Nada Será Como Antes | Web Filme
Cena 01 (Casa de Campo/Interior/Manhã)
• Zona Rural de Manaus - AM - 2022 •
Nos aproximamos aos poucos de uma casa de campo à beira de um grande igarapé, um balanço antigo feito de pneu resiste ao tempo e às memórias do homem que o observa com um olhar de ternura, enquanto toca as notas de um piano sem sequer olhar às teclas. Ao terminar a melodia, ele solta um sorriso cândido ao lembrar de algo olhando para aquele brinquedo humilde através da janela.
ESTHER (Se aproximando/Irônica): Luciano? Em que planeta você estava meu irmão?
LUCIANO: Lá... Lá onde a minha memória alcança. Lembra daquele balanço? O quanto nós adorávamos ficar nele... De um lado, pro outro.
ESTHER: Lembro. Você sempre foi muito imperativo, aquele balanço era praticamente seu. (Sorri)
LUCIANO: A partir dia em que eu não coube mais nele, eu tive outra percepção do que é crescer. Do que é se tornar um adulto...
ESTHER: Eu sei que você está enfrentando maior barra desde que descobriu aquela doença... Mas eu tô fazendo o que eu posso para te ajudar meu irmão. Tá tudo bem mesmo com você?
LUCIANO: Pode deixar Esther, eu não estou alucinando. Estou feliz por lembrar disso, dos meus amigos, da minha infância, das minhas memórias naquela balanço.
ESTHER: Que bom, tenta buscar isso mais vezes. O médico disse que é bom exercitar as nossas memórias. Eu tô aqui contigo, olha só o lugar que a gente está. Na nossa cidade natal, na nossa antiga casa... Tantas memórias estivemos neste ambiente, tudo parece vivo mesmo depois de tanto tempo longe.
Luciano parecia não ouvir a sua irmã, ele apenas a observa com um olhar profundo e ela acaba percebendo.
LUCIANO: Eu temo por deixar de lembrar de você, minha irmã. O mal dessa doença, é apagar da gente quem nós amamos. Eu não sei se irei suportar...
ESTHER: Luciano, por favor. Não tem nada melhor do que estarmos com quem a gente ama, e olha só onde você tá agora... Comigo! Nós sempre formos tão unidos. E isso não irá mudar...
LUCIANO: Mas você sabe, que pra mim sempre faltou um pedaço disso tudo. Eu sinto falta da época em que vivia nesta casa. Tanto é, que eu tive de voltar aqui novamente. Ficar aqui me trás paz...
ESTHER: Ah Luciano... Você parece que nunca deixou de ser criança. A sua jovialidade ainda vive pulsantemente em você. Talvez o prazer de crescer e ser independente nunca te agradou, você ficou preso nessa ideia de que o passado sempre foi o melhor que o presente. Você precisa evoluir meu irmão.
LUCIANO: Como? Se vivemos numa rotina chata e monótona, é assim que você quer ter memórias? Lembranças? Indo pro trabalho, voltando pra casa todos os dias?
ESTHER: As coisas não funcionam desta maneira meu irmão, não é assim! Nem todos vivem desse jeito que você imagina...
LUCIANO: Mas eu vivi. Fui afetado por este castigo, por este ciclo que todos nós temos que passar. Olha só o meu estado, o que eu construí a minha vida inteira? Eu desisti dos meus sonhos, dos meus ideais. Tudo por causa de trabalho, e acabei me resumindo a nada.
ESTHER: Eu queria que você entendesse que isso é comum. Que isso todos devem seguir, se não a vida não segue em frente. É algo natural!
LUCIANO: Não é, Esther. Eu vou fazer diferente, vou fazer enquanto eu posso. Para tentar ao menos me resgatar e resgatar aquele que eu era, aquele que eu um dia fui.
Luciano segue para o quarto, Esther permanece imóvel pensativa.
ORIGINAL GSPLUS
Escrito por ALBERT LIMA
Supervisão de Texto THIAGO VINÍCIUS
Cena 02 (Casa de Campo/Quarto)
Remexendo no seu passado, Luciano revira alguns álbuns de fotografias procurando por algo. Debaixo de tudo aquilo, o homem encontra um porta-retrato com a foto dos amigos quando crianças, são eles: Henrique, Bernardo, Flora e a irmã Esther. Ao tirar o fundo do porta retrato, ele encontra um recorte de jornal com um motorhome clássico da década de 80 e ao fundo o mar das Caraíbas.
LUCIANO (Lendo o slogan): "Seu sonho sobre rodas."
Luciano se senta ao lado da cama pensativo. E lembra de quando viu aquele recorte pela última vez.
• Flashback •
Década de 80
A casa de campo aparece com uma placa de "vende-se" e os preparativos para a mudança da casa está a todo vapor. O pequeno Luciano que trazia sua mala, acaba deixando o recorte de jornal cair, onde ele mesmo nem lembrava da existência.
LUCIANO (Criança): O mar das Caraíbas...
MULHER (Se aproximando): Vamos meu filho, está na hora de ir...
LUCIANO: Mas eu não quero, não é porque meu avô morreu que temos que abandonar essa casa. Ela é nossa, eu adoro vir aqui...
MULHER: Mas não dá meu filho, eu não irei suportar viver aqui, lembrando dos momentos com seu avô. Precisamos ir... Recomeçar em outro lugar.
LUCIANO: Se eu for embora, eu posso perder os meus amigos para sempre. Eu não quero isso mamãe, eu não quero!!! Eu não quero ir para longe!
A mãe do menino começa a perder a paciência.
MULHER: Chega Luciano! Você não tem o que querer, você vai e ponto. Vamos logo, antes que percamos o voo.
LUCIANO (Chorando): Não, não, não! Não!
Luciano ao ser levado à força pela mãe, acaba deixando o folheto do jornal no chão. A porta é fechada, enquanto nos aproximamos do recorte de jornal.
• Fim do Flashback •
Luciano ao lembrar daquilo, solta um pequeno riso.
LUCIANO: É... Eu não consegui. E a gente nunca mais se viu..
Luciano coloca a foto na mesa de cabeceira e se levanta determinado.
LUCIANO (Sorrindo): Talvez, ainda não seja tarde para realizar isso. Nunca é tarde.
Cena 03 (Casa de Campo/Sala de Estar/Noite)
Luciano aparece na sala andando de um lado para o outro animado com a ideia da viagem que acabara de planejar.
LUCIANO: Nada pode dar errado nessa viagem, Esther. Vai tudo as mil maravilhas, eu já planejei tudo durante esta tarde!
ESTHER: Meu irmão, você sabe que uma viagem assim não pode ser decidida de uma hora para outra. Precisamos de tempo...
LUCIANO: Tempo, é tudo que eu não tenho Esther. Eu preciso viver enquanto eu ainda estou aqui.
ESTHER: Luciano, você não irá morrer. Daqui pra frente as coisas só irão ficar mais diferentes.
LUCIANO: Diferentes? Vão ficar irreconhecíveis, eu serei uma dessas coisas principalmente.
ESTHER: Eu só não quero que você se machuque com esse seu sonho, quase irreal meu irmão.
LUCIANO: Qualquer sonho é irreal, Esther. Vai do ser humano ter a força de realiza-los ou não. E então? Vai embarcar comigo nessa?
Esther fica pensativa alguns instantes.
ESTHER: O que eu não faço por você não é? É claro que eu vou... (Sorri de canto)
Luciano abraça a irmã sorrindo.
ALGUNS DIAS DEPOIS
Cena 04 (Casa de Campo/Exterior)
Uma grande mesa aparece em destaque no jardim da casa de Luciano, ele aparece feliz enquanto arruma os últimos detalhes da mesa. Aos poucos os amigos vão se chegando no evento, todos eles se cumprimentam e confraternizam o reencontro. Bernardo, Flora e Henrique se unem a mesa com Esther e Luciano.
LUCIANO: Meu Deus! Eu nunca imaginei que isso poderia acontecer novamente, vocês todos aqui, na minha frente. Quanto tempo...
ESTHER: Infelizmente, apenas um imprevisto na vida do meu irmão para fazer nós nos unirmos novamente.
LUCIANO: Meus queridos, esse encontro além de promover essa confraternização, não foi por acaso. Eu queria muito que vocês me acompanhassem numa viagem, importante para mim. É algo que eu preciso realizar, antes daquela maldita doença tomar-me conta. Lembram? De tudo que planejamos quando crianças?
BERNARDO (Sorrindo): Só você mesmo para resgatar isso, como não lembrar do Mar das Caraíbas? Você nos azucrinou por longas uma semana quando encontrou um folheto com esse paraíso.
LUCIANO: Uma pena que depois que sai de Manaus, nunca mais tive contato com esse folheto e esse sonho se escapou da minha memória. Mas estar aqui novamente, me fez relembrar tudo que tinha à fazer, à imaginar, à sonhar quando criança.
HENRIQUE: Vejo que continua com o mesma sede de viver como sempre teve Luciano. Fico feliz que não tenha desistido de seus sonhos...
LUCIANO: Nem sempre foi assim Henrique. Quando eu me perdi de mim mesmo, eu acabei perdendo toda a sede que eu tinha de viver, os meus sonhos. Mas eu quero resgatar isso de volta...
BERNARDO: Tínhamos tantos sonhos... Como isso se perdeu se éramos tão unidos?
FLORA: Seguimos com a nossa vida, Bernardo. É natural cada um seguir o seu rumo, até porque nada é para sempre.
LUCIANO: O para sempre é muito relativo Flora. E é por isso, que eu quero pedir a vocês me acompanharem nessa aventura, para restaurar esse elo quebrado e tentar novamente buscar os nossos ideais.
HENRIQUE: Bom, você sempre esteve presente nas nossas vidas, apesar da distância. Você sempre foi o elo que nos unia... Não podemos te deixar na mão.
Os amigos concordam com Luciano, exceto Flora.
FLORA: Luciano, isso não tem nenhum cabimento. Temos nossas rotinas, nossos trabalhos, como iremos abandonar tudo isso?
LUCIANO: Da mesma forma como eu abandonei tudo, quando eu tive a noção de quanto infeliz eu era.
FLORA: Você me desculpe Luciano, mas eu não posso abandonar tudo dessa maneira. Eu tenho família, você fala como se fosse fácil jogar tudo por alto.
HENRIQUE: Não leve tudo ao exagero, Flora. São só algumas semanas, você não precisará jogar "tudo para o alto"
FLORA: Se vocês não tenham com o que se ocupar, eu tenho, eu não vou empatar a minha vida com uma bobeira dessas.
Flora se põe de pé.
FLORA: Perdão Luciano, por todo carinho que eu tenho por você. Mas as coisas não são tão fáceis como você imagina...
Flora se afasta, Luciano acaba indo atrás. Os amigos se entreolham.
HENRIQUE: Pelo visto, a nossa viagem pelo caribe vai sair sem uma integrante.
ESTHER: Não tem problema, o que importa é que ela irá se realizar! Que bom que aceitaram a ideia do Luciano.
BERNARDO: Ele desde sempre esteve conosco. Não iríamos abandona-lo nesse sonho, que além de ser dele, foi nosso um dia.
Esther assente.
Cena 05 (Casa de Campo/Saída)
Luciano corre atrás de Flora.
LUCIANO: Flora, não faz assim. As coisas não precisam ser dessa maneira.
FLORA: E de que maneira tem que ser? A maneira que você quer Luciano?
LUCIANO: Eu só queria unir a gente novamente. Essa doença vai me consumir cedo ou tarde Flora, e eu não quero perder vocês para sempre. Faz esse apelo, não só por mim, mas por todos nós.
FLORA: E o meu apelo? A vida não é um mar de rosas como você pensa. O passado já era, já deu. Você não percebeu o clima terrível que estava naquela mesa?
LUCIANO: Estavam todos muito bem, o que há de errado?
FLORA: Você percebe o quanto estamos distantes, distantes de tudo aquilo que fomos. Você parece ser o único que não quer enxergar que todos nós estamos diferentes. E que não somos mais aquelas crianças que brincavam na beira desse riacho... Vai ver o erro naquela mesa era eu...
LUCIANO: Eu sinto muito Flora. Não é possível que você tenha se tornado essa pessoa amarga, como pode? Realmente estamos distante do que éramos...
Luciano se aproxima de Flora, e toca em suas mãos.
LUCIANO: Eu só queria que você entendesse, os motivos dessa viagem. O quanto ela é importante para mim...
Flora passa um breve tempo olhando para os olhos claros do rapaz, enquanto pensa algo.
FLORA: Tudo bem, deixa eu colocar as coisas no lugar. Mas eu prometo que eu irei pensar sim Luciano. Nós sempre formos muito próximos, eu sempre estive disposta a ouvir e a entender você.
ESTHER: Que bom, Flora (Sorrindo)
Luciano sorri, Flora sorri também e retribui com um aceno enquanto sobe na sua moto e segue caminho em seguida.
DUAS SEMANAS DEPOIS
Cena 06 (Casa de Campo/Exterior)
Luciano arquiteta a viagem juntamente com seus amigos, exceto a Flora. Após vários dias de ajustes e preparativos, finalmente chega o dia da viagem. Henrique e Luciano aparecem ao fundo, enquanto Bernardo e Esther conversam.
BERNARDO: Você andou distante esses últimos dias. Tem acontecido algo? Desânimou com a viagem? Cadê aquele destemido?
ESTHER: Não é que, eu não queria desanimar o pessoal, só para dizer que eu estou um pouco apreensiva com a ideia de viajar com o motorhome pela floresta, é um pouco perigoso. A última coisa que eu quero, é colocar todos nós em risco.
BERNARDO: Relaxa, não é tão ruim assim. Estaremos em cinco, que mal irá acontecer?
ESTHER: O problema é aquele estreito que nós vimos no mapa. Vai mudar totalmente o curso da nossa viagem, vai praticamente duplicar as semanas que passaremos viajando. Sem contar que é um processo burocrático...
BERNARDO: Você tá muito nervosa, fica mais tranquila. Vai ser uma viagem muito divertida. Olha só o que seu irmão com a sua ajuda, conseguiu fazer mesmo depois de tanto tempo desses sonhos enterrados. Sem contar que vai ser ótimo, eu ter a companhia de nossos amigos... A sua principalmente.
Bernardo sorri de canto, mas Esther rapidamente corta o comentário, mudando de assunto.
ESTHER: Eu não quero que soe egoísmo da parte do meu irmão, pensando apenas nele nessa viagem. Não é isso... Ele só quer realizar esse sonho da maneira que for.
Luciano se aproxima.
LUCIANO: Então gente? Tudo pronto? Tá na hora! Está tudo pronto na nossa nova casa, acho que vocês irão gostar!
Em outra cena, Luciano aparece apresentando o motorhome aos amigos, observa-se ser grande o suficiente para caber todos ali confortavelmente.
BERNARDO: Eu achei que ficou perfeito! Não teria escolha melhor a não ser este!
HENRIQUE: O Bernardo tem toda a razão...
ESTHER: Ah mas ele teve uma ajudinha da irmã dele aqui, se não fosse por isso, sabe se lá Deus o veículo que ele iria escolher.
LUCIANO: Está bem, eu tive uma ajudinha sim. Mas os créditos da idealização disso tudo são meus! (Rindo) Bom, vamos partir, antes do anoitecer. Quanto mais rápido iniciarmos essa viagem melhor...
VOZ: Será que tem lugar para mais um aí?
O quarteto se vira e vê Flora com um mochilão nas costas, sorridente.
FLORA: Então? Cabe ou não cabe mais um?
LUCIANO: Estávamos a sua espera, é claro que pode entrar! Isso tudo aqui é nosso!
Flora se acomoda no veículo.
HENRIQUE: Bom, eu acho que agora não falta absolutamente nada. Estamos prontos!
Todos se entreolham. Do lado de fora, é mostrado o veículo sendo manobrado por Bernardo para sair do sítio e seguindo pelo estrada de terra. Observamos a casa de campo.
Cena 07 (Motorhome/Estrada)
Nesta cena, é possível observar a profunda e densa floresta amazônica sendo cortada pela estrada na qual o motorhome atravessa. Do lado de fora já é vista a placa da divisa entre Roraima e Amazonas. Luciano e Flora conversam.
LUCIANO: Que bom que você pensou com carinho. Eu realmente estou feliz em ter aceitado essa nossa aventura... O grupo ficaria sem um elo sem você.
FLORA: Eu não poderia magoar você, aliás, nem ninguém do nosso grupo. Apesar de deixar os meus compromissos para trás, nós precisamos dessa viagem. Pra suprir essa distância...
Luciano abraça a moça em um ato repentino.
LUCIANO: Ah... Esse é a Flora que eu conheço, que eu tinha na minha memória. (Sorri)
FLORA: Todos nós mudamos, Luciano. Nós evoluímos, ninguém aqui está igual ao que éramos à anos atrás. Estamos diferentes... Nada fará ser como era antes, mas podemos fazer melhor. Não achas?
LUCIANO: Com certeza... Eu quero recuperar esse tempo perdido, recomeçar de novo e fazer coisas que eu deveria ter feito.
A viagem prossegue, os cinco amigos passam pelo estado de Roraima e atravessam a Venezuela em um período de três dias de viagem, até chegar na Colômbia. Em outra cena, eles aparecem num aeroporto.
Cena 08 - Colômbia (Aeroporto/Interior)
LUCIANO: Daqui para frente não tem mais vias terrestres. Enquanto nós iremos de avião, o motorhome irá de balsa até o Panamá.
FLORA: Não é melhor acompanharmos o motorhome na balsa? Não é mais seguro?
LUCIANO: Serão muitas horas viagem, será exaustiva. Enquanto de avião são poucos minutos.
ESTHER: É melhor mesmo, pelo menos chegaremos na frente.
BERNARDO: Mas vem cá, quais são os motivos de não haver vias terrestres? Algum em específico ou só é a incompetência do governo mesmo?
LUCIANO: Bom, a região é muito densa e é completamente dominada pelo narcotráfico dessa região, ainda tem a vida selvagem e os próprios povos locais.
HENRIQUE: Mas eu já ouvi história, que ouve alguns corajosos que enfrentaram a floresta para conseguir chegar ao outro lado. Geralmente são imigrantes... Mas a grande maioria, raramente chegam vivos até lá.
BERNARDO: De qualquer modo, passaremos bem longe desse estreito!
Eles seguem para o portão de embarque, indo em direção à uma pequena aeronave comercial. Observamos o tempo se fechar de maneira rápida. O avião decola em seguida.
Cena 09 (Avião/Interior)
Todos já dispostos na poltrona do avião, a viagem é esperada é rápida por ser pouco mais de 30 minutos de vôo para atravessar o estreito de Darien. Mas o avião de pequeno porte, parece não aguentar a forte tempestade que assola a fronteira entre a Colômbia e o Panamá.
FLORA: O que é isso? O que está havendo? Porque estamos tremendo tanto desse jeito?
LUCIANO: Deve ser uma turbulência, o tempo não está nada bom lá fora.
ESTHER: Meu Deus do Céu.
As sirenes de alerta ecoam pela aeronave, sinalizando algo de errado. O piloto colombiano parece tentar reverter a situação de pane elétrica. Um clima de tensão e desespero toma conta da cena.
PILOTO (Voz): Mantener en sus asientos, haremos un aterrizaje de emergencia. (Mantenham-se em suas poltronas, iremos fazer um pouso de emergência)
Todos permanecem assegurados pelo cinto de segurança, enquanto o piloto tenta pousar mais não acha nenhum sinal de pista ou área plana. Ele acaba tendo que aterrissar na mata, ao se chocar contra diversas copas de árvores. Ele chega ao chão, parcialmente destruído e destroços espalhados pela mata.
Cena 10 (Floresta/Manhã)
A cabine do piloto aparece destruída por completo, e o piloto colombiano é visto já morto, o co-piloto que acabou caindo para fora da aeronave, ainda dá sinais vitais. Já a dos passageiros, em partes ainda está inteira e os cinco passageiros apenas com algumas escoriações superficiais. Luciano é o primeiro a conseguir despertar.
LUCIANO: Não pode ser, caímos. Meu Deus... (Desesperado)
Ele vai em direção aos amigos para ajudar à resgata-los. E aos poucos, eles vão tomando a consciência do que aconteceu. Esther se levanta e tenta se localizar na mata.
ESTHER: E agora Luciano? O que nós iremos fazer? Nós caímos bem no meio dessa maldita floresta...
LUCIANO: O desafio será sair daqui. O que não vai ser tarefa fácil...
HOMEM (VOZ): ¡Salir da aquí con vida talvez no sejas una realidad!
Luciano e Esther se viram e vê o copiloto sobrevivente do avião, se aproximando deles.
LUCIANO: Como assim senhor copiloto?
GUAIDÓ: Salir daquí de Darién, son pocos que conseguem.
ESTHER: Não digas uma coisa dessas, já chega de tanto tormento. Já não basta esse susto!
LUCIANO: Creio eu que o senhor pode nos ajudar, como colombiano, acredito que conheces essas terras como ninguém.
GUAIDÓ: Vi pocos chegar al otro lado de Darien, porém podemos tentar-lo atravessar.
Flora ao ouvir aquilo, entra tem uma crise de histeria.
FLORA (Nervosa): Não, não, não é possível! Meu Deus, estamos perdidos, iremos morrer neste lugar maldito e isso tudo é culpa sua Luciano!
ESTHER: Ninguém tem culpa de nada, Flora. Isso foi tudo um grande imprevisto, mas estamos bem, é isso que importa.
FLORA: Nós se quer estamos a salvos ainda Esther. Olha só o nosso estado, estamos presos no pior lugar possível.
Luciano nada diz, apenas olha para a moça entristecido. Flora segue em direção à Guaidó que parece seguir uma trilha, Luciano fica pensativo.
LUCIANO: Eu sinto muito pessoal, desculpa mesmo por tudo isso. Eu fui egoísta em colocar vocês nessa enrascada, por um capricho da minha parte.
HENRIQUE: Esse sonho não é só seu Luciano, é nosso... Não leva em consideração as palavras da Flora, ela nunca esteve totalmente de acordo com essa viagem.
Luciano permanece em silêncio. O grupo segue caminhando com dificuldade pela mata, se afastamos e observamos do alto a densa floresta que os espera pela frente.
Cena 11 (Floresta/Rio)
Após caminharem alguns metros a frente, eles se aproximam da beira de um rio. Eles se sentam em um tronco, onde colocam o pouco do que restou da bagagem.
BERNARDO: A maré do rio está cheia, não iremos conseguir atravessar.
GUAIDÓ: Esperemos que abaje el nivel.
A vida selvagem começa a aparecer, entre elas, os mosquitos que pousam nas feridas dos sobreviventes.
HENRIQUE: Droga, eu preciso dar um jeito nisso. Pode acabar piorando eu estando com essas feridas expostas dessa maneira...
BERNARDO: Acho que precisamos de algo para comer. O que acha de nós dividirmos, para encontrar algo?
GUAIDÓ: Ten cuidado, no te afastas tanto.
ESTHER: Pode deixar. Irá ficar Henrique?
HENRIQUE: Vou fazer companhia pro Luciano, vão na frente que depois eu vou.
Eles seguem mata a dentro, Guaidó acaba indo também. Henrique se senta ao lado de Luciano.
HENRIQUE: Não desanima não... Tenho certeza que falta pouco para gente chegar no mar do caribe.
LUCIANO: Só de eu poder ter reunido vocês novamente isso já bastava, essa viagem colocou a vida de vocês em risco.
HENRIQUE: Que isso, Luciano. Imprevistos há em toda viagem que se faça...
LUCIANO: Não foi um simples imprevisto Henrique, poderíamos ter morrido naquele avião.
HENRIQUE: Mas sobrevivemos, e estamos aqui para continuarmos e seguirmos. Não vamos parar agora não é?
Luciano fica pensativo.
LUCIANO: Não, eu nunca faria isso...
Henrique sorri confiante.
Cena 12 (Floresta/Tarde)
O tempo passa, e a fome começa a ser percebida entre os integrantes do grupo. Flora aparece um pouco distante de todos, após não encontrar nenhuma fruta, ela encontra uma diversidades de cogumelos entre eles o vermelho, sua cor chamativa chama a intenção da moça que se direciona ao fungo rapidamente.
FLORA (Faminta): Uma coisa tão bonita, não é possível que irá me matar. Não é?
Ao morde-lo, ela sente o seu gosto amargo e ácido e faz a moça recuar. Mas alguns instantes depois, ela começa a se saciar com aquilo estranhamente, uma dos efeitos daquele cogumelo. Ela começa a guardar vários. Em outro ângulo, observamos Bernardo e Esther que encontram algo também.
Cena 13 (Floresta/Beira do Rio)
Flora volta para o acampamento, mas acaba não dizendo nada sobre os cogumelos achados. O restante do grupo se aproxima também, todos começam a se juntar ali pois começa a anoitecer. Todos se sentam juntos, e começam a conversar ao redor de uma fogueira.
GUAIDÓ: Qué impresionante, quieres dizer que tienes Alzheimer? Tan joven!?
LUCIANO: É uma forma precoce dessa doença, que ainda está em estágio inicial. Os sintomas ainda estão bem baixos, e estou vivendo normalmente.
BERNARDO: E como você pensa em enfrentar essa doença daqui para frente?
LUCIANO: Eu quero mais do que nunca, cultivar e florescer as memórias que ainda tenho. Enquanto eu ainda posso... (Entristecido)
ESTHER: Isso nos já estamos seguindo fazendo... Olha só nós aqui, juntos, apesar de ser da pior maneira possível.
LUCIANO: Me desculpem por isso, eu sinto muito mesmo. Eu não queria colocar vocês neste risco.
HENRIQUE: Não tem do que se desculpar, você nunca iria prever que uma coisa dessas poderia acontecer.
Flora aparece dormindo profundamente no chão, a sonolência é um dos efeitos daquele cogumelo. Luciano a observa.
LUCIANO: Bom, precisamos nos proteger aqui. Não é seguro estarmos expostos dessa maneira aqui nessa mata.
GUAIDÓ: Com certeza.
LUCIANO: Eu trouxe algumas redes, isso pode ajudar a gente durante esta noite. Amanhã seguiremos cedo.
Todos procuram arrumar um lugar para dormir, exceto Flora que permanece no chão. Algumas horas depois, tempos após todos irem dormir barulhos de passos pesados, são ouvidos. Guaidó se atenta e escuta os passos, os primeiros raios solares já surgem diante de seu rosto.
GUAIDÓ: Qué es esto?
Algumas lanternas são vistas entre as árvores, e sons de latidos de cachorros também são ouvidos.
GUAIDÓ: Los guerrilleros, son eles! (Apreensivo)
Guaidó começa a acordar à todos, na tentativa salvar a todos daquela ameaça.
ESTHER: O que está acontecendo?
GUAIDÓ: Los narcotraficantes aparecieron. Probablemente estão buscando señales de invasores ¡Tenemos que fugir!
Acordando uns aos outros, eles olham para buscar saída mas não encontram a não ser pular no rio, enquanto os supostos guerrilheiros se aproximam cada vez mais. Ao chegarem, os narcotraficantes que dominam a região vê todos os integrantes do grupo nadando em direção à outra margem. Eles começam a atirar na direção à água, um clima de desespero toma conta da cena, os pertences do grupo acaba se perdendo pelo rio. Guaidó acaba sendo atingido por um tiro e some em meio às águas. Eles chegam à outra margem, e correm mata a dentro.
Cena 14 (Floresta)
ESTHER: Meu Deus do Céu, o que foi aquilo? Nós quase morremos!
LUCIANO: São os guerrilheiros que dominam a região, eu sabia que eles ainda apareceriam.
HENRIQUE: Acho que se fossemos capturados por eles sabe se lá Deus o que aconteceria com todos nós.
BERNARDO: Eu já vi relatos assim, de gente que se quer teve a oportunidade de se defender. Tiveram um triste destino...
HENRIQUE: Cadê o copiloto que estava conosco? Cadê ele?
LUCIANO: Meu Deus, ele acabou ficando para trás. Não conseguimos salva-lo.
ESTHER: A gente precisa voltar, não podemos abandona-lo.
HENRIQUE: Não podemos Esther. Aqueles caras estão todos lá na beira daquele rio, isso se não estiverem vindo atrás da gente.
BERNARDO: Precisamos seguir, pelos meus conhecimentos eu acho que estamos cada vez mais próximos de uma cidadezinha. Vamos lá...
Eles continuam o percurso, adentrando a mata. Flora aparece um pouco mais distante do grupo, ela caminha com a bolsa cheia dos cogumelos no qual encontrou pelo caminho. Sua expressão apática e seus olhos avermelhados chamam a atenção, ela come mais um daquilo que encontrou. Esther acaba notando o seu comportamento.
ESTHER: A Flora anda estranha, ela parece distante. Isso tudo anda mexendo muito com ela...
BERNARDO: Deve ser difícil para ela essa situação.
Naquela parte da floresta, o grupo começa a encontrar vestimentas de pessoas que passaram por ali. Entre camisetas, a até sutiãs.
HENRIQUE: O que é isso meu Deus...
LUCIANO: Muito provavelmente são marcações das pessoas que passam por aqui, uma forma de não se perderam por estas terras...
HENRIQUE: Sabe se lá Deus, se chegaram vivas ou não...
LUCIANO: Bom, caso contrário... Descobriremos pelo caminho.
Flora que já vinha atordoada, tropeça em um sapato de um imigrante deixado ali e acaba derrubando os cogumelos no chão. O grupo vê aquilo e se intriga, Flora começa a cata-los desesperada.
BERNARDO: Flora, o que são esses cogumelos?
FLORA (Descontrolada): São meus, não se aproximem. Eles são meus!
ESTHER: O que é isso Flora? O que está acontecendo com você... Seus olhos, estão vermelhos... (Se aproximando)
FLORA: Não tem nada de errado comigo, eu tô bem! Eu tô bem... Não encosta em mim, não me toca! NÃO ME TOCA!
LUCIANO: Esses cogumelos, são essas coisas que estão te provocando isso Flora. São venenosos, e te causam esses destemperos. Você não está bem...
FLORA: Cala a boca, eles são meus! EU OS ACHEI, EU OS ENCONTREI! VOCÊS NÃO IRÃO TIRA-LO DE MIM!
BERNARDO: Chega Flora, isso tá te fazendo mal! Chega! Me dá isso!
Flora surge com um estilete da bolsa e aponta para o homem, que estremece.
LUCIANO: Pelo amor de Deus, Flora. Larga isso! Olha o que você está fazendo...
FLORA: Sai daqui, não mexam comigo, ou eu não respondo por mim!
ESTHER: Vamos conversar minha amiga, não precisa disso. Por favor! FLORA!
Esther acaba partindo para cima da mulher, na tentativa de tirar a bolsa na qual continham os cogumelos mágicos. Flora acaba perfurando o abdômen da moça com aquele objeto cortante. Ela paralisa e desaba no chão, Flora se afasta tomando-se conta do que fez, ela leva as mãos a cabeça.
BERNARDO (Gritando): ESTHER!!!
Bernardo se ajoelha ao lado de Esther, horrorizado.
FLORA (Assustada): Meu Deus... Não, meu Deus. O que eu fiz? Não, não!
Flora larga tudo que tinha ali e sai correndo pela mata, Luciano acaba indo atrás dela enquanto Henrique tenta ajudar Bernardo, caído no chão. Flora corre sem olhar para trás e ao ver um clareira na mata, acaba invadindo e dando de cara com uma tribo indígena.
Cena 15 (Tribo Indígena)
Os nativos da região rapidamente a entendem como uma ameaça, e ao se armarem com arpões e arcos e flechas a moça acaba sendo atingida por um dos ataques da tribo, Luciano chega e tenta contornar a situação.
LUCIANO ¡Por favor pare! ¡No somos invasores, necesitamos de ayuda!
Um dos líderes acaba recuando, e se atenta ao homem, que pede para abaixarem as armas.
LUCIANO: Estamos perdidos aquí, no sabemos cómo salir de este estreito!
HOMEM: ¿Como prueba de que dices la verdad? (Como provas de que está falando a verdade)
LUCIANO: Estamos completamente desarmados, Solamente somos turistas. Estoy acompañado..
O homem olha para os companheiros por alguns instantes, e observa Luciano.
HOMEM: ¿Dónde están tus amigos? podemos ayudarlos... (Onde estão teus amigos, podemos ajuda-los)
Luciano suspira aliviado e corre para buscar o restante do grupo. A tribo resgata Flora na tentativa de salvar sua vida, após o ataque.
Cena 16 (Floresta/Barracão da Aldeia)
Luciano se aproxima dos amigos. Bernardo pressiona seu abdômen com pedaço de tecido, tentando estancar o sangue.
BERNARDO: Ele tá perdendo muito sangue Luciano. O que nós iremos fazer?
ESTHER: Eu acabo de achar ajuda, uma tribo indígena, creio eu que está disposta a nos ajudar. Vamos até lá...
Luciano e Henrique ajudam Esther a se colocar de pé e a ajudam a se locomover até a tribo indígena. Ao chegarem, os nativos se prontificam para ajudar no ferimento de Esther. O uso de plantas com propriedades curativas é usado no abdômen da moça. O chefe da tribo, se aproxima de Luciano.
LUCIANO: Gracias por tenerme en tu pueblo. Estábamos perdidos, queriendo llegar al ciudad más cercano (Obrigado por nós abrigar em sua aldeia, estávamos perdidos, querendo chegar na cidade mais próxima)
HOMEM: No te preocupes, cruzaremos el río e te ayudaremos a llegar a tu destino.
LUCIANO: Gracias, realmente gracias!
HOMEM: No será posible tratar tu amiga aquí, necesita atención médica urgente.
LUCIANO: Claro, claro.
BERNARDO: Pode ir Luciano, deixa que eu fico com a Esther aqui. Acompanha a Flora, até o hospital...
Em outra cena, é mostrado Flora deitada no chão da canoa movida a motor com sua cabeça apoiada nas coxas de Luciano, enquanto o mesmo acaricia seus cabelos.
LUCIANO (Sussurrando): O que você fez você você mesma Flora...
Após um curto trajeto até a cidade de Yaviza no Panamá. Dali, Flora é levada até o hospital da cidade debilitada.
Cena 17 - Panamá (Hospital)
Após os procedimentos necessários para salvar a vida da moça, é constatado a ineficiência daquele pequeno hospital. É mostrado Flora ainda muito debilitada na maca enquanto é acompanhada por Luciano. Ela desperta e se movimenta pouco.
LUCIANO: Flora?
FLORA: Luciano... O que você está fazendo aqui?
LUCIANO: Eu tô aqui, te dando força. Pra gente continuar essa viagem juntos... Lado a lado. Da maneira que aquela Flora de anos atrás, sonhou.
FLORA: Não dá, Luciano. Nunca deu... Isso tudo não era pra mim. Eu vim atrapalhar tudo...
LUCIANO: Flora pelo amor de Deus, não diz uma coisa dessas.
FLORA (Lacrimejando): Eu nunca compactuei com isso totalmente Luciano, eu sempre achei que não era possível essa viagem acontecer da forma que você queria. Até porque, nós estamos diferentes, tão diferentes que essa viagem deixou de ser um sonho, e passou a ser uma irrealidade.
Flora limpa algumas de sua lágrimas.
FLORA: Eu sinto muito Luciano. Mas, nada será como antes. Nada será da forma que pensamos que deveria ser... Por mais que você tente, as nossas diferenças sempre irão ser colocadas em evidências. Essa viagem, também não será da forma que você queria. Até porque, vocês irão ter que seguir em quatro... (Chorosa)
LUCIANO (Lacrimejando): Flora...
FLORA (Emocionada): Nada será como antes Luciano, o que resta agora, é tentarmos ser melhor do que éramos. Do que idealizavamos ser... Saiba que eu sempre te admirei Luciano, perdão te decepcionar meu amigo. Não se esquece disso, não esquece de mim nessa sua jornada.
Flora diz sua últimas palavras e começa a perder os seus sentidos, e sua frequência cardíaca cai drasticamente. Os médicos invadem a sala na tentativa de salvar a moça. Mas a reversão é impossível, Flora infelizmente falece. O breu toma conta da cena.
ALGUMAS SEMANAS DEPOIS
Cena 18 (Litoral do Panamá/Manhã)
O motorhome do agora então quarteto segue por uma avenida, que logo observamos ser a beirada de uma bonita e calma praia. O tão sonhado Caribe, ao se aproximarem da costa eles saem do veículo. Num por do sol de tirar o fôlego todos esses se reúnem a beira mar, Luciano segura em suas mãos uma urna funerária. O alaranjado reacende os olhos castanhos do homem, que observa aquilo que tanto sonhou ver, maravilhado.
LUCIANO: Meu Deus, como é lindo. Valeu a pena... Apesar de tudo. Apesar de nada ser como era antes, tudo aconteceu da forma que era para ser.
ESTHER: Só faltou você, Flora. (Lacrimejando)
LUCIANO: Ela tá aqui com a gente, sempre esteve mesmo distante, não é agora que irá deixar de estar! A gente conseguiu, Flora. Chegamos...
Luciano dá alguns passos para frente, e começa a destampar a urna lentamente, enquanto as cinzas de maneira delicada se perdem pela brisa do caribe e pelas águas do oceano atlântico. Os amigos se despedem com uma salva de palmas e logo em seguida se unem e se dão um longo abraço em coletivo. Nos afastamos dali.
ALGUNS MESES DEPOIS
Cena 19 (Casa de Campo/Quarto)
Após alguns meses, a rotina dos irmãos daquela casa muda drasticamente. A alegria de Luciano naquela casa não parecia mais presente como antes, com os sintomas da doença cada vez mais progressivos. A companhia de Bernardo para Esther, é o que a mantém de pé para não cair no abismo da solidão. O casal aparece sentado a beira da cama, entrelaçados.
BERNARDO: Queria tanto passar mais tempo aqui com você, eu sei que tá difícil. Mas, não podemos desistir do nosso Luciano.
ESTHER: Eu sei, eu tento, mas é tão difícil olhar nos olhos do Luciano e não encontrar o meu irmão ali. Eu não consigo mais... Eu não suporto mais.
BERNARDO: Mas ele ainda está aqui, o Luciano tá presente naquele balanço lá fora, nos corredores dessa casa, no motorhome lá na garagem... Ele nunca vai deixar de existir, ele apenas deixou de ser quem era. Ou melhor, não se lembra mais do que foi.
ESTHER: Me entriste Bernardo, o fato de que nada vai fazer voltar a ser como era antes. Eu o perdi para sempre...
Esther se aconchega ao lado de Bernardo, um confortando ao outro. Algumas notas no piano são ouvidas.
ESTHER: Você ouviu isso Bernardo? (Surpresa) É o Luciano...
Esther parece tentar sorri ao imaginar o irmão tocar novamente.
Cena 20 (Casa de Campo/Tarde)
Novamente, a casa de campo de Luciano é o destaque, como no prelúdio desta história. Luciano se senta novamente na mesa do piano, agora desta vez, tudo parece mais diferente para si. Infelizmente, devido ao estágio da doença, ele não se lembra mais da forma na qual tocava durante tanto tempo, sem se quer olhar às teclas. Ele dá pequenos toques nas teclas, descobrindo aquele som, como se fosse a primeira vez. Mesmo depois de tanto tempo, ele olha para aquele balanço apático sem nenhum significado presente na sua memória. Agora, se resumindo a nada, apenas um mero pneu balançando numa corda. Esther esperançosa, se aproxima do irmão, imaginando que o mesmo poderia voltar a tocar o instrumento que tanto gostava. Mas se frustra.
ESTHER: Meu irmão... Ô meu querido. Lembra de tudo que nós vivemos nesta casa... Nestes matos. Ah, você tinha razão. E como você tinha razão de sentir falta de tudo...
Luciano olha para a irmã apático, enquanto ela lacrimeja mas sorri para o irmão. Ela se aconchega ao lado do mesmo, que permanece ali, e a abraça involuntariamente.
ESTHER: Você lembra, não lembra? Dos nossos momentos, dos nossos sonhos... De como nós éramos tão apegados...
Esther se encaminha até a mesa de centro e volta com um quadro dos cinco amigos reunidos ainda crianças. Uma imagem muito representativa para Luciano, que hoje não vê aquela imagem com a mesmo encanto que via.
ESTHER: Olha meu irmão, nossos amigos... Nossos companheiros de infância. E ali, é a nossa estrelinha... (Emocionada)
Luciano começa a interagir com a imagem, tocando com seus dedos e deixando suas impressões no quadro passando por uma pessoa específica, Flora. Ele passa pelo seu rosto, como se tivesse acariciando a face daquela menina. Ele se recorda e balbucia algo.
LUCIANO (Sorrindo/Lembrando): Flora. É a Flora... É ela a nossa estrelinha não é?
ESTHER (Emocionada): Sim meu irmão, é ela a nossa estrelinha. Ela ainda tá presente em você... Ela não se foi.
Esther começa a sorrir de felicidade, em misto de emoções ela abraça o irmão por aquele simples e significativo ato de memória. Nos afastamos da cena aos poucos, enquanto os irmãos permanecem ali abraçados.
Fim
13/09/2022
© GS Literatura.
