai. Preparei um som maneiro pro senhor.

 

CÉSAR (SÉRIO) – Não quero saber disso. Suba imediatamente, antes que os vizinhos chamem a polícia.

 

Rafael dá de ombros, liga a guitarra e começa a tocar "Highway to Hell – AC/DC". Os vizinhos saem de suas janelas e começam a reclamar.

 

Cena 03: (Apartamento de Ana / Sala)

Todos continuam dançando. Nat começa a dançar funk, chamando a atenção dos outros garotos.

 

ANA (ENFURECIDA) – Essa garota é uma cobra! Não sei como teve coragem de aparecer.

 

KA – Amiga, calma. Não estrague sua festa por causa dela.

 

ANA – Claro que não. Não daria esse gostinho.

 

Nat se aproxima das duas.

 

NAT – A festa tá boa, né, Ana?

 

ANA – Tá sim. Pena que tem certas pessoas que estão poluindo o ar.

 

NAT – Relaxa, que a festa só tá esquentando.

 

ANA – Tá falando do quê?

 

Ela não diz nada. Nat chega em Bernardo e lhe dá um beijo, deixando Ana e Ka boquiabertas. Ela vai em direção à porta de saída.

 

NAT (SORRIDENTE) – Prontinho, acabei com a festinha da Ana.

 

Cena 04: (Apartamento de Ana / Lado de fora)

Ana sai apressada. Bernardo a segue.

 

BERNARDO – Ana, volta aqui. Foi aquela maluca que me beijou. Nem sei por que do ciúme, você mesma disse que nós terminamos.

 

ANA – Não precisava daquela cena lá dentro. Fez eu pagar o maior papelão. Mas isso vai ter volta.

 

Sem pensar duas vezes, Ana beija Bruno, que passava pela rua no momento da discussão. Depois disso, eles ficam se olhando.

 

BRUNO (CONFUSO) – Garota... Você é louca?

 

ANA – Desculpa, não queria ter feito isso.

 

BERNARDO – Que isso, rapá? Tá beijando minha namorada?

 

Bernardo vai pra cima de Bruno, mas são impedidos por Ana de brigarem.

 

Cena 05: (Apartamento de Rafael e César / Sala de estar)

Rafael entra bêbado, sendo guiado por César.

 

CÉSAR – Viu o vexame que me fez passar diante dos vizinhos?

 

RAFAEL (BÊBADO) – Aí, pai... Relaxa... tá bom.

 

CÉSAR – Você precisa de um banho urgentemente. Esse bafo de cerveja tá insuportável. E amanhã vamos ter uma conversa bem séria.

 

Cena 06: (Casa de Gabi e Marlene / Quarto)

MARLENE – Boa noite, filha. Até amanhã.

 

GABI – Mãe, antes queria conversar com a senhora sobre um assunto... Na verdade, dois.

 

Marlene se senta na cama da filha.

 

MARLENE – Diga então, filha.

 

GABI – Aconteceu hoje de novo. As meninas do colégio fizeram bullying comigo.

 

MARLENE (SÉRIA) – Não tô acreditando. Amanhã mesmo converso com a diretora.

 

GABI – Não precisa, mãe. Sei me defender sozinha. O que mais me dói é saber que jovens negros, gordos ou gays também sofrem com isso, mas não têm voz ativa.

 

MARLENE – É triste isso... Quando será que as pessoas vão aprender a conviver com as diferenças? Mas qual era o outro assunto?

 

GABI – Eu consegui um emprego numa loja do centro.

 

MARLENE – Já disse que não precisa. Eu posso sustentar a casa sozinha. Não quero você largando os estudos.

 

GABI – Não vou largar os estudos. Apenas quero ajudar. Sei que não é fácil.

 

MARLENE – Obrigada, Gabi, de coração.

 

As duas se abraçam.

 

Amanhece em São Paulo ao som de “Lost Kitten – Metric”

 

Cena 07: (Balada / Interna / Dia seguinte)

Fabinho continua dançando, completamente alcoolizado.

 

CÁSSIO – Vamos, Fabinho. Já são seis da manhã, precisamos ir embora.

 

FABINHO – Me deixa, Cássio. Deixa de ser jeca, aproveita a balada!

 

CÁSSIO – Mano, o estabelecimento já vai fechar. Quer saber? Fica aí, seu maluco.

 

Nanda chega em Fabinho e o leva embora.

 

NANDA – Vamos, já tá tarde. Temos escola daqui a pouco.

 

FABINHO – Qual é, Nanda. Para de ser chata.

 

Cena 08: (Casa de Gabi e Marlene / Sala)

Gabi arruma sua mochila pro colégio.

 

MARLENE – Já vai, filha? Tão cedo?

 

GABI – Vou dar uma passadinha antes no meu novo emprego. De lá sigo pro colégio. Beijo, até mais tarde.

 

MARLENE – Tchau. Vai com Deus.

 

Cena 09: (Apartamento de Ana / Quarto)

Andréa e Roger estão tomando café.

 

ANA – Bom dia, gente.

 

ANDRÉA – Vamos ter que conversar seriamente sobre o Bernardo.

 

ANA (ENTEDIADA) – De novo esse assunto? Já disse que não gosto dele. É tão difícil de entender?

 

ROGER – Ele ligou dizendo que vai fazer intercâmbio pra fora do país. E disse ainda que a senhorita beijou um estranho na rua.

 

ANA – Ele não tinha esse direito.

 

ANDRÉA – Só queremos o seu bem.

 

ANA – Que bem é esse? Que me impedem de fazer minhas coisas, de escolher o que eu quero? Cansei de vocês controlarem minha vida!

 

Ana sai furiosa, batendo a porta com força.

 

Cena 10: (Rua / Calçada / Externa)

A câmera foca em Bruno dormindo na rua. Ele acorda.

 

BRUNO (SONOLENTO) – Agora preciso arranjar um lugar pra ficar.

 

Ele ajunta suas coisas e vai embora.

 

Cena 11: (Avenida Paulista / Externa)

O trânsito está parado. Enquanto os carros buzinam, as pessoas atravessam a rua.

 

FABINHO – Aff, o trânsito de São Paulo tá cada vez pior. Esse troço nem anda!

 

NANDA – Calma, Fábio. Por que você tá tão chato?

 

CÁSSIO – Sabe por que, Nanda? É que o paizinho do Fabinho está voltando pro Brasil. E é claro que eles voltam a ser uma bela família.

 

FABINHO – Pra mim já chega! Para esse carro agora.

 

CÁSSIO – Fabinho, a gente tá no meio do trânsito! Todo mundo queria ter a oportunidade que você tem de andar numa Mercedes.

 

FABINHO – Dane-se pra isso. Enfia essa Mercedes na tua goela!

 

CÁSSIO – Fabinho, volta aqui! Era brincadeira!

 

Fabinho sai do carro em meio ao trânsito parado. Cássio continua o chamando, porém ele segue andando.

 

Cena 12: (Avenida Paulista / Ônibus / Interna)

Bruno sobe no ônibus, onde estão Gabi e Rafael.

 

RAFAEL – Hein, garota. Sabe o porquê de o trânsito estar parado?

 

Gabi não responde.

 

RAFAEL – Valeu. Obrigado pela educação.

 

A câmera foca do lado de fora, mostrando os veículos. Nesse instante começa um arrastão. Várias pessoas entram em confronto com a polícia. Alguns manifestantes invadem o ônibus e começam a saquear.

 

BRUNO – Rápido! Corre, garota!

 

GABI – Tá louco, menino? A gente pode morrer!

 

BRUNO – Se ficarmos aqui, aí que vamos morrer. Vem comigo.

 

RAFAEL – Conheço um lugar onde a gente pode ficar seguro.

 

Os três seguem até um galpão. De outro ângulo, Fabinho ajuda Ana, que está perdida no meio da multidão.

 

ANA (NERVOSA) – Socorro... alguém me ajuda!

 

FABINHO – Vem comigo, rápido!

 

Jaque chega à cidade, assustada. Ela foge do ônibus. Em meio à correria, ela acaba se esbarrando em uma pessoa, caindo no chão.

 

JAQUE (COM DOR) – Ai... minha barriga... meu filho... socorro...

 

Ela se levanta e continua caminhando, manquejando. A cena corta pra dentro do galpão, onde os seis personagens se encontram.

 

Eles se entreolham. A tela se divide em seis partes, focando nos seis protagonistas.

 

A imagem congela neles, e linhas coloridas atravessam a tela.

Créditos:

25/03/2020

 

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