Cena 01 (HOSPITAL FLETCHER/CORREDOR/MANHÃ)

 

Ξ Natasha e Demétri aparecem saindo do quarto onde o filho está internado, eles se sentam em uma das cadeiras dos corredores, olham para o chão paralisados e pensativos. Ξ

 

NATASHA: O que nós iremos fazer daqui pra frente? Qual será o nosso próximo passo? Com essa descoberta da doença do nosso filho, se torna mais urgente do que nunca a existência do medicamento que vinha criando.

 

DEMÉTRI: Claro, você tem razão. Se tornou uma questão de extrema urgência, eu preciso continuar a desenvolve-lo. Agora com a ajuda do Hospital e do George, vai ficar mais fácil.

 

NATASHA: Eu só espero que essa doença não se espalhe tão rápido. Eu não quero perder nosso filho pra essa doença, Demétri!

 

DEMÉTRI: Você não irá perde-lo, Natasha. Eu te prometo que nunca deixarei isso acontecer, talvez eu possa ter a cura desse inferno em minhas mãos.

 

NATASHA: E eu acredito que você tenha. Eu confio em você, mesmo quando ninguém o dava valor. Esse medicamento não só vai salvar a vida de nosso filho, como as de várias outra pessoas.

 

DEMÉTRI: É isso que eu quero.

 

Ξ Natasha segura as mãos do marido. Ξ

 

NATASHA: Você é especial, Demétri! Muito...

 

Ξ Demétri puxa a moça para um abraço apertado, eles se confortam por um longo tempo sorrindo. Ξ

 

Cena 02 (CARRO/INTERIOR)

 

Ξ Camile e George surgem saindo correndo do Laboratório BioGarcia e indo na direção do carro, eles adentram o mesmo e dá partida no veículo. Os seguranças do local surgem na cena, Camile dá manobra e segue pelo corredor central do estacionamento, um dos seguranças sacam uma arma e atira no vidro traseiro do carro, que some pelas ruas. Dentro do veículo, Camile sorri com o que acabou de acontecer. Ξ

 

CAMILE: Meu Deus, que loucura. Nós conseguimos... Acho que conseguimos o que queríamos.

 

GEORGE: Você é completamente louca, se não fosse por você eu não invadiria aquele laboratório assim, não é o do meu feitio!

 

CAMILE: Já entendi senhor certinho, agora pega aquelas pastas e vai dando uma passada de olho, antes de chegarmos em casa... Quem sabe em uma delas não diz alguma coisa. Precisamos saber, quem é esse tal novo dono do centro de reabilitação. Esse desgraçado que quer destruir o meu local de trabalho.

 

GEORGE: Pode deixar.

 

Ξ George pega uma das pastas e vai lendo atentamente os documentos. Ξ

 

CAMILE: Pra um ser humano querer destruir um lugar como aquele, tem que ser muito mal caráter. Nos dias de hoje, não me restam dúvidas que existam muitos assim por aí. (OLHANDO PARA GEORGE): E aí? Achou algo?

 

GEORGE: Nada... Pelo visto teremos um longo trabalho pela frente. São várias pastas...

 

Ξ George ao pegar outra pasta para ler, acaba sendo interrompido pelo toque vindo do seu telefone. Ele o atende. Ξ

 

GEORGE: Alô?... Demétri?... O que?... Espera um instante que eu tô indo praí.

 

Ξ George desliga. Ξ

 

GEORGE: Me deixa no hospital do meu pai. Parece que o filho do Demétri está internado lá, ele me pediu para ir até ele. Parece ser algo sério...

 

Ξ George e Camile se entre olham. Ξ

 

Cena 03 (HOSPITAL FLETCHER/CAFETERIA)

 

Ξ George leva a xícara de café até a boca. Ξ

 

GEORGE: Bom, o que ouve com seu filho? Você parecia tenso no telefone.

 

DEMÉTRI: Meu filho... Ele foi diagnosticado com esclerose múltipla.

 

GEORGE: Nossa, eu não sei nem que dizer. Mas pode contar comigo, e com as minhas forças nesse momento. Então, acho que mais do que nunca o projeto vai seguir não é?

 

DEMÉTRI: É por isso que te chamei até aqui. Agora com a sua ajuda, com o seu financiamento, não tem mais porque estar unido ao laboratório do meu pai. Não faz mais sentido nenhum, eu prefiro me desvincular disso tudo.

 

GEORGE: Era isso que eu queria te falar mesmo, sobre seu pai.

 

Ξ Demétri olha fixo pra um ponto distante, parecendo não ouvir George. Ξ

 

DEMÉTRI: Eu não queria fazer isso, porque ia acabar me distanciando ainda mais do meu pai. Eu sei que nos temos as nossas diferenças, que são muitas. Mas ele me ajudou, até demais. Teve uma hora que rolou um desgaste de ambas as partes, e não teve jeito... Talvez eu não seja o filho pródigo que ele tanto queria... E eu sinto muito por isso.

 

Ξ Demétri olha para George, que acaba pensando em não dizer sobre a discussão que teve com Kalil. Ξ

 

DEMÉTRI: O que você ia me dizer mesmo?

 

GEORGE: Nada, não era nada. Queria dizer que apesar de tudo, o seu projeto está em estado avançado de conclusão, mas falta a parte principal, que é a testagem não é mesmo?

 

DEMÉTRI: Sim, é isso mesmo. Foram doze anos de muita pesquisa, e o meu filho vai ser minha cobaia.

 

GEORGE: Tem tudo pra dar certo.

 

DEMÉTRI: Amanhã mesmo eu vou preparar tudo, vou conversar com o time de médicos desse hospital sobre a medicação, e assim quero fazer de imediato os testes. Precisamos de agilidade numa hora dessas.

 

GEORGE: Com certeza.

 

DEMÉTRI (AFLITO): Espero que eu tenha tempo, tempo suficiente é tudo que eu preciso...

 

Ξ ALGUNS DIAS DEPOIS

 

Cena 04 (HOSPITAL FLETCHER/CORREDOR)

 

Ξ Natasha conversa com um dos médicos do hospital. Ξ

 

NATASHA: Aconteceu alguma coisa? Como anda as últimas avaliações do meu filho? Me dê uma boa notícia, é tudo que eu preciso.

 

MÉDICO: Era tudo que eu queria dar para a senhora, mas infelizmente acho que não tenho boas novas.

 

NATASHA: Oh meu Deus, o que há dessa vez?

 

MÉDICO: A doença anda progredindo de uma forma que nós não queríamos. Ela está evoluindo de uma maneira muito depressa.

 

NATASHA: Depressa?

 

MÉDICO: Os intervalos entre esses surtos provocados pela doença estão cada vez menores. Talvez pelos sintomas serem tão imperceptíveis ao longo do tempo, isso já vinha acontecendo com o seu filho a um certo tempo, bem antes da doença ser identificada. Isso causou que a reversão tardia, causasse essa evolução. O tipo da doença de Justin, é um tipo raro, chamado EMPS, que é a forma progressiva e com mais surtos da doença.

 

NATASHA: Então foi isso... O diagnóstico foi feito tarde demais. Eu não vi, eu não enxerguei a doença no meu próprio filho!

 

MÉDICO: Os sintomas são muito sutis. Como uma turvação na visão, uma fraqueza nas pernas, tontura, transtornos de humor... Coisas que surgem a qualquer instante, sem que estejam associados a evento algum, e desaparecem rapidamente em alguns dias. Daí a possibilidade de queixas como essas não receberem atenção alguma, ou serem associadas apenas a uma semana mais desgastante, estressante...

 

NATASHA: Realmente, eu não tinha como perceber... Talvez eu não tenha o dado a devida atenção. Mas agora não há mais como voltar atrás, e sim tentar resolver o presente.

 

MÉDICO: Justin precisará ainda mais da ajuda da família nos próximos meses, apesar de não ter cura, o tratamento terá que ser seguido a risca, bem como o uso de anticorpos monoclonais. Já os corticóides, administrados em altas doses, dão conta da redução dos sintomas durante as crises. E eu fiquei sabendo, o projeto do seu marido para conter a doença do Justin e de várias outras pessoas, um lindo projeto. Desafiador e inovador acima de tudo, dará certo!

 

NATASHA: Que Deus ouça o senhor, meu filho vai sair dessa, eu confio nele, aliás em toda essa sua equipe, além da do meu marido.

 

Cena 05 (HOSPITAL FLETCHER/LABORATÓRIO)

 

Ξ Demétri olha pelo microscópio as plaquetas de sangue, coletadas de seu filho. George olha de longe a análise. Ξ

 

GEORGE: Vem cá cara, e como é que vai conseguir o resultado que você quer? Me diga.

 

DEMÉTRI: Bom... É simples. O meu experimento é um fármaco já usado no tratamento da esclerose, o Interferão, que utiliza células de mamíferos em que o gene de interferão beta humano foi introduzido e que, em altas doses, pode ser uma terapia não tóxica em cerca de 30% dos pacientes diagnósticados com a doença.  O Interferão é uma proteína produzida capaz de interferir na replicação de fungos, vírus, bactérias e células de tumores e estimular a atividade de defesa de outras células.

 

GEORGE: Caraca, nunca tinha parado pra pesquisar.

 

DEMÉTRI: Existe vários tipos de Intraferões, mas a forma usada no medicamento será o tipo um.  A forma alfa é produzida por leucócitos e a forma beta por fibroblastos quando invadidos por vírus. Induz a própria célula infectada e células próximas a produzirem proteínas que impedem a replicação do vírus. Mas tem um fator principal, que vai estimular a produção, nos trarão mais chances de sucesso.

 

GEORGE: Já sei qual é.

 

DEMÉTRI: O TNF-a, Factor de necrose tumoral, que nada mais é um grupo de citocinas capaz de provocar a morte de células tumorais e que possuem uma vasta gama de ações pró-inflamatórias. Mas tem um porém....

 

GEORGE: Sempre tem.

 

DEMÉTRI: O porém é que as citocinas pró-inflamatórias, por sua vez, podem ser moduladas a partir de respostas do organismo do paciente, ou seja, sua expressão pode ser aumentada ou diminuída. O mal funcionamento  pode causar inflamações dolorosas e permitir o aparecimento de tumores... Mas não é isso que queremos, e sim um resultado positivo.

 

GEORGE: Vamos pensar nisso, em como o organismo de Justin irá reagir. E que seja de forma positiva.

 

DEMÉTRI (CONFIANTE): Será meu amigo, será!!!

 

Ξ George sorri. Ξ

 

Ξ ANOITECE EM VANCOUVER

 

Cena 06 (AP. DE GEORGE/SALA/NOITE)

 

Ξ George aparece adentrando em casa, enquanto sua namorada aparece debaixo do abajur, ainda lendo o conteúdo das pastas encontradas na sala do Kalil. George cumprimenta a amada com um selinho. Ξ

 

GEORGE: Ainda aí?

 

CAMILE: Só hoje tive tempo de dar uma olhada nisso aqui. Ainda me estranha o fato do Kalil não ter vindo atrás de você procurando essas pastas. Sorte que você tá aqui em casa.

 

GEORGE: Não vou dar as caras lá em casa tão cedo. Prefiro assim...

 

CAMILE: Pega uma xícara de chá pra mim, pra dá um gás aqui. Por favor.

 

GEORGE: Pra já.

 

Ξ Camile volta a leitura. Agora a atenção se volta para o texto do papel que a moça está lendo, seus dedos curiosos percorrem uma linha que parece interminável, até terminar com o nome de Kalil García. Camile se surpreende. Ξ

 

CAMILE (SURPRESA): O que é isso?

 

Ξ George volta com o chá. Ξ

 

GEORGE: O que houve?

 

CAMILE: Olha isso, é o contrato da compra do centro de reabilitação, e é recente! Tá aí... Passou do nome do seu pai, pro nome do senhor Kalil.

 

GEORGE: Como assim? Isso não faz sentido.

 

CAMILE: George acorda, isso faz todo sentido. Achamos o motivo dele não querer mais continuar o projeto do filho, dele não querer mais gastar os lucros do laboratório medíocre dele com uma causa nobre. A verdade é que ele nunca sequer ligou pra aquele centro, e agora quer vê-lo em ruínas! É isso!

 

GEORGE: Meu Deus? Eu não tô acreditando que ele fez isso.

 

CAMILE: Toda verba daquele laboratório é direcionado pra aquele projeto do Demétri, que é feito com o uso das pesquisas e do apoio do centro de reabilitação, que é o maior propósito do Demétri, oferecer a cura pra todos aqueles pacientes. Nada mais óbvio do que o Kalil querer aniquilar tudo isso....

 

GEORGE: Isso é inacreditável, Demétri não vai acreditar nisso, eu nem sei como vou contar.

 

CAMILE: O que importa é que agora o projeto vai seguir, mesmo sem o apoio daquele pai dele. O problema maior é o destino do centro de reabilitação que está em jogo... Com essa farsa de novo comprador estrangeiro, deve usar alguém como laranja, pra livrar a própria cara. Mas a gente se adiantou...

 

GEORGE: Cara eu tô muito orgulhoso da gente. Principalmente de você. (RINDO)

 

CAMILE: Espero que estejamos no caminho certo. Aquele velho vai pagar, e vai ser na mesma moeda. Vamos manter essa história guardada, até pra preservar o próprio Demétri, que não tá numa boa fase. Enquanto isso, ficaremos de olhos bem abertos.

 

GEORGE: Você tem toda razão.

 

Ξ Camile e George se entreolham sérios. Ξ

 

Cena 07 (BIOGARCIA/SALA DE REUNIÕES)

 

Ξ Kalil aparece em uma vídeoconferência com todos os acionistas do laboratório Bio-Garcia. Ξ

 

KALIL: Bom, acho que o martelo já está batido. A melhor opção para o laboratório é cortar todos os vínculos com aquele centro de reabilitação, além de termos cortado as verbas do projeto do Demétri. Nada foi revertido da forma que queríamos.

 

SÓCIO 1: Demoli-lo será a melhor solução. Nossa imagem está atrelada aquele lugar para sempre, e nós somos um dos donos. Não há motivos para mante-lo de pé, além de inúmeros gastos desnecessários.

 

KALIL: Nosso companheiro tem toda razão.

 

Ξ Os outros concordam. Ξ

 

KALIL: Amanhã um contratado meu irá visitar o lugar, pra servir como laranja da empresa. Ele vai checar tudo, pra não haver erros na hora do despejo.

 

SÓCIO 2: Perfeito.

 

KALIL: Preciso encerrar, nos falamos em breve.

 

Ξ Kalil fecha o notebook. Ξ

 

KALIL: Eu não vou deixar você se afundar num limbo interminável por culpa daquele lugarzinho e por este projeto falho Demétri. Não mesmo!

 

Ξ AMANHECE EM VANCOUVER

 

Cena 08 (HOSPITAL FLETCHER/QUARTO/MANHÃ)

 

Ξ Atenciosos e dispostos, os pais de Justin aparecem cedo de pé para acompanhar o filho na realização do teste do medicamento feito pelo pai, que está ali. Arrumando os preparativos para introdução do medicamento criado, via endovenosa. O rapaz parece um pouco aéreo. Ξ

 

DEMÉTRI: Tudo pronto meu filho?

 

JUSTIN: Acho que sim, vamos lá.

 

DEMÉTRI: Vamos lá.

 

Ξ Fixa-se na seringa com o líquido usado por Demétri no teste, ele testa e vê que está tudo certo. Logo em seguida, ele aplica o líquido na veia do filho que o olha com um sorriso esperançoso no rosto. Natasha segura nas mãos de Justin. Ξ

 

NATASHA: E que tudo dê certo...

 

Ξ Por fim, a medicação é toda aplicada e Demétri olha para a seringa e para o filho, confiante. Ξ

 

DEMÉTRI: Vamos esperar os resultados agora.

 

Ξ Justin sorri. Ξ

 

Ξ NO DIA SEGUINTE

 

Cena 09 (HOSPITAL FLETCHER/QUARTO/MANHÃ)

 

Ξ No dia seguinte à aplicação teste do medicamento criado por Demétri, o rapaz aparece aflito esperando pelas análises dos testes feitos pela equipe do hospital, na esperança que o remédio tenha surtido algum efeito. Tenso, ele se aproxima do filho ele acaricia seus ombros, e acaba levantando uma de suas mangas da camisa. Ele vê um hematoma esquisito na parte onde foi aplicada a medicação. Ele franze a testa, confuso. Ξ

 

DEMÉTRI (SÉRIO): Meu Deus.

 

Ξ O médico adentra o local, Demétri se vira. Ξ

 

DEMÉTRI: Doutor, que bom que está aqui. Então? Como foi? As análises...

 

MÉDICO: Os resultados saíram, Demétri. Estão todos aqui, eu os trouxe pra você ver... Mas eu já os dei uma lida.

 

DEMÉTRI: Pois então diga, o quadro foi revertido? Houve alguma reação?

 

MÉDICO: Eu sinto muito, Demétri. Mas não teve reação nenhuma, nada foi visto. Estamos suspeitando que a medicação não surtiu nenhum efeito sequer.

 

Ξ Demétri fica estarrecido com a notícia que acabara de ouvir, ele olha para o filho e para o médico em seguida. Ξ

 

(FIM DO EPISÓDIO)

 

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