Dona de Mim - Capítulo 15
Web Novela
Autora: Júlia Oliveira
Supervisão de Texto: Dinho Oliveira
Cena 01 - (Apartamento de Aysha/Interior)
▪︎Paulo mantém-se em pé e de braços cruzados, está aflito e puxa o ar constantemente tentando não deixar totalmente visível sua impaciência.
PAULO (Sério): Eu preciso... Preciso tentar digerir tudo isso que escutei aqui. É como se meu pior pesadelo tivesse se tornado realidade.
AYSHA: Não diga isso, pai. Eu estou bem, apenas queria poupar o senhor dos meus problemas. Eu lhe conheço, sei que pegaria o primeiro ônibus pra Curitiba se eu tivesse te contado antes.
PAULO (Irritado): Mas é esse meu papel, Aysha. Eu devo proteger e cuidar de você, minha filha. Foi aquilo que eu prometi à sua mãe antes dela falecer. Mas... Eu falhei, porque eu não consegui te proteger.
▪︎ A voz embargada de Paulo deixa notório o sentimento pelo qual ele tentará esconder. Aysha se levanta e vai até o pai, onde ela o abraça emocionada.
AYSHA (Lacrimejando): Para, pai. Por favor, não se culpe pelo que aconteceu comigo, até porque o senhor dedicou toda sua vida para cuidar de mim. Confesso que tamanha proteção sempre me incomodou, mas era bom saber que eu podia contar com o senhor apesar de tudo.
PAULO (Preocupado): E por que não recorreu a mim, Aysha? Você foi atropelada e quase violentada, minha filha. Eu precisava, eu tinha o direito de saber!
AYSHA: Eu sei, mas eu... (Chorando) Eu fiquei com vergonha, porque o senhor tinha razão. Sempre fui e serei uma garotinha indefesa, e que esse sonho de morar sozinha não passou de um deslumbre juvenil. Porque isso aqui, pai... Isso aqui está longe de ser um sonho.
▪︎ Aysha abraça Paulo chorando em seu peito, mas ele levanta o rosto da filha.
PAULO (Sério): Pelo contrário, você é mais forte do que eu imaginava. Eu fui egoísta, Aysha. Deveria ter lhe criado pro mundo, mas preferi acreditar na idéia que estava lhe protegendo. E que agora percebo que isso apenas afastou a gente, porque eu nunca foi aquém você quis confiar.
AYSHA (Chorando): Mas dessa vez eu preciso da sua proteção, pai. Eu estou com tanto medo...
PAULO: O que mais aconteceu, querida?
▪︎Por um momento Aysha se cala e pensa seriamente no que dizer. Mas prefere manter-se calada e continuar abraçada no peito do pai.
AYSHA: Deixa, pai... Deixa eu continuar aqui abraçada sentido seu afago e acreditar que o senhor é meu super herói… Por favor!
PAULO (Surpreso): Aysha...
▪︎ Paulo envolve seus braços nas costas de Aysha. Em sua expressão a incerteza e preocupação.
Cena 02 - (Motel/Interior)
BABI (Séria): Perverso... NOJENTO!
▪︎ Babi solta-se de Bruno e o encara friamente.
BABI: Tu é nojento, Bruno. A sua perversidade é corrosiva, e é isso que você quer, não é? Me chafurdar na lama mais podre que é a tua vida! Pensava que você fosse apenas um moleque problemático, e que a sua imaturidade fosse resultado de uma criação ausente. Mas é pior, você... Você é maldoso, você está se afundando no ódio que sente pela própria mãe.
BRUNO: Esse discurso moralista não me causa impacto, Babi. Mas o que me deixa levemente incomodado é como alguém como você consegue se achar acima da justiça da moral.
BABI (Irritada): Não, eu não sou melhor que ninguém. Mas nem por isso eu proponho planos estapafúrdios com o único propósito de ferir alguém!
BRUNO (Sério): Ferir? Pelo visto a sua ignorância se sobressaiu mais que a razão, sua piranha burra. Não nego que me seria prazeroso ver a Blanca sofrendo em saber que seu brinquedinho erótico a trocou por uma belíssima garota, mas você não enxerga essa situação como eu. O Plínio é tudo aquilo que minha mãe tem, e ele pode ser nosso pote de ouro no fim do arco íris.
BABI (Surpresa): Você... Você quer roubar tua própria mãe?
BRUNO: Roubar? Não, apenas tomarei posse do que era do meu PAI por direito. Tudo aquilo pertence a mim, Babi.
▪︎ Babi suspira afastando-se de Bruno, ela fica de costas pra ele coçando sua cabeça.
BRUNO: Eu vejo a ambição no seu olhar, mas essa sua obsessão de ser o paladino da justiça entra em divergência daquilo que você tanto procura. Você não entrou nessa vida por necessidade, mas sim por ser o meio mais fácil de ganhar dinheiro. A sua profissão tem data de validade, Babi. E quando isso acabar só irá lhe restar lavar privadas como sua mãe.
BABI (Nervosa): Eu... Eu preciso ir embora. É muita sujeira pra mim!
▪︎ Ela tenta pegar sua bolsa, mas Bruno a segura fitando seu olhar com o dela.
BRUNO (Sorrindo): A ambição emerge dentro de você, e viver de esquina não se tornará mais uma opção propícia quando ver a cor do dinheiro. A honestidade é pra pobre que gosta de pegar o ônibus lotado às seis da manhã, não pra pessoas como nós.
▪︎ Os olhares expressam seriedade entre ambas as partes, Babi ainda pensativa se afasta lentamente saindo do quarto de motel.
Cena 03 - (Apartamento de Aysha/Interior)
▪︎ A calmaria do ambiente permite que Aysha durma profundamente no colo do pai. Paulo acaricia a cabeça da filha, indagando em sua face preocupação. Ele ouve a porta se abrir, e vê Marcela adentrando.
MARCELA (Surpresa): Seu Paulo? O que faz aqui?
PAULO: Precisamos conversar, Marcela.
Cena 04 - (Bar/Interior)
▪︎ Marcela toma um gole de sua cerveja e Paulo não deixa de esconder sua discrepância.
MARCELA: O senhor nunca gostou de mim, e era engraçado vê-lo suportar minha presença na sua casa.
PAULO: Afinal, eu já pressentia o que iria acontecer. Suas ideias entusiastas fariam inundar a cabeça da Aysha em pontos de interrogações, e foi o que aconteceu, a sua... Libertinagem moveu a Aysha nesse sonho que ela tanto queria.
MARCELA (Rindo): Ou privar tanto sua filha fez com que ela mesma sentisse essa vontade de desbravar o mundo. Eu apenas dei o empurrãozinho inicial.
PAULO (Sério): O assunto não é esse, Marcela. Eu já sei o que aconteceu com a minha filha durantes essas últimas semanas, e sei que esses acontecimentos podem ter contribuído pro estado caótico que ela está. Mas... Eu sinto, sinto que ela está me escondendo algo. E apesar de tudo, eu sei que você gosta da minha filha e deve saber o que está acontecendo.
MARCELA: A minha relação com a Aysha anda conturbada, mas eu também sinto isso. Desde que ela começou a namorar o Bruno...
PAULO (Surpreso): Namorar? A Aysha está namorando?
MARCELA: Bom, ela começou a namorar recentemente e se entregou de corpo e alma em uma relação imatura... E olha que eu não sou a melhor pessoa pra dizer isso. O que estou tentando dizer é que não sei se esse relacionamento está sendo saudável pra ela.
PAULO: Quem é esse homem, Marcela? Eu preciso saber sobre esse rapaz que minha filha está namorando.
DIA SEGUINTE.
Um novo amanhecer chega a capital Paranaense. Do desabrochar das flores, aos pingos de água que caem do céu.
Cena 05 - (Gazeta Curitibana/Interior)
MAURÍLIO (Irritado): Irresponsável... Finalmente essa daí vai conseguir o que tanto quer, um reconhecimento notório em uma matéria baseada de suposições.
▪︎ Diz Maurílio afastando-se da tela do computador.
JHONNY: Isso é raiva ou inveja da Malu ter conseguido se virar sem ajuda da Gazeta?
MAURÍLIO: Eu não entendi seu tom, Jhonny.
JHONNY: O que estou apenas tentando dizer é que quem saiu perdendo foi o jornal, não a Malu.
MAURÍLIO: Cuidado pra você não ser o próximo na fila do seguro desemprego.
▪︎Maurílio se retira entrando na sua sala.
JOÃO: O que é isso, Jhonny? Quer perder o emprego?
JHONNY: Sabe... Eu prefiro, melhor do que compactuar com as regras impostas totalmente ditatoriais desse jornal.
JOÃO: Malu Mendonça só tem uma e você meu amigo, está longe de aguentar as represálias que a nossa querida amiga está passando.
Cena 06 - (Apartamento de Malu/Interior)
▪︎ O olhar amedrontado de Malu se desloca para os dois lados através das grades do portão. Ela o abre receosa, e quando bota os pés pra fora é abordada por um homem.
MALU (Furiosa): Mas o que é isso? Está me seguindo??
BRENO: Calma, Malu. Por que está tão assustada?
MALU: Eu não estou assustada, eu... O que você quer, guri? Já não te falei que não quero ter nenhum tipo de proximidade com você!
BRENO: Eu li seu blog, e confesso que fiquei admirado com a sua coragem e persistência de não ter desistido facilmente. É por isso que peço que me considere um minuto, por favor. Eu quero te ajudar.
MALU: Qual é a sua?? Eu simplesmente não consigo enxergar a verdade em você, porque tudo me lembra sua mãe, a mulher que matou meu pai. Agora cai fora daqui e se voltar aqui novamente eu chamarei a polícia.
▪︎ Malu continua a caminhar quando ouve a voz de Breno.
BRENO: E se eu te dizer que você pode ter uma nova matéria e dessa vez envolvendo a Blanca?
Cena 07 - (Mansão Volpato/Interior)
▪︎ Bruno sentado no sofá mantém seu olhar em um ponto fixo. Ele mexe as pernas freneticamente, enquanto roía a unha.
TANIA: Bruno, querido. Acabaram de interfonar da portaria e disseram que um tal de Paulo quer conversar com você.
BRUNO: Paulo? Mas eu não conheço nenhum Paulo.
TANIA: É, eu estranhei, mas falaram que ele se apresentou como pai da Aysha. E quem diabos é Aysha?
▪︎ A expressão de Bruno muda totalmente entrando uma de incerteza.
BRUNO (Sério): Pai da Aysha... Conceda a permissão dele. Eu preciso saber o que ele quer comigo.
▪︎ Tânia abre a porta para Paulo que entra dentro da Mansão olhando em torno impressionado com o que vê.
BRUNO (Sorrindo): Tânia, por favor, nos faça um café.
▪︎ Tânia assenti a cabeça e se retira. Bruno aproxima-se de Paulo estendendo a mão.
BRUNO: É um prazer conhecer o senhor, seu Paulo. Eu ouvi muitas coisas boas sobre o senhor e sei quão importante é pra Aysha.
PAULO: Engraçado, de você eu ouvi o oposto, de coisas nada agradáveis ao seu respeito.
BRUNO: O que?
PAULO (Sério): Eu quero que suma da vida da minha filha!
(FIM DO CAPÍTULO)
Créditos:
22/06/2022
© GS Literatura