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● Carolina Maria de Jesus 

 

《 Infância 

 

Nascida em Minas Gerais, filha de pais analfabetos, desde cedo se interessou pela literatura, apaixonada pela escrita foi uma criança brilhante, sua genialidade a fez ser considerada uma Bruxa, já que garotas naquela época não eram vistas com tanta inteligência e senso crítico como Carolina Maria de Jesus era, rapidamente se mudou para São Paulo e a partir daí nascia uma nova vida. 

 

《 Vida em São Paulo 

 

Carolina viveu em uma época em que São Paulo crescia rapidamente, junto a isso o processo de Favelização, viveu na favela do Canindé a maior do estado, junto ao seus filhos morou em um pequeno barraco, vivendo como catadora de lixo, percorria toda a cidade de São Paulo, e foi através do seu trabalho que Carolina juntou diversos papéis e cadernos que achava no lixo e que usava para suas escritas, originando uma das maiores autoras negras do nosso país. 

 

《 O poder da escrita 

 

Utilizando de cadernos velhos e de canetas usadas, Carolina escrevia da maneira mais profunda possível a sua vivência diária, as dores que tinha com a miséria e acima de tudo, criticava o silêncio da cidade em relação aos moradores da favela, mesmo pouco alfabetizada, Carolina tinha uma visão crítica a respeito do mundo e principalmente sobre a cidade de São Paulo que sempre que possível escondia as dores de um povo que não tinha direitos básicos, viviam da injustiça e que constantemente foram silenciados. Carolina escrevia a um grito, um grito social, "O quarto de despejo" foi até então um soco na sociedade da época, o mundo todo abria os olhos para a triste e real história de Carolina Maria de Jesus uma vítima da sociedade e que agora tinha sobre suas mãos o dom da escrita, que revelava em suas palavras a realidade da forma nua e crua, sem nuances apenas verdades. 

 

《 Carolina, você é luta! 

 

O quarto de despejo, foi traduzida para mais de 25 países, mostrando a miséria do Brasil e os impactos sociais da época, Carolina se mudou da favela e construiu um vida digna para os seus filhos, "A poetisa Negra" como era chamada foi honrada como uma das maiores escritoras do país, publicando livros como "Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada” (1961) “Pedaços da Fome” (1963) e “Provérbios” (1965). Carolina foi símbolo para diversos movimentos negros, femininos e de visibilidade de diversas favelas não só do Brasil mas de diversos lugares do mundo, o impacto gerado pela escritora fez ela se eternizar como um dos pilares negros do nosso país. Crítica, direta e revolucionária assim era Carolina Maria de Jesus, referência significativa para um povo que até hoje permanece silenciado. 

 

《 Não é o fim, é apenas uma injustiça… 

 

Todavia, por mais que Carolina teve suas palavras transformadas em um best seller, ao longo do tempo ela foi esquecida pelo mercado editorial Brasileiro, suas palavras infelizmente perderam pouco a pouco a visibilidade, a brilhante autora nos deixava no ano de 1977, muitos consideravam uma autora esquecida, comentários esses enganosos, o legado de Carolina Maria de Jesus a fazia ser uma das maiores autoras negras desse país e suas palavras ecoam até os dias atuais na nossa sociedade, fazendo jus ao quão grandiosa fora essa digna autora. Suas palavras, por mais injustiçadas que foram pela vida até hoje, são significativas. Carolina Maria de Jesus eternizada não apenas por suas obras, mas por seu brilhantismo único. 

 

Maria Carolina de Jesus é um símbolo de luta, provando tamanha genialidade e que apenas como o poder da escrita eternizou a sua história para o mundo inteiro. 

 

Elza Soares 

 

《 Antes da Fama 

 

Filhas de pai operário e mãe lavadora, Elza Soares da Conceição  nasceu na periferia carioca e desde cedo cantou ao lado do seu pai Avelino Gomes, sua voz era considerada uma das mais lindas, voz essa que encantava a todos, sua simplicidade e autenticidade desde cedo fizeram ela ser um brilhante ser humano. Elza ainda na infância foi obrigada a se casar aos 12 anos, teve seu primeiro filho aos 13 anos, com a doença do marido acabou trabalhando como encaixotadora em uma fábrica de Sabão durante toda sua adolescência e início da vida adulta, perdeu o seu filho aos quinze anos e seu marido aos vinte. Após o falecimento do marido, Elza vai em busca do seu sonho. 

   

 

《 O início da Carreira 

 

  Na época, o MPB era majoritariamente branco, Elza começou a cantar na rádio Tupi em programas de calouros, rapidamente tornou-se febre, sendo considerada uma das cantoras mais bonitas de sua época, sua voz era até então um marco, tornando ela um símbolo da música MPB para as mulheres negras e periféricas, quebrando os padrões e principalmente escancarando a sua luta, diversas mulheres começaram a se ver representadas, as dores de Elza eram as mesmas dores de mulheres espalhadas pelo mundo que viam nas letras da cantora um refugo ou até mesmo uma forma de identificação. Elza abria portas para as mulheres negras no MPB que na época não existia nenhum tipo de representação. 

 

《 O brilho de uma estrela 

 

Após consolidada Elza ainda conquistou uma gama de fãs por toda a América, representante feminina do Brasil na copa do Chile, Elza lançava diversas músicas entre elas "Dentro de cada um", " Exú nas escolas", " Deus há de ser", " A Carne ", " Mulher do Fim do Mundo", " Língua ", " O que se cala", " Dindi"," Maria da Vila Matilde", " Banho". Misturada por ritmos diversos, Elza não tinha regra ou fio condutor, trabalhava como queria, era livre como sempre quis ser. 

 

 Com um de seus versos mais icônicos " Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim" revelava a violência doméstica que a mesma sofria do seu marido Garrincha, Elza tornou-se voz ativa na luta contra o machismo e principalmente contra a violência doméstica, a mesma não queria que outras mulheres passassem pelo que ela passava constantemente, utilizando da sua fama para escancarar um problema recorrente na sociedade brasileira, contribuindo ativamente na luta contra o Machismo que sempre cercou ela e a maioria das mulheres. 

 

《 O impacto de Elza Soares 

 

Elza Soares faleceu em janeiro de 2022, de causas naturais, aos 91 anos, com 69 anos de carreira, passando pelo Samba, MPB, ritmos de origem africana e pela forma diversificada de se fazer música Brasileira. Elza deixou o seu legado como uma das poucas cantoras a lutar ativamente pelo direito feminino durante toda sua carreira, de maneira direta foi uma referência Negra, feminina que utilizou a sua fama como arma para combater a violência, o preconceito, o racismo e abraçar a todo o seu povo. Elza tornou-se uma figura histórica brasileira simplesmente por ser forte, sua força e determinação levaram ela a se tornar uma pessoa esplêndida. Periférica, militante, desbravadora e acima de tudo uma mulher negra, esses são os adjetivos que definem a "mulher do Fim do Mundo"  eternizada pelo seu impacto na indústria musical. 

 

Pixinguinha 

 

《 A Origem de um mestre 

 

      Nunca foi um bom aluno, enquanto seus colegas aprendiam matemática ele focava na música, Alfredo da Rocha Viana Filho foi o sétimo filho em um total de dezessete, cresceu em uma família de músicos e desde cedo se apaixonou pelas cantigas que seu pai cantava. O apelido Pixinguinha nasceu da sua avó Edwiges,  que colocou esse apelido, africana de nascimento usou de inspiração para o nome, derivado do seu dialeto Natal, "Pizindin" que significava "menino bom" e que logo se abrasileirou e se tornou "Pixinguinha" 

  

 Apaixonado pela flauta escolhe justamente o instrumento que seu pai tinha domínio, e desde cedo escreveu os mais populares chorinhos, como "Mulher Boêmia", "Pé de Mulata", "Quem Foi Que Disse" e "Lamento" que mais de trinta anos depois receberia letra de Vinícius de Moraes.

  

《 Carreira Musical 

 

Em 1918, Pixinguinha se juntava a sete companheiros e assim formava os Oito batuques, grupo que tocava instrumentos propulsores do samba no Brasil, como o bandolim, pandeiro, violão, reco-reco e cavaquinho. O sucesso do grupo foi gritante, deixando a marca registrada na sociedade carioca por suas brilhantes músicas, foram convidados em 1921 a passar uma temporada em Paris. Durante seis meses os franceses se apaixonaram pelo Samba e o capricho brasileiro que ganhava proporções gigantes por todo o país europeu. 

 

Na década de 30, Pixinguinha trocava a flauta 

Pelo jazz, a partir daí focava em expandir seus dotes musicais. Ao longo dos trinta próximos anos escrevia as mais sublimes canções,  1957 fundou o grupo "Velha Guarda" e com outros cantores negros conquistava uma legião brasileira na mistura de ritmos como o próprio samba e o jazz, onde o aperfeiçoava cada vez mais, além de escrever a trilha sonora do filme " Sol sobre a lama", um enorme sucesso. Pixinguinha infelizmente nos deixava em 17 de fevereiro de 1973, eternizado por sua tamanha dignidade e se tornando um dos maiores cantores negros do país. 

 

《 Pixinguinha e o poder de sua música 

 

Pixinguinha foi um dos grandes propulsores responsáveis por disseminar o samba por todo o Brasil principalmente em uma época que o Brasil criminalizava o ritmo, o Carnaval e qualquer tipo de manifestação de procedência africana ou negra. Em uma época em que o racismo era escândalo na sociedade, Pixinguinha transformava sua cultura em arte. Um dos grandes pais do samba reivindicou a cultura negra em prol da arte proporcionando beleza e gingado. Um dos cantores negros mais admiráveis do país, seu legado contribui para dar voz à cultura negra que até então era marginalizada, o samba tomava novos rumos conquistava a relevância que hoje tem por toda a nação. Pixinguinha é um exemplo de talento, o cantor "miúdo" era tão grandioso pra história do movimento negro desse país. 


 

Ruth de Souza 

 

《 A estrela de Ruth sempre brilhou. 

 

Nascida em 12 de Maio de 1921, Ruth Pinto de Souza passou sua infância em Minas Gerais. Com a morte do pai, se mudou ainda aos 9 anos para o Rio de Janeiro ao lado de sua mãe em uma pequena vila de lavadeiras. Foi na cidade maravilhosa que Ruth ainda criança se interessava pelos palcos, tornando o teatro uma de suas grandes paixões, em 1945 se une ao teatro experimental negro, um local  referência para os atores negros que ativamente mostravam os dons artísticos de maneira livre sem que houvesse "Censura Branca". 

       Por indicação de Paschoal Carlos Magno, recebe uma bolsa para passar um ano nos Estados Unidos na universidade de Harvard e na academia Nacional de teatro, aperfeiçoando ainda mais a beleza e a sutilidade de sua carreira. Ruth rapidamente se tornava um símbolo negro na TV, no cinema e no teatro, considerada uma das maiores atrizes ainda na década de 50. Ruth também foi a primeira atriz brasileira a ser indicada a um prêmio internacional, o Leão de Ouro no festival de Veneza pela sua grande interpretação no filme Sinhá Moça de 1953. 

  

《 Ruth na Televisão 

 

Ainda na década de 60, Ruth já estrelava diversos filmes, quebrando paradigmas da época e principalmente desestruturado de maneira feroz o racismo que existia e até hoje existe no ambiente artístico, Ruth nasce na televisão em uma época majoritariamente compostas por pessoas brancas, seja elas protagonistas, antagonistas e até mesmo figurantes, fazendo alguns papéis na TV Record e na TV tupi o seu grande destaque foi na globo onde interpretou a primeira protagonista negra da história da emissora e a segunda da TV brasileira, a forma como isso teve impacto social foi gritante, não era típico uma pessoa negra chegar a tal posição, simplesmente Ruth foi revolucionária, conseguindo representar diversas mulheres negras na televisão, sua imagem era contemplada por todo o Brasil. 

    Ruth de Souza construiu uma carreira que causava impacto a todos, principalmente aos racistas do meio artístico que não aceitavam uma mulher negra ter tamanho talento. A atriz ao longo da sua carreira fez história simplesmente por ser grandiosa, por ser considerada a dama do teatro e acima de tudo a dama da TV, ao longo de 73 anos de carreira fez diversas novelas, entre elas "Corpo a Corpo (1984)", " Sinhá Moça (1986)" "Mandala (1987)" "Fera Radical (1988)", "O clone (2001)" e diversos outros papéis. Seu último papel foi em 2018 na minissérie "Se eu fechar os olhos agora" 

 

 《 O impacto de Ruth 

 

Ruth de Souza traz uma grande carreira no teatro, cinema, televisão, suas atuação é considerada até os dias atuais como uma das melhores do mundo, uma atriz negra que nasceu em uma época em que negros não eram vistos na televisão, no teatro e muito menos no cinema, Ruth quebrou as barreiras racistas que rodeavam a sociedade artística e conseguiu representar um povo, uma raça um grupo de pessoas que infelizmente são constantemente invisibilisadas. 

    Sua carreira é a prova de excelência e elegância e que uma das maiores mulheres negras deste país conseguiu o direito de ser uma figura eternizada por seu brilhantismo. Uma atriz referência e que lutou para conquistar o seu legado. Legado esse que poucos artistas adquiriram, já que apenas Ruth tinha a maestria de se tornar a "Dama do teatro" 

 

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Ruth de Souza, Pixinguinha, Elza Soares e Maria Carolina de Jesus, figuras negras que conseguiram trazer impacto em diversas áreas da cultura, seja elas na literatura, música, cinema ou qualquer outro tipo de arte. O movimento artístico no Brasil é em sua grande maioria branco, dar ênfase à essas figuras é também mostrar a beleza da arte negra e o quão profunda ela consegue ser na sociedade e na história cultural brasileira, o dia da consciência negra é um dia de luta, todos os dias pessoas negras lutam para terem espaços em ambientes de trabalho, representatividade nas mídias, proteção e segurança  e acima de tudo terem espaços na arte. As figuras representadas aqui são eternizadas no movimento negro e na cultura do país como forma de resistência, exuberância, classe, crítica, inspiração e ORGULHO, orgulho de serem negros e de mesmo depois de tantos anos abrirem portas para diversas pessoas nas mais variadas áreas.

(FIM DO ESPECIAL)

 

20/11/2023

 

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